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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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Falas de Moraes e Gilmar aumentam toxicidade de Bolsonaro e causam pânico

O ministro do STF Gilmar Mendes participa de evento do grupo Lide, em Lisboa - Victor Carvalho/Lide
O ministro do STF Gilmar Mendes participa de evento do grupo Lide, em Lisboa Imagem: Victor Carvalho/Lide

Colunista do UOL

03/02/2023 12h11Atualizada em 03/02/2023 14h43

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A revelação de que Jair Bolsonaro (PL) participou de uma negociação para grampear Alexandre de Moraes e as declarações recentes do próprio ministro e de colegas dele no STF (Supremo Tribunal Federal) deixaram em pânico aliados do ex-presidente no Congresso e podem enfraquecer o poder do chamado centrão, o bloco parlamentar que dominou o Legislativo nos últimos quatro anos.

Há um temor generalizado de que o Supremo seja "rigoroso demais e até vingativo", nas palavras de um desses aliados, com todos os chamados "bolsonaristas", sejam eles identificados como golpistas ou não. A senha estaria em declarações do próprio Moraes e do ministro Gilmar Mendes nesta sexta-feira (3) em evento em Lisboa.

A avaliação entre parlamentares é de que os episódios do 8 de janeiro e a revelação da tentativa do grampo, com a participação do senador Marcos do Val (Podemos-ES) e do ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), estão servindo para "tirar os ministros do Supremo das cordas". Ou seja, durante os quatro anos de Bolsonaro na Presidência, o ex-presidente, com a complacência do centrão e de seus aliados radicais, promoveu um processo de desgaste e de descrédito da Justiça, que tinha o STF como principal alvo. A partir de agora, o jogo deve mudar.

Não foram poucos, por exemplo, os parlamentares que ficaram do lado de Silveira quando o Supremo decidiu pela condenação do então deputado à prisão, em abril do ano passado. Até um ato em defesa de Silveira foi realizado com a ajuda de Bolsonaro. Nesta quinta-feira (2), ele foi preso em Petrópolis (RJ).

Ainda no ano passado, a cúpula do Centrão idealizou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para conferir aos deputados e aos senadores o poder de anular decisões do Supremo, iniciativa que causou perplexidade na corte e no mundo jurídico.

Segundo esse aliado de Bolsonaro, o "grau de toxicidade política" do ex-presidente subiu mais ainda nos últimos dias e serviu para intensificar a sensação no mundo jurídico de que os bolsonaristas são "inimigos" do Supremo. Isso teria ficado evidente nos movimentos desta semana e nas falas dos ministros. Em sentido oposto, Lula (PT) tem ressaltado a importância do STF na defesa da democracia e da Constituição.

"O que mostra é que a gente estava sendo governado por uma gente do porão, isso é um dado da realidade. Pessoas da milícia do Rio de Janeiro, com protagonismo na política nacional. Isso que resulta quando nós vemos a nominata desses personagens. E que mostra que a gente tem que ter preocupação até com a preservação da nossa integridade física", disse Gilmar, o decano do Supremo.

"A Justiça Brasileira aprendeu, ao longo de dois anos de ataques extremistas, a atuar de forma rápida e eficaz", afirma Moraes, que conduz vários inquéritos contra os atos golpistas. Também chamou a atenção o discurso da ministra Rosa Weber, presidente do STF, em sessão de abertura do ano judiciário. Ela defendeu a punição aos golpistas. "Uma vez erguida da Justiça a clava forte sobre a violência cometida em oito de janeiro, os que a conceberam, os que a praticaram, os que a insuflaram e os que a financiaram serão responsabilizados com o rigor da lei nas diferentes esferas", afirmou ela.

Um dia antes, na terça-feira (31), Moraes já havia autorizado a Polícia Federal a ouvir Valdemar Costa Neto, presidente do PL, nos autos do Inquérito (INQ) 4923, que investiga a responsabilidade de autoridades nos delitos ocorridos na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.

No PL ganhou força o grupo que defende o distanciamento gradual do partido de Bolsonaro e o isolamento dos chamados "radicais", como os deputados federais Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP) e Eduardo Bolsonaro (SP), filho do ex-presidente.

Em outros partidos da oposição ao presidente Lula (PT) há tendência semelhante, especialmente no PP e no Republicanos. Muitos querem se descolar do bolsonarismo e dos colegas que ainda insistem em atacar a Justiça ou defendem o impeachment de ministros do STF. Governistas, nesse ponto, entendem haver uma janela de oportunidade para ampliar a base de apoio do petista no Congresso.

Além dos inquéritos conduzidos por Moraes, parlamentares bolsonaristas também são alvos do STF em outras investigações, que envolvem corrupção, por exemplo.