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Greenwald elogia 'indignação' do governo do Brasil; parceiro cobra Dilma

21/08/2013 05h56

O jornalista americano Glenn Greenwald, que revelou informações vazadas pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, elogiou a indignação do governo do Brasil no episódio da detenção de seu parceiro, o brasileiro David Miranda, no aeroporto de Heathrow em Londres no domingo passado.

No entanto, o próprio Miranda cobrou uma reação da presidente Dilma Rousseff em relação ao caso.

Miranda e Greenwald conversaram com a BBC Brasil na noite de terça-feira (20) no Rio de Janeiro.

"Eu acho que o governo brasileiro lidou com a situação de forma maravilhosa", disse o americano à repórter Júlia Carneiro Dias.

"Desde o primeiro minuto em que comecei a ligar para autoridades brasileiras para explicar o que havia acontecido com o David, o cidadão deles, eles estavam indignados. Genuinamente indignados, e não apenas fingindo indignação por motivos diplomáticos."

Evo Morales

O governo brasileiro está cobrando respostas das autoridades diplomáticas britânicas sobre a detenção de Miranda. O parceiro de Greenwald foi detido com base em uma lei antiterrorismo e questionado por nove horas pela polícia britânica - e teve todo seu material eletrônico apreendido.

Greenwald e o jornal The Guardian, para o qual o americano trabalha, acusam as autoridades britânicas de usar a lei antiterrorismo apenas para intimidar um familiar de um jornalista que investiga escândalos de inteligência.

Já o governo britânico se defende, dizendo que tinha motivos suficientes para deter Miranda, já que ele portava material "sensível" e "roubado".

Greenwald disse que o governo brasileiro foi bastante duro nas suas cobranças - públicas e privadas - em relação ao governo britânico, e que o Brasil já havia se comportado desta forma em episódios passados.

"Eu acho que o mesmo aconteceu quando os Estados Unidos e seus aliados europeus impediram o avião do [presidente boliviano] Evo Morales de voltar para casa", afirmou.

"Isso tem todo o ranço de atitude colonialista e imperialista da qual as pessoas no Brasil e na América Latina se ressentem. Isso é um grande componente de como as pessoas reagiram a isso tudo aqui [no Brasil]."

Miranda, no entanto, cobrou uma reposta da presidente brasileira sobre o episódio.

"Eu gostaria de perguntar o que Dilma pensa sobre isso porque eu não ouvi nenhuma reação dela sobre isso. Eu estou esperando por mais respostas. Se houver pressão internacional sobre ela, eu quero saber o que ela vai dizer."

Miranda também revelou detalhes sobre a sua detenção. Ele disse que foi forçado a revelar senhas pessoais suas de e-mail e redes sociais. Segundo o brasileiro, a polícia britânica disse que ele seria preso caso se recusasse a fornecer as senhas.

Ele disse que, ao expor dados pessoais, se sentiu como se estivesse "nu diante de uma multidão".