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Marçal caiu da cadeira antes da cadeirada, mas ajudou Nunes

O Datafolha já tinha mostrado na semana passada e reforçou a constatação com a pesquisa divulgada nesta quinta-feira: Pablo Marçal (PRTB) caiu na intenção de voto e cresceu na rejeição. Sua viabilidade eleitoral é decrescente. Não, não foi a cadeirada. Ele já havia caído da cadeira e por sua própria culpa pelo menos uma semana antes de ter sido agredido durante um debate com outros candidatos a prefeito de São Paulo.

A direita brasileira não é solidária nem na cadeirada. Marçal ficou se lamuriando sozinho na ambulância que foi buscá-lo no estúdio da TV Cultura, onde havia sido golpeado com uma banqueta de metal após provocar o candidato do PSDB, José Luiz Datena.

Quase ninguém do mundo político se solidarizou com o Marçal. O também influencer Nikolas Ferreira (PL) foi o autor do post de maior engajamento sobre o tema. Limitou-se a lacrar, dizendo, em tom jocoso: "Datena vai aparecer no Datena". Nada sobre Marçal.

Marçal foi vítima do próprio veneno. Havia semanas, ele vinha desmoralizando os debates e tratando o processo eleitoral como um espetáculo de stand-up de baixa qualidade. Quando suas provocações finalmente levaram Datena às vias de fato (ele chamou-o, dissimuladamente, de estuprador), a agressão física não gerou indignação, compaixão. Virou piada, chacota, gozação.

Marçal consolida-se, assim, como um mosquito político: incomoda muita gente, impede o eleitor de se concentrar no que importa, rouba atenção e ainda transmite vírus (via redes). Mas sua influência é um surto: teve um pico de contágio e logo refluiu.

O mosquito ajudou Ricardo Nunes (MDB), porém. Monopolizou as atenções e evitou que o prefeito se tornasse o alvo de todos os seus adversários - como haveria de ser se Marçal não existisse.

Pouco se falou das denúncias de corrupção sobre a gestão de Nunes na Prefeitura de São Paulo. Muito se falou do boné, do "fazer o M", e das barbaridades e baixarias do mosquito.

A eleição em São Paulo é, como sempre foi, sobre os problemas do eleitor e sua relação com quem administra a cidade. É entre quem quer mudança ou continuidade. Tem pouco ou nada a ver com polarização, federalização ou quaisquer outros "ão".

Basta ver o Datafolha:

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  • Boulos lidera entre pretos, empata com Nunes entre brancos e perde feio entre pardos;
  • Boulos lidera entre mais ricos, empata entre remediados e perde feio para Nunes entre mais pobres;
  • Boulos e Nunes empatam entre as mulheres.

Não é raça, não é renda, não é gênero, é mudança x continuidade:

  • Nunes tem 61% entre quem avalia sua gestão como ótima/boa e 1% entre quem a considera ruim/péssima;
  • Boulos tem 9% e 50%, respectivamente.

Marçal, Datena e cadeirada foram só distrações. Nunes agradece (ou deveria).

Escute a íntegra do podcast A Hora

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