Jihadistas consolidam controle sobre ampla região na Síria e Iraque
Após a queda de Ramadi, no Iraque, os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) tomaram do regime da Síria, na sexta-feira (23) o último posto na fronteira com o Iraque e consolidaram o controle sobre uma ampla região entre os dois países, após a conquista de Palmira, cujos tesouros arqueológicos estão ameaçados.
O EI já controla metade do território da Síria, um país que é cenário de uma guerra civil há quatro anos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
Em oito dias, o grupo conseguiu conquistar Ramadi, capital da província iraquiana de Al-Anbar, Palmira, no deserto sírio, e o posto de fronteira de Al-Tanaf, ao sul, após a retirada das forças do regime.
Assim, o regime de Bashar al-Assad perdeu o controle das três passagens de fronteira com o Iraque, já que o posto de Bukamal também está sob controle do EI e o de Al-Yaarubia, mais ao norte, é dominado pelas forças curdas.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas expressou sua profunda preocupação com os milhares de civis retidos em Palmira após a entrada do Estado Islâmico.
Os 15 membros do Conselho emitiram uma declaração, aprovada por consenso, exortando à abertura de um corredor seguro para os civis que fogem e manifestando sua "grande preocupação" com a proteção da cidade, Patrimônio da Humanidade.
Apesar da campanha aérea iniciada em 2014 pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos no Iraque e na Síria, da qual participa a Arábia Saudita, o grupo extremista sunita avança e amplia seu 'califado', declarado em junho do ano passado nas zonas sob seu controle em ambos países.
Nesta sexta-feira, os jihadistas reivindicaram pela primeira vez um atentado suicida no reino sunita, concretamente contra uma mesquita xiita em Kudehi (leste). O ataque deixou 21 mortos e 81 feridos, segundo o ministro da Saúde, citado pela agência oficial saudita.
"O fato do EI controlar metade do território sírio (mais de 95.000 km2), significa que o regime sírio não domina mais que 22% deste território", pois o restante está nas mãos de outros grupos rebeldes, afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman. A oposição síria no exílio concordou em que o regime controla "menos de um quarto" do país.
De acordo com Rahman, isto permitirá ao EI "ameaçar a Síria profunda, como Homs e Damasco", dois redutos do regime.
Palmira, ponto de convergência de várias estradas e situada na província de Homs, na fronteira com o Iraque, "pode ser utilizada para o lançamento de ataques em direção a Homs e Damasco", afirmou Matthew Henman, diretor do IHS Jane's Terrorism and Insurgency Centre.
Além disso, Palmira "constitui uma nova via para o Iraque, Al-Anbar e Ramadi", segundo o geógrafo e especialista em Síria Fabrice Balanche.
Temor pelas ruínas de Palmira
Depois que o EI destruiu vários tesouros arqueológicos no Iraque, a comunidade internacional teme que o mesmo aconteça com Palmira, uma cidade de mais de 2.000 anos, famosa por sus colunas romanas, seus templos e torres funerárias.
A Liga Árabe se mostrou preocupada nesta sexta-feira pela "grave ameaça" que pesa sobre "um dos locais mais importantes do patrimônio mundial".
A Unesco pediu à ONU que proteja a cidade e advertiu que qualquer destruição de Palmira seria uma enorme perda para o mundo.
Um vídeo publicado no Youtube por um canal ligado ao EI mostra a entrada de Tadmor (nome árabe de Palmira) com um longo caminho deserto, posições do exército abandonadas e uma bandeira do Estado Islâmico hasteada em um edifício.
Desde o início em 13 de maio, a batalha de Palmira deixou quase 500 mortos e obrigou uma parte dos moradores a fugir, enquanto dezenas de civis foram fuzilados ou decapitados pelo EI, de acordo com o OSDH.
Além desta região, o EI controla a maior parte das províncias de Deir Ezor e Raqa (norte) e tem uma forte presença nas províncias de Hasake (nordeste), Aleppo (norte), Homs e Hama (centro).
Também controla praticamente todos os campos de petróleo e gás da Síria, que representam um faturamento importante.
Na quinta-feira, homens armados sequestraram o padre Jacques Mourad, sacerdote da Igreja Síria de Homs, ao lado de um colaborador, informou a Obra do Oriente, uma associação francesa de ajuda aos cristãos do Oriente Médio.
Outro cristão originário de Aleppo, que estava com ele para ajudá-lo, também foi sequestrado em uma região a que estavam se aproximando os jihadistas do EI.
Do outro lado da fronteira, o EI assumiu o controle de postos do governo ao leste de Ramadi, enquanto a contraofensiva das forças de segurança, auxiliadas por milícias xiitas, demora a chegar.
A perda de Ramadi significa um duro revés para o governo iraquiano e seu aliado Washington, que reconheceu que precisa reexaminar a estratégia para o Iraque.
A ONU informou nesta sexta-feira que pelo menos 55 mil pessoas fugiram desta cidade desde meados de maio.
No campo diplomático, o presidente francês, François Hollande, disse ser partidário de novas negociações em Genebra para tentar chegar a uma "solução política" na Síria.
Receba notícias do UOL. É grátis!
Veja também
- Homem que queria cometer ataque 'no estilo 11 de setembro' é preso nos EUA
- Hamas contesta alegação de rapto e afirma que saída de mulher yazidi de Gaza foi voluntária
- Polícia da Alemanha se preocupa com possíveis atos terroristas na Eurocopa
- Porta-voz do Estado Islâmico elogia ataque contra casa de shows na Rússia