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Artista usa venda de pinturas para ajudar a proteger floresta brasileira

NICK ILOTT
Imagem: NICK ILOTT

Da BBC

27/12/2019 16h34

Jelly Green, de 27 anos, diz que decidiu tomar uma atitude depois de ver os efeitos "profundamente alarmantes" do desmatamento.

Uma artista britânica que viu os efeitos "devastadores" do desmatamento usou dinheiro arrecadado com suas pinturas para ajudar a proteger a floresta tropical brasileira.

Jelly Green, de 27 anos, passou dois meses na América do Sul em meio ao habitat "exuberante".

No entanto, depois de ver vastas extensões de terra desmatada, ela começou a pintar a destruição.

A artista disse que a doação de 9 mil libras (aproximadamente R$ 47 mil) para comprar terras no Estado do Rio de Janeiro era "minúsculo se olhado em grande escala, mas é o que eu poderia fazer".

JELLY GREEN - JELLY GREEN - JELLY GREEN
Imagem: JELLY GREEN

Aluna da pintora e escultora britânica Maggi Hambling, a artista nasceu em Ipswich, na Inglaterra, e desenvolveu um fascínio pelas florestas tropicais depois de se mudar para a Austrália, quando ainda era criança.

Mais tarde, quando voltou ao Reino Unido, pesquisou na internet escolas de arte que a colocariam de volta em contato com a natureza.

Essa experiência acabou sendo em uma casa na árvore sem eletricidade, situada em uma floresta tropical no Brasil. A vila mais próxima ficava a 18 km.

"Não havia wi-fi, nem distrações, ninguém com quem conversar", disse ela.

JELLY GREEN - JELLY GREEN - JELLY GREEN
Imagem: JELLY GREEN

O visual da floresta proporcionou a inspiração perfeita para pintar imagens em aquarela de uma ampla gama de flora e fauna.

"Fiquei impressionada com o mistério e a beleza do lugar", disse ela.

Mas foi o resultado do desmatamento no Brasil e que ela viu também nas visitas ao Sri Lanka e à Nova Zelândia que tiveram um impacto duradouro.

"Lembro-me de dirigir por essas plantações de palmeiras e que levava literalmente sete horas para atravessá-las. Não tenho ideia de quantas centenas de quilômetros são, mas é aterrorizante e muito real".

Em Bornéu, ela viu orangotangos selvagens, macacos, elefantes nas margens.

"Ingenuamente achei que aquilo era fantástico", disse ela. "Até que o guia local explicou que isso ocorria devido às invasões das plantações de palmeiras que levavam os animais à beira da água".

"Não havia literalmente outro lugar para eles irem".

A artista disse que ficou "obcecada" com o assunto.

"Eu nunca vi um incêndio florestal", disse ela. "Mas comecei a me concentrar no desmatamento. É muito mais desolador do que aquilo que me propus a fazer, mas você não pode fugir disso".

"Saber agora como é tudo tão frágil e tão ameaçado é profundamente alarmante e muito assustador".

A terra comprada com os lucros de sua exposição em Londres, em que todas as obras foram vendidas, ficará sob os cuidados da Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), uma ONG brasileira que tem como missão a conservação da alta bacia do Rio Guapiaçu, no Sudeste, e que diz ter plantado nos últimos 20 anos mais de 500 mil árvores.

A ONG disse que a generosa doação de Green havia sido usada para comprar terras agrícolas que agora seriam preservadas como floresta tropical.

"Espero que a área permaneça intocada e ilesa, e que possa continuar a fornecer um lar para a vida selvagem e as árvores que vivem nele", disse a artista.

Green está de volta ao Reino Unido e continua a pintar, mas planeja viajar novamente em breve para "documentar a devastação que está acontecendo".

"Sinto que devo passar um tempo em áreas que foram queimadas", disse ela. "Sempre fui apaixonada pelo meio ambiente e isso é a pequena coisa que posso fazer. Os governos do mundo precisam lidar com isso agora. Esta é uma questão global e não local".

A artista Maggi Hambling ensina Jelly Green desde a adolescência - NICK ILOTT - NICK ILOTT
Imagem: NICK ILOTT