Prontuário de falsidades de Marçal ameaça sistemas eleitoral e partidário
O prontuário médico que Pablo Marçal divulgou sobre Guilherme Boulos às vésperas da eleição de prefeito em São Paulo é falso, mas não só. É um prontuário de falsidades:
- O RG atribuído a Boulos no prontuário é falso.
- A assinatura do médico no prontuário é falsa.
- O médico, que morreu em 2022, não trabalhava em São Paulo, segundo suas filhas.
- Boulos estava em outro lugar na data do prontuário. Logo, seu atendimento na clínica é falso.
- O diploma de medicina do dono da clínica é falso.
Tão flagrantes são as falsificações, que a manobra de Marçal se tornou objeto de três investigações simultâneas: da Polícia Federal, da Polícia Civil e do Ministério Público paulista.
Se indiciado, julgado e condenado, Marçal corre o risco de voltar à cadeia. A pena por criar documento falso ou falsificar um já existente com fins eleitorais é de até cinco anos de prisão, mais multa. Se for condenado "apenas" pela divulgação de documento falso, a pena é bem mais branda: dois meses. Mas, seja qual for o artigo da eventual condenação, ele ficará inelegível por oito anos. Só voltaria a disputar eleições em 2032.
Mesmo diante dessa fraude escandalosa, é possível que a eleição paulistana não termine com a apuração dos votos, nem com a diplomação dos eleitos em 18 de dezembro e nem mesmo com a posse do prefeito em 1º de janeiro de 2025. Tudo depende da velocidade da primeira instância e dos tribunais eleitorais, TRE e TSE.
Se Marçal vencer e a Justiça eleitoral mantiver seu ritmo, ele pode vir a ser condenado e cassado só depois de ter sido consagrado por todos os ritos eleitorais: declaração, diplomação e posse. Salvo Alexandre de Moraes tomar as rédeas do processo e cassar a candidatura de Marçal pelo uso sistemático do X para fazer campanha eleitoral a despeito da proibição do Supremo Tribunal Federal ao uso da plataforma no Brasil.
Além da reputação da justiça eleitoral, estão em jogo também o sistema eleitoral e o sistema partidário. Os dois são pilares do sistema democrático. Se caírem, a democracia cai junto.
As bem-sucedidas chicanas de Marçal começaram por minar os partidos. Ele alugou o PRTB da família de seu falecido proprietário, Levy Fidélix (aquele que se projetou como candidato de uma ideia só: o aerotrem). Até aí, Marçal seguiu roteiro inaugurado por Jair Bolsonaro em 2018, que alugou o PSL. Mas foi além.
Marçal demonstrou na eleição paulistana de 2024 que os mecanismos elaborados pelo Congresso para restringir o estrago das legendas de aluguel não são tão eficazes quanto os magos do Arenão imaginavam.
Mesmo com verbas irrisórias dos fundos eleitoral e partidário, e sem tempo de propaganda eleitoral "gratuita" no rádio e na TV, Marçal viabilizou sua candidatura a prefeito. Se ele conseguir se eleger sem eles, por que o país deve gastar bilhões de reais com tais fundos e ainda comprar horário das emissoras?
Como Marçal conseguiu essa façanha? Manipulando todas as susceptibilidades das plataformas digitais. Ele compra engajamento nas redes (anti)sociais e não presta contas à Justiça eleitoral - o que é objeto de outra representação judicial que pode vir a cassar sua candidatura, vale lembrar.
Assim, Marçal dá exemplos claros a outros candidatos de como é possível burlar o sistema partidário, a Justiça eleitoral e se aproveitar da falta de regulamentação das plataformas digitais.
O Arenão de Arthur Lira vai ficar olhando parado seu poder escorrer pelas redes? Ou vai adequar os processos eleitoral e partidário e, de quebra, regulamentar as plataformas?
Escute a íntegra do podcast A Hora
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.
14 comentários
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Claudio Bruel
Temos um povo que já elegeu um rinoceronte, um chimpanzé. Parece ser normal que os paulistanos irão votar em massa nesse tal de Marçal. Horror dos horrores.
Hélio Bella
Tem político que joga, mente e manipula os eleitores e contribuinte o tempo todo, mentiroso contumaz para subir ao topo da pirâmide, faz promessa e não cumpre, utiliza pobres como moeda de troca para compra de votos, distribui bilhões e bilhões e mais bilhões aos pobres para jogos e desvio às Bet"s... querem agora as vésperas da eleição condenar o aspirante à política por uma pequena mentirinha que não custou se quer 100 reais aos cofres públicos e bolso do contribuinte. Onde está a balança equilibrada, considerando também que nos debates deparamos com 80% de mentira elocubrada e generalizada, 20% de ações factíveis e responsáveis e ninguém recriminou ninguém, tampouco a imprensa condenou aqueles que aplicaram maledicência durante toda a campanha eleitoral. Não queiram agora agir como o roto falando do rasgado !
Dorival Santos Scaliante
2032 já tá excelente!!