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Lira cede na sucessão para acomodar Lula e Bolsonaro

A entrada de Hugo Motta (Republicanos), um deputado de 34 anos da Paraíba, na disputa pela presidência da Câmara, é fruto de uma acomodação de interesses de forças políticas adversárias no país.

Saem contemplados dessa costura, caso ela dê certo, o presidente Lula (PT), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o deputado Marcos Pereira (presidente do Republicanos), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Saem contrariados: o presidente do PSD, Gilberto Kassab, seu candidato a presidente da Câmara, Antonio Brito (PSD-BA), e o deputado Elmar Nascimento (União-BA), que até a semana passada contava com apoio de Lira para sucedê-lo, mas foi preterido. Brito e Nascimento não descartam fazer uma composição e disputar a presidência da Câmara unidos contra Hugo Motta em fevereiro de 2025.

A análise está no episódio desta semana do podcast A Hora, do UOL, apresentado por José Roberto de Toledo e Thais Bilenky.

A entrada de Motta é resultado de uma articulação de Lira e o presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira. Dias atrás, eles mandaram um emissário dizer a Marcos Pereira que, caso ele cedesse sua candidatura a Hugo Motta, fariam Nascimento desistir.

Pereira recusou a oferta, e Lira mandou dizer que então anunciaria seu apoio a Nascimento, um aliado de primeira hora e amigo pessoal. Pereira, então, repensou a estratégia. Decidiu lançar Motta em seu lugar. Era uma forma de garantir o comando da Câmara, se não a ele próprio, ao Republicanos, um partido com 44 dos 513 deputados. Pediu que Lira adiasse o anúncio de Elmar e foi trabalhar.

Os principais personagens dessa crônica viraram a noite de segunda para terça-feira entre vai e vem, telefonemas e mensagens até 5h da manhã.

Pereira desembarcou em Brasília e foi se encontrar com o presidente Lula. Comunicou a decisão e se colocou como fiador de Motta. Lula chamou Kassab para uma conversa. Queria que o PSD retirasse a candidatura de Antonio Brito para apoiar Motta. Kassab disse não ao presidente da República e também ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do mesmo partido, Republicanos, de Motta e Pereira.

O argumento de Kassab é que a pressa em resolver a questão é de Lira, que quer ter controle sobre a própria sucessão. Mas, como a eleição da Mesa Diretora só ocorre em fevereiro de 2025, o PSD deixaria a disputa correr ainda alguns meses.

No PSD, até segunda-feira, cogitava-se uma união entre Brito e Pereira e o MDB contra Elmar Nascimento, mas a possibilidade ruiu com a troca por Hugo Motta.

O PL, maior bancada da Câmara com 92 assentos, em tese apoiaria Nascimento no desenho anterior, mas a bancada tem diversos dissidentes antipáticos ao nome do União Brasil. Ao mesmo tempo, Bolsonaro tinha resistências a Pereira. Por isso, parte da bancada tendia a votar em Brito, do PSD.

Com a reviravolta, Motta procura costurar apoio com Bolsonaro para ganhar os votos dos deputados do PL. Ao mesmo tempo, com a costura feita com Lula e o ministro do Republicanos no governo, Silvio Costa Filho (Portos), o deputado terá relação azeitada com a gestão petista.

Lira, como articulador da candidatura, terá influência sobre Motta, de quem é amigo pessoal --assim como Ciro Nogueira. Não se espera em seu entorno que seja uma ascendência total como seria se Nascimento o sucedesse, mas o acesso permanece.
(Ciro Nogueira, ex-ministro da Casa Civil, consolidou-se como um dos principais aliados de Bolsonaro.)

Conclusão: se não saem propriamente vitoriosos, tampouco saem derrotados os principais líderes políticos nacionais: Lula, Lira e Bolsonaro estão contemplados com a solução de lançar Hugo Motta. Marcos Pereira evitou uma derrota quase certa ao fazer uma aposta numa vitória relativa.

Isso tudo, claro, se não houver nova reviravolta. Com tantos meses ainda pela frente até a eleição, outras novidades podem surgir.
Mas, se Hugo Motta conseguir atravessar essa temporada e se eleger presidente da Câmara, aos 35 anos de idade, será a renovação dos herdeiros de Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara que tinha no seu apogeu em 2015 e 2016 os deputados Arthur Lira e Hugo Motta entre os principais aliados.

Escute a íntegra do podcast A Hora

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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