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Lula esboça reação, Bolsonaro sob pressão, aposentados na mão

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O governo Lula, que vinha embalado por uma agenda positiva de medidas econômicas populares, enfrentou uma reviravolta nos últimos dias após a revelação de um esquema de fraudes no INSS que já foi apelidado pela oposição de "golpe nos aposentados".

O escândalo, que veio à tona após investigação conduzida por órgãos do próprio governo federal, permitiu que opositores dominassem a narrativa nas redes sociais, conforme aponta levantamento realizado pela empresa Palver.

O tema é um dos destaques do episódio desta semana do A Hora, podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo, disponível nas principais plataformas. Ouça aqui.

"As nuvens começaram a se formar quarta-feira de manhã. Imediatamente as redes antissociais da direita, bolsonaristas, mas não apenas as bolsonaristas, tomaram conta da narrativa e o governo perdeu o comando da história", aponta José Roberto de Toledo.

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Centrão acena para Lula e põe pressão em Bolsonaro

Thais Bilenky e José Roberto de Toledo

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Imagem: Fotos Adriano Machado - Reuters

Em uma reviravolta política que reflete a natureza mutável do cenário político brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem intensificado sua aproximação com líderes do Congresso Nacional, enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro enfrenta crescentes desafios políticos e judiciais.

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"O Lula vem fazendo semana após semana um movimento explícito de aproximação do Congresso, de líderes do Congresso", explica Thais Bilenky.

A movimentação ocorre em meio a uma reconfiguração do chamado "centrão", agora sob nova liderança na Câmara dos Deputados com Hugo Motta (Republicanos), que substitui Arthur Lira (PP) na articulação política com o Planalto.

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O papado subversivo de Francisco

Thais Bilenky e José Roberto de Toledo

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Imagem: Alberto Pizzoli/AFP
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A morte do papa Francisco encerra um período marcado por profundas transformações na estrutura de poder da Igreja Católica. Durante seus 13 anos à frente do Vaticano, Francisco conduziu o que pode ser considerado uma "revolução" na distribuição do poder eclesiástico, democratizando a representação global dentro do colégio cardinalício.

"Dá para dizer, sem exagerar, que ele fez um papado meio subversivo do ponto de vista do poder dentro da igreja", afirma José Roberto de Toledo. Historicamente, a Igreja Católica apresenta uma grave desproporção na representação cardinalícia. "A Igreja até parecia ser democrática, porque tem eleição de papa, mas a representatividade deixa muito a desejar", pontua Toledo.

A Itália sozinha possui 17 cardeais eleitores — aqueles com menos de 80 anos e direito a voto no conclave — o mesmo número que toda a América do Sul, continente com a maior proporção de católicos no mundo. Os Estados Unidos, nação de maioria protestante, contam com dez cardeais eleitores, enquanto o Brasil, maior país católico do mundo, possui apenas sete.

Esta desigualdade tem raízes profundas relacionadas ao poder econômico. "Tem uma forte relação com a grana, com o dinheiro", destaca Toledo. Existe uma forte correlação entre o PIB per capita dos países e o número de sacerdotes. Isso se explica pelo alto custo de formação e manutenção de padres e paróquias. "Custa caro para você formar padres, para formar sacerdotes, custa caro para você manter os sacerdotes", explica o colunista.

Nos Estados Unidos, a relação é de um sacerdote para cada 2.000 fiéis, enquanto no Brasil essa proporção chega a um para 15 mil. De acordo com levantamento do Pew Research, entre 2013 e 2025, Francisco promoveu uma significativa redistribuição do poder cardinalício: a proporção de cardeais europeus caiu de 51% para 40%; na Ásia, o percentual quase dobrou, passando de 10% para 18%; na África Subsaariana, cresceu 50%, indo de 8% para 12%; na América Latina houve leve aumento, de 17% para 18%; já na América do Norte, diminuiu.

Essa redistribuição não apenas democratizou a representação, mas também alinhou o colégio cardinalício com as regiões onde a Igreja Católica experimenta crescimento em números absolutos, principalmente Ásia e África.

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"Ele fez um trabalho de democratização da representação cardinalícia dos eleitores do papa ao longo dessa década", ressalta Toledo.

O próximo conclave, que deve ocorrer nas próximas semanas, revelará se o legado transformador de Francisco terá continuidade. "Saberemos quando a fumaça branca sair, mas também veremos, independentemente da nacionalidade do papa, se ele vai dar segmento a essa subversão do Francisco ou não", comenta Toledo.

Thais Bilenky acrescenta: "Se a política católica seguir a política tradicional, o pêndulo, quando vai para um lado, depois volta para o outro. Não me seria surpreendente se a gente tivesse um novo papa que fosse menos reformista do que foi o Francisco".

O que está em jogo vai além da nacionalidade do próximo pontífice — é a continuidade ou não de uma visão de Igreja mais representativa e menos eurocêntrica, um dos principais legados deste papado que priorizou não apenas os pobres em sua atuação pública, mas também na redistribuição do poder dentro da própria instituição.

Novo Código Civil propõe mais direitos para os mortos

Thais Bilenky e José Roberto de Toledo

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Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

A proposta de reforma do Código Civil Brasileiro, que começou a tramitar no Congresso Nacional, traz importantes inovações no chamado "direito dos mortos", ampliando a autonomia das pessoas mesmo após o falecimento.

O texto, elaborado por uma comissão de juristas presidida pelo ministro Luiz Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça, e apresentado pelo ex-presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, busca atualizar a legislação atual, considerada defasada.

"Embora tenha sido aprovado em 2002, o Código Civil começou a ser elaborado em 1969", explica Thais Bilenky, destacando o argumento da comissão para justificar a atualização. Segundo ela, o texto "simplesmente põe no papel o que os tribunais e as varas já estão aplicando".

Uma das principais mudanças diz respeito à doação de órgãos. "Se o texto for aprovado como está, uma pessoa que tiver registrado a autorização para doação de seus órgãos após a morte terá essa vontade respeitada, independentemente da opinião da família", destaca a colunista.

Atualmente, mesmo que a pessoa tenha manifestado o desejo de ser doadora, se a família se opuser, prevalece a decisão dos familiares. "Morto fala e tem que ser obedecido", resume José Roberto de Toledo sobre a nova proposta. Segundo Bilenky, o ministro Salomão argumenta que "a taxa de transplantes que deixa de ser feita justamente porque a família não concorda com a vontade do falecido é bastante alta", o que acaba sendo um empecilho para os transplantes no país.

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Outra inovação importante refere-se à recusa de tratamento médico. O projeto prevê que, se um paciente estiver plenamente ciente dos riscos e condições de um tratamento ou da sua recusa, e for livre para decidir, a decisão final caberá a ele, não aos médicos. "Ele precisa estar consciente e plenamente informado. Ele precisa ter todas as informações, os riscos", explica Bilenky. Essa proposta foi inspirada em um julgamento do Supremo Tribunal Federal que deu o direito para o paciente recusar uma terapia por não querer. Pela proposta, o paciente poderá recusar internação hospitalar, exames, tratamentos médicos e intervenções cirúrgicas, desde que esteja plenamente capaz de tomar essa decisão.

Toledo observa que a mesma lógica se aplica para situações futuras: "Vamos supor que ele entre em coma, por exemplo, se ele tomar uma decisão que ele mesmo assim não quer, tem que prevalecer a posição do paciente".

Segundo Bilenky, o ministro Salomão afirma que "essas colocações abrem espaço para uma discussão sobre a eutanásia", tema delicado que provavelmente enfrentará resistência no Congresso. "O Congresso tem uma composição bastante diferente em relação à própria comissão. O Congresso é bastante conservador. E aí as bancadas religiosas vão ter um peso grande nessa decisão", explica a colunista do UOL.

O projeto também propõe a criação de um livro de direito digital para regulamentar o universo da internet, incluindo questões como o uso de imagem e voz de pessoas falecidas com inteligência artificial. A colunista cita o caso polêmico da propaganda da Volkswagen que usou deepfake para recriar a imagem e voz da cantora Elis Regina cantando com sua filha, Maria Rita.

Pela proposta, esse tipo de uso seria permitido se "a pessoa retratada deixar autorizado que isso seja feito, ou se os seus herdeiros diretos, cônjuges de filhos, autorizarem", explica a jornalista, acrescentando que seria necessário respeitar algumas balizas, como não distorcer as posições que a pessoa defendia em vida.

Toledo questiona se o inverso também seria possível: "Eu posso deixar por escrito dito que eu não quero que usem a minha imagem depois de morto ou a minha voz?", ao que Bilenky responde afirmativamente. A colunista ressalta o desafio de regular esse tema para pessoas que já faleceram antes da era da inteligência artificial. "Até anteontem não tinha inteligência artificial para criar nada. Então tem toda geração que já morreu submetida a isso", destaca.

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De acordo com Bilenky, Rodrigo Pacheco, está muito otimista quanto à aprovação do projeto, afirmando que o texto proposto pela comissão de juristas sofrerá poucas alterações no Senado. "A tendência, segundo ele, é que passe sem grandes aventuras e emoções", afirmou. Se aprovado no Senado, o projeto seguirá para a Câmara dos Deputados, podendo se tornar lei ainda este ano.

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

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A Hora é o podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube. Na TV, é exibido às 16h. O Canal UOL está disponível na Vivo TV (canal nº 613), Sky (canal nº 88), Oi TV (canal nº 140), TVRO Embratel (canal nº 546), Zapping (canal nº 64) e no UOL Play.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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