Emendas de filho para pai unem Lira e seu provável sucessor
Assim como o atual, o próximo presidente da Câmara dos Deputados também mandou emenda parlamentar milionária para a prefeitura comandada pelo pai dele. Privilegiar o próprio clã familiar com recursos públicos é exemplar de como o aumento da fatia do Legislativo no orçamento federal tem sido usado para fortalecer as oligarquias políticas. Sinal de que nomes mudam, mas não as práticas de consolidação do poder usando o seu, o meu, o nosso.
Hugo Motta (Republicanos-PB) virou favorito a ocupar o segundo cargo mais importante da Praça dos Três Poderes depois que Arthur Lira (PP-AL) trocou de candidato. Lira abandonou a candidatura de Elmar Nascimento (União-BA) ao perceber um risco crescente de não conseguir eleger o sucessor. Articulou apoio a Motta, mas só nos bastidores, por ora.
Deputado federal mais jovem do país, Hugo Motta chegou a Brasília em 2011, com apenas 21 anos. Sua primeira campanha foi financiada pela família. Nas três seguintes, o valor gasto por voto se multiplicou e os financiadores se diversificaram. Motta conheceu Lira, que chegara à Câmara na mesma eleição, e ficaram amigos. Tinham motivos para se identificar: ambos são boiadeiros, herdeiros do poder e gratos aos genitores.
A mais vultosa emenda ao orçamento assinada por Motta em 2024 foi para o município de Patos. Com pouco mais de 100 mil habitantes, a cidade é comandada por Nabor Wanderley, pai de Motta. Foram R$ 1,5 milhão para o sistema de saúde local. Nabor é candidato à reeleição. Não é o único prefeito pai de deputado agradecido e que está tentando permanecer no cargo.
Hugo Motta não é o único candidato a presidente da Câmara que mandou emedas "filho-pra-pai". Emendas do antigo orçamento secreto, aquele que foi vetado pelo Supremo Tribunal Federal, pavimentaram uma estrada na Bahia que leva à fazenda do pai do deputado Elmar Nascimento (União Brasil - BA) em Campo Formoso - segundo reportagem de Natália Portinari, no UOL.
Aos 82 anos, 58 dos quais vividos na política, Benedito de Lira aparecerá na urna eletrônica em Barra de São Miguel, no litoral sul de Alagoas. Para tentar se reeleger prefeito, contou com a ajuda do filho Arthur, que lhe enviou emendas federais para construir um mirante e um "terminal lagunar" (que ninguém na cidade sabe onde fica, nem ele próprio).
Por essas e outras, o Supremo Tribunal Federal sustou o envio de emendas orçamentárias até que governo e Congresso cheguem a um acordo para mudar as regras para o uso de emendas.
Relatório da Controladoria-Geral da União encomendado pelo tribunal constatou que a "crescente pulverização dos beneficiários das emendas" e a "realocação de recursos de programas prioritários para atendimento a essas emendas" comprometem a eficiência orçamentária: tira verbas de quem mais precisa e favorece quem tem conexões político-familiares.
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