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Alberto Bombig

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula precisará colocar mais esperança e menos lama na campanha para vencer

Lula em evento com padres, freiras e religiosos - RICARDO STUCKERT
Lula em evento com padres, freiras e religiosos Imagem: RICARDO STUCKERT

Colunista do UOL

20/10/2022 11h42Atualizada em 20/10/2022 11h42

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A estagnação de Lula nas pesquisas, como mostrou a mais recente rodada do Datafolha, abriu um debate interno no PT sobre erros, acertos e novos rumos da comunicação da campanha eleitoral do ex-presidente, novamente candidato a voltar ao Palácio do Planalto.

Desde o primeiro semestre deste ano, o PT vem enfrentando problemas e debelando crises na comunicação. Há opiniões e palpites para todos os gostos, mas apenas um fato: a campanha de Lula ainda não conseguiu "jogar com as brancas", ou seja, não foi capaz de tomar a iniciativa do jogo e impor sua agenda ao principal e agora único adversário, Jair Bolsonaro (PL).

Embora tendo sido capaz de manter seu candidato na frente das pesquisas durante toda a campanha, a comunicação do PT sempre foi seguidora da pauta do rival. Na prática, o que temos acompanhado até aqui é mais ou menos o seguinte: Bolsonaro lança um ataque, a campanha de Lula vai atrás.

Pouco depois, Bolsonaro muda o tema e lança outro. A campanha de Lula responde, às vezes, com atraso. Foi assim que Lula entrou de cabeça no debate religioso, com tudo que ele enseja, como a agenda de costumes. Sempre em desvantagem, o ex-presidente teve de lançar uma carta aos evangélicos para reafirmar compromissos sobre os quais não pairavam dúvidas, como a liberdade de culto e o estado laico.

Não se trata apenas de uma "guerra de rejeições", que está sendo travada pelas duas campanhas. Apontar os erros e defeitos de Bolsonaro é vital para quem quer vencer, e o time de Lula faz esse trabalho, ainda que o presidente venha demonstrando ligeira melhora nesse quesito nos mais recentes levantamentos.

O ponto central é o controle da agenda e, nesse caso, o petista está jogando no campo do adversário, no terreno onde Bolsonaro reina absoluto. Assim, o presidente consegue, por exemplo, evitar que o desempenho de seu governo seja o assunto principal da eleição. Inflação, miséria, infraestrutura precária, cortes de verbas para a ciência, a saúde e a educação, nada disso entrará de vez no radar dos eleitores enquanto Lula estiver enredado no universo bolsonarista.

Por mais que o senso comum e a comunicação do PT apostem que Bolsonaro irá se desgastar com o caso das meninas venezuelanas e com a confusão em Aparecida, as pesquisas apontam para outra direção. Ainda assim, a campanha de Lula insiste com esses temas, enquanto poderia estar investindo em ideias, propostas e no debate da economia cotidiana.

Lula sabe que precisa vender esperança para os brasileiros, esse sempre foi seu principal ativo nas campanhas vitoriosas de 2002 e 2006, e a comunicação do PT deve ajudá-lo a retomar o vigor, a velha verve. Se continuarem gastando tempo, dinheiro e energia para, nesta reta finalíssima, apenas rolar na lama com Bolsonaro, os petistas continuarão acompanhando com apreensão a marcha das pesquisas.