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Ida de Bolsonaro a Aparecida tem confusão e recado de arcebispo

Do UOL, em Aparecida

12/10/2022 19h57Atualizada em 13/10/2022 11h22

A passagem de Jair Bolsonaro (PL) pela Basílica Nacional de Aparecida na tarde deste feriado de 12 de outubro se transformou em agenda de campanha. Apoiadores do presidente hostilizaram a imprensa. Já o arcebispo Dom Orlando Brandes deixou um recado crítico para o presidente, ainda que sem citá-lo nominalmente. Outro padre disse em púlpito que "não era dia de pedir votos".

Durante a celebração da principal missa na basílica, pela manhã, o arcebispo de Aparecida (SP), Dom Orlando Brandes, afirmou que é preciso combater o "dragão do ódio", da mentira, do desemprego, da fome e da incredulidade. Bolsonaro, candidato à reeleição, não estava presente neste momento.

Embora o arcebispo não tenha citado nomes, não houve dúvida que o destinatário do recado era Bolsonaro. No ano passado, Dom Orlando Brandes criticou a política armamentista do governo, dizendo que "pátria amada não pode ser pátria armada". Já este ano, o arcebispo também falou aos fiéis sobre a importância do voto como exercício de cidadania.

Centenas de pessoas vestidas de verde e amarelo atenderam ao chamado do presidente e compareceram a Aparecida. Durante a tarde, do lado de fora da Basílica, apoiadores de Bolsonaro xingaram jornalistas da TV Vanguarda, da TV Aparecida, ligada à Igreja Católica, do SBT e do UOL. As cenas foram flagradas ao vivo e viralizaram nas redes sociais.

Bolsonaro se pendurou do lado de fora de veículo. Bolsonaro desfilou na região da Basílica de Aparecida com o corpo para fora de um carro em movimento, com as portas abertas. Ao seu lado, estava o aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disputa o governo de São Paulo, também pendurado para fora do veículo.

Mesmo ao lado do templo que guarda a imagem da padroeira do Brasil, e onde era celebrada uma missa, motos da PRF (Polícia Rodoviária Federal) que faziam a escolta do presidente ligaram as sirenes.

O carro onde estava Bolsonaro circulou bem devagar para que o candidato pudesse interagir com apoiadores, que o aplaudiam, enquanto seguranças corriam para acompanhar o veículo.

Alvo de críticas. Às 14h, Bolsonaro participou de uma missa na Basílica.

Depois que o presidente já tinha deixado o local, o padre Camilo Júnior afirmou em outra celebração que hoje, Dia da Padroeira, não era o momento de pedir de voto, mas de "pedir bênção" à santa. A declaração do padre ocorreu durante a cerimônia de consagração solene a Nossa Senhora Aparecida.

Parabéns a você que está aqui dentro e testemunha. Parabéns a você que está aqui dentro e está rezando, porque hoje não é dia de pedir voto. É dia de pedir bênção"
Padre Camilo Júnior

Desaprovação de funcionários. Pessoas que trabalham na igreja mostraram contrariedade com a atitude de candidato dentro de um espaço religioso. Um segurança da Basílica balançou a cabeça em desaprovação quando o UOL perguntou o que achava da situação.

Apesar da presença de muitos apoiadores, também houve fiéis que reclamaram da atitude do presidente. Uns disseram que Bolsonaro estava se aproveitando da religião para pedir votos. Outros vaiaram e gritaram "Lula" — o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o adversário de Bolsonaro no segundo turno.

Não comungou. Diferentemente dos ex-ministros Tarcísio de Freitas e Marcos Pontes, Bolsonaro não comungou na missa de Aparecida da qual participou. Um ministro da Igreja foi até o banco onde a comitiva do presidente estava e ofereceu a hóstia.

O presidente balançou a cabeça três vezes em sinal de que não tomaria a eucaristia. Segundo a Igreja Católica, a hóstia é o corpo e o sangue de Jesus.

Durante toda a missa, Bolsonaro permaneceu calado. Ele não completou as orações e não rezou o Pai-Nosso.

Fotos com apoiadores. Outro ato de campanha de Bolsonaro em Aparecida foi a visita à Tenda dos Peregrinos. O local acolhe romeiros cansados depois de caminhar por quilômetros. O presidente esteve no local para tirar fotos.

Bolsonaro também se encontrou com apoiadores na frente da Basílica Histórica, a igreja que abrigou a imagem de Nossa Senhora Aparecida até 1980.

Eleitores bolsonaristas foram convocados pelas redes sociais de apoiadores do presidente ao longo da semana para participar do evento chamado Rosário pelo Brasil, organizado pelo Centro Dom Bosco, associação católica sem vínculo oficial com o Vaticano que prega o ressurgimento da direita católica.

A Arquidiocese de Aparecida não permitiu que o evento ocorresse dentro de um de seus templos. Bolsonaro acabou desistindo de participar da atividade.

Horas antes da desistência do presidente, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, havia explicado em nota que o terço do Centro Dom Bosco "não é celebrado pelo Santuário Nacional nem está sob a supervisão do Arcebispo de Aparecida".

Vermelho x verde e amarelo. A presença de Bolsonaro em Aparecida também mexeu com a vestimenta dos fiéis dentro da basílica.

Havia pessoas vestidas de verde e amarelo, mas também de vermelho — inclusive com camisas do PT, partido do ex-presidente Lula, adversário de Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais. Houve gritos isolados de "Lula, Lula", sem registro de confusões.

Com aliados, sem Michelle. O presidente chegou a Aparecida sem a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que é evangélica e tem desempenhado papel importante na campanha de reeleição de Bolsonaro com os evangélicos.

Além de Tarcísio, acompanharam Bolsonaro o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a deputada reeleita Bia Kicis (PL-DF), ex-ministros como Marcos Pontes (senador eleito) e João Roma, e o coordenador de comunicação da campanha do presidente, Fábio Wajngarten.

Bolsonaro não sobe no altar. No ano passado, o presidente esteve na missa da padroeira do Brasil e foi convidado para fazer a primeira leitura — o que não aconteceu desta vez, já que Bolsonaro disputa a reeleição. Todos os trechos da Bíblia foram lidos por sacerdotes.

Durante a homilia, o padre Eduardo Catalfo, reitor do Santuário, não citou o nome de Bolsonaro, mas disse que estava certo que o motivo de todos estarem presentes era a fé.

Ele também falou sobre Nossa Senhora Aparecida, que classificou como uma santa negra que tem a cor do povo brasileiro.

Pela manhã, comício com pastor condenado. Antes de chegar à celebração da padroeira do Brasil, o presidente foi a um comício em Belo Horizonte. Com ele, estavam o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o pastor Valdemiro Santigo, ex-bispo e fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus.

Recentemente, o religioso teve 15 condenações em primeira instância em menos de um mês. No palanque com Bolsonaro, Valdemiro ouviu o presidente repetir bandeiras sobre pauta de costumes, falar a respeito do preço dos combustíveis e do Auxílio Brasil de R$ 600.