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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Clã Bolsonaro avalia radicalização total, mas ala política quer propostas

Jair Bolsonaro discursa durante abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York - Brendan Mcdermid/Reuters
Jair Bolsonaro discursa durante abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York Imagem: Brendan Mcdermid/Reuters

Colunista do UOL

21/09/2022 11h43Atualizada em 21/09/2022 20h24

A desvantagem de Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas levou a campanha do presidente à reeleição a um impasse: promover uma inflexão no tom extremista adotado até aqui ou dobrar a aposta em busca de manter seus apoiadores unidos e radicalizados até o final? Para cada uma dessas alternativas, há a previsão de um desfecho diferente do processo eleitoral.

Quem defende uma mudança de tom, ou seja, a adoção pelo presidente de um viés mais propositivo e de um discurso mais sereno nesta reta finalíssima do primeiro turno, argumenta que os remédios adotados até aqui por Bolsonaro não têm surtido efeito eleitoral, conforme mostram as pesquisas.

Para esse grupo, que tem os ministros da ala política, parte da direção do PL e da comunicação da campanha, é preciso mais conteúdo e menos raiva nos discursos de Bolsonaro. Alguns programas do horário eleitoral gratuito do presidente já estão nessa toada e, segundo o monitoramento diário, são bem recebidos pelo eleitor.

Essa estratégia prevê uma melhora nos índices de Bolsonaro nas pesquisas com o objetivo de levar a eleição para o segundo turno. Segundo os mais recentes levantamentos, aumentou a possibilidade de Lula (PT) vencer na primeira fase, em 2 de outubro.

Porém, está claro que ninguém consegue moderar a atuação do presidente fora dos estúdios, como ocorreu nas recentes viagens ao Reino Unido e aos Estados Unidos, onde Bolsonaro repetiu seus ataques a Lula, debochou de protocolos e disparou inverdades. Ele havia sido orientado a transparecer moderação e se conter apenas às realizações de sua gestão que estão documentadas e às propostas para um novo mandato.

O entorno familiar do presidente e ele próprio estariam reticentes sobre a adoção de um tom mais propositivo. Para eles, segundo apurou a coluna, ganhando ou perdendo, Bolsonaro precisa manter seus apoiadores radicalizados em torno da defesa de seu governo e dele próprio. Nesse caso, o desfecho da eleição já estaria definido com o crescimento de Lula e o importante é pensar no futuro de médio e longo prazos.

Quem conhece bem Bolsonaro avalia que essa é uma estratégia para evitar, inclusive, uma eventual prisão dele ou de algum de seus familiares. Segundo um interlocutor do presidente, a estratégia de contestar um resultado desfavorável em qualquer um dos turnos também tem esse objetivo. Ou seja, demonstrar força popular e intimidar adversários e a Justiça com uma campanha de radicalização total contra as instituições, as urnas e o PT.

A radicalização também garantiria, por essa visão, a eleição de uma forte bancada de deputados federais e de senadores ligados ao presidente e dispostos a defendê-lo no Legislativo. Ao fim e ao cabo, teria como horizonte a manutenção de um polo extremista de direita no país mesmo com a vitória de Lula.

Em paralelo, a campanha do presidente prosseguirá no intuito de desgastar Lula nos segmentos mais sensíveis para o petista, como o dos evangélicos, apostando na tradicional guerra cultural. O mais provável, segundo o mesmo interlocutor, é que Bolsonaro se divida entre tentar aumentar o espaço das propostas nesta final sem perder o viés extremista contra seus adversários.

Do lado petista, a possibilidade de Lula (PT) vencer a eleição ainda no primeiro turno, conforme indicam as mais recentes pesquisas, está fazendo partidos e grupos políticos redefinirem suas estratégias de adesão ao candidato petista em busca de um assento privilegiado no avião lulista rumo a mais um mandato.