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Bloco de maracatu leva Pernambuco para o Rio em ensaio para Carnaval

Lola Ferreira

Colaboração para o UOL, no Rio

13/01/2019 21h28

Um pedacinho de Pernambuco no Rio. É assim que percussionistas, dançarinos e espectadores definem o Tambores de Olokun, um dos blocos mais tradicionais do Rio de Janeiro. O grupo tem como inspiração e referências o maracatu, uma das principais manifestações culturais do Estado nordestino. Neste domingo (13) o Olokun fez seu primeiro ensaio aberto ao público no Aterro do Flamengo, na região sul da cidade.

Por ser em homenagem ao Senhor dos Mares, Olokun, na cultura africana, as fantasias e instrumentos do bloco são adornados em tons de azul. E mesmo debaixo de sol forte, além dos percussionistas há a ala de dança do grupo. Com longas saias coloridas, mulheres e homens rodam ao som dos baques em chão de terra, fazendo a poeira subir. Rafael Saar, de 34 anos, é um dos dançarinos do bloco. Ele conta que sua relação com o grupo começou tímida, com ele dançando em um canto, até tomar coragem e integrar oficialmente a ala de dança. Sobre ser um homem "de saia" dançando em um grupo majoritariamente feminino, ele não vê nenhum problema.

"A gente vive diariamente a intolerância. Tudo que é diferente vive uma luta diária, e acho que o bloco tem essa pretensão de ocupar o espaço público e mostrar a beleza da diversidade", afirma.

Alexandre Garnizé, de 47 anos, é o idealizador e a mente à frente do Olokun. Ele também frisou sobre a diversidade e, principalmente, o respeito dentro do grupo.

"A gente é um bloco composto por maioria de pessoas brancas, mas que acima de tudo tem respeito com a tradição, com a religiosidade, com a religião e com os outros".

A religião citada por Garnizé é o candomblé, que marca toda a apresentação do grupo. Cantos, música e ritmos que se ouvem também em cultos religiosos são destaque. Candomblecista, o músico destaca que a ligação com a religião é evidente e muito respeitosa.

"Eu mantenho toda a ligação com a religião. Não tem como dissociar, não dá para fugir. A gente junta tudo e se dá essa aglomeração de pessoas diferentes. Aqui tem de tudo mas com muito respeito", afirma o historiador.

Pessoas diferentes e de todas as idades. O integrante mais novo é Pedro Henrique, de 9 anos. Junto com ele, sua mãe Vânia Carvalho e a irmã Pâmela também dançam o maracatu com saias rodadas. Pedro conta que quando dança se sente bem, e Vânia entrega que depois do segundo Carnaval, o menino também irá fazer aulas de balé clássico.

Vânia explica que ela mesma não teve como fugir do batuque do maracatu. "O Olokun mexe com o coração da gente, eu sou apaixonada. O coração bate no mesmo compasso do tambor", diz.

A paixão também arrebatou Nyandra Fernandes, de 23 anos. Vivendo seu terceiro Carnaval no Olokun, e também candomblecista, ela ressalta a representatividade do grupo em pleno Rio de Janeiro. Nyandra é uma das responsáveis pela homenagem à calunga, tradição do maracatu original pernambucano e ação fundamental para a existência da manifestação cultural por lá. 

Além da preparação para o desfile no Carnaval, o bloco também tem em seu calendário uma apresentação em homenagem à Iemanjá e uma louvação na Igreja do Rosário dos Homens Pretos. Para Garnizé, "a ideia é manter a tradição viva sem perder a raiz pernambucana".

Em participação especial no microfone, a cantora pernambucana Doralyce exaltou a existência do bloco. "O maracatu aqui dialoga com outras linguagens, mas o jeito de tocar tambor é original. É interessante a ressignificação da cultura", afirma. Dona do hit "Miss Beleza Universal", a pernambucana agitou os presentes ao dar uma palhinha do sucesso que faz uma crítica ao padrão de beleza feminino.

Mesmo com forte calor no Rio, o ensaio do Olokun foi prestigiado por centenas cariocas e turistas de todas as idades, do meio da tarde até as 20h30. O grupo não divulgou estimativa oficial de público. Até o Carnaval, o bloco realiza semanalmente os ensaios da "embaixada pernambucana no Rio", como orgulhosamente define Garnizé.

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