Opositor Capriles ironiza herdeiro de Chávez na Venezuela
Enfrentando uma difícil batalha na eleição da Venezuela, o líder da oposição Henrique Capriles zombou do presidente interino e seu rival, Nicolás Maduro, classificando-o como "um ninguém" que está pegando carona na memória de Hugo Chávez para esconder sua própria incompetência.
Em entrevista em seu ônibus de campanha na terça-feira (19), Capriles também acusou o herdeiro político escolhido por Chávez de tentar distrair os eleitores dos verdadeiros problemas com acusações selvagens, incluindo um plano norte-americano para matar o candidato da oposição.
"Nicolás não chega ao tornozelo do presidente Chávez", disse Capriles à Reuters, comparando seu embate na eleição do próximo dia 14 de abril com a eleição presidencial do ano passado contra Chávez.
"A maior fraqueza de Nicolás é que parece que ele nem existe, que a campanha é só a imagem do presidente (Chávez) ... Nicolás não está à altura."
Com as emoções pela morte de Chávez por câncer neste mês tomando partidários do governo, o ex-motorista de ônibus e ferrenho socialista de longa data é o favorito para ganhar a liderança da nação sul-americana no próximo mês.
Capriles, de 40 anos, está determinado a impedir isto, tanto atacando a capacidade pessoal de Maduro, como destacando o grande número de problemas arraigados que irritam os venezuelanos, que vão desde buracos em estradas e insegurança até cortes de energia e corrupção.
O governador do Estado de Miranda, um político centrista que admira a economia de livre mercado com fortes políticas de bem-estar social do Brasil, perdeu para Chávez no ano passado por 11 pontos percentuais.
Nostalgia de Chávez
Embora tenha sido derrotado naquela época, o resultado foi o mais forte contra Chávez durante o governo de 14 anos do falecido presidente socialista.
"Eu estava lutando boxe contra Cassius Clay! Agora estou enfrentando um outro boxeador, é um jogo diferente", disse Capriles, mudando a camisa encharcada de suor, conforme seu ônibus passava pela multidão, depois de um turbulento comício, no sul de Ciudad Bolívar.
"Gostaria de voltar a enfrentar o mesmo atleta. Infelizmente, por decisão de Deus, o presidente morreu."
Maduro e outros funcionários do governo acusam Capriles de desonrar a memória de Chávez e ofender sua família, com acusações de que eles mentiram sobre os detalhes de seus últimos dias.
Um importante estrategista da equipe de Maduro previu nesta semana que partidários de Chávez irão punir Capriles por suas farpas contra o governo e que a eleição no próximo mês provavelmente irá acabar em uma vitória ainda maior para os socialistas do que no ano passado.
Questionado sobre a acusação de Maduro de que dois ex-funcionários dos Estados Unidos conspiraram para assassinar Capriles, o líder da oposição primeiro elencou a lista de problemas que os venezuelanos enfrentam, desde crimes violentos e falta de produtos até o aumento dos preços e estradas mal conservadas.
"Nicolás tem 100 dias de governo. Foram os piores 100 dias desses 14 anos", afirmou Capriles, insistindo em desqualificar seu rival, chamando-o sempre por seu primeiro nome.
"Maduro quer falar disso? De um complô. Quer falemos sobre (a ex-funcionário norte-americano Otto) Reich, de todas essas coisas. Ele não quer que falemos sobre o que é mais importante nas ruas. É por isso que eu não dou atenção. São cortinas de fumaça."
Capriles disse que Maduro, que agora se descreve como um "apóstolo" de Chávez e que frequentemente discursa para a nação ao lado de imagens de seu falecido chefe, fazia parte de um grupo desacreditado, que mesmo os eleitores "chavistas" puniriam no pleito presidencial.
Os seguidores raramente responsabilizam Chávez pessoalmente por seus problemas diários, culpando muitas vezes funcionários em cargos de alto escalão do governo.
"Para os seguidores do presidente, os ministros que eram os corruptos, ineficientes e incompetentes que fizeram todos os danos. Bem, esse é o grupo que quer governar", acrescentou Capriles, na primeira entrevista de sua campanha a um veículo da imprensa estrangeira.
Luta difícil
Duas pesquisas de opinião publicadas nesta semana deram a Maduro uma vantagem de mais de 14 pontos percentuais.
A maioria dos analistas acredita que Capriles enfrenta uma tarefa quase impossível de ganhar, especialmente devido aos recursos muito maiores do Estado para a campanha, a popularidade dos diversos programas de assistência social, além do elevado número de "chavistas" na maioria das instituições estaduais.
"As condições eleitorais, os abusos, são piores do que antes", disse Capriles, acusando Maduro de agir de forma inconstitucional ao não deixar o cargo de presidente interino enquanto faz campanhas.
"Nossa luta é mais difícil, porém mais heroica, mais desafiadora ... É uma batalha inclusive divina, espiritual. Creio que Deus nos deu uma oportunidade para que o país se una", contou Capriles, um católico devoto que sempre usa um crucifixo.
Se ganhar, Capriles promete reverter gradualmente as medidas econômicas socialistas da era Chávez, incluindo controles cambiais e nacionalizações que intimidaram o setor privado.
"Se eu ganhar, eu tenho certeza que o perfil da dívida da Venezuela vai melhorar muito. O endividamento será muito menos oneroso. Tenho que recuperar a economia, gerar confiança", disse.