Estrangeira é barrada na Argentina e fica 12 dias vivendo em aeroporto
Uma mulher do Cazaquistão foi barrada no Aeroporto Internacional de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, e classificada como "falsa turista". Sem permissão para entrar no país, permaneceu por 12 dias no terminal aéreo — e deve voltar para casa no próximo domingo (3).
O UOL mostrou que brasileiros foram impedidos de entrar na capital portenha sob a mesma alegação.
Com Aigul Riskaliyeva, 53, a confusão começou em 12 de janeiro. Ela chegou à capital argentina em um voo que teve escala em Istambul e São Paulo. O objetivo era rever a filha e conhecer o neto recém-nascido, que vivem na Argentina. A história foi revelada em primeira mão pelo jornalista argentino Tomás Martino, do jornal InfoBae.
À coluna, Aigul e a filha Abduella Yeva Muld contaram que foi a primeira experiência da mãe na América do Sul. E destacam que foi a insistência do advogado Chrtistian Rubilar Panasiuk que fez com que a família se reencontrasse — ele teve dois habeas corpus negados e apelou à Suprema Corte para conseguir que sua cliente, por fim, entrasse na Argentina.
Durante o período em que ficou no aeroporto, Aigul chegou a ficar doente. Ela recebia visitas da filha, que levava comida, e também teve ajuda de passageiros que se solidarizavam.
Eu sempre pensei que a saúde fosse o mais importante, mas é a liberdade.
Aigul Riskaliyeva
O aniversário dela, em 15 de janeiro, foi no aeroporto. "Sempre comemoramos meu aniversário juntos em um país diferente. Dessa vez, passei aos prantos." Ela descreve a experiência como traumática.
Depois da vitória na Justiça, Aigul foi liberada e disse que aproveita "cada instante" ao lado da família em Buenos Aires.
Os argentinos são pessoas gentis, alegres, tranquilos. A Argentina é um país com carne, frutas e vinhos maravilhosos e a um preço acessível. Mas o meu medo permaneceu e eu disse à minha filha que nunca mais voltarei à Argentina.
Aigul Riskaliyeva
A filha Abduella migrou para a Argentina em julho de 2023 com o marido, que é russo. Eles compraram uma casa na província de Buenos Aires e, apesar do episódio com sua mãe, ela diz que não se arrepende de viver no país: "Estamos muito felizes. Compramos um carro e viajamos por aqui. Eu amo muito morar na Argentina", afirma.
Atualmente, a Argentina tem 2 milhões de estrangeiros, sendo mais de 60% de países da América do Sul. A população total é de 46 milhões de pessoas, segundo dados do Censo de 2022.
Entenda a história
Quando chegou ao aeroporto de Ezeiza, Aigul disse ao setor de Imigração que sua intenção era visitar a filha e o neto — que nasceu em outubro. A passagem de volta apresentada por ela era para abril de 2024.
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Quero receberSegundo o advogado, a passageira se equivocou, achou que teria direito a permanência por 90 dias — mas por um acordo da República do Cazaquistão e Argentina, os residentes desses países só podem ficar sem visto por, no máximo, 30 dias.
Além disso, afirma o advogado, o setor de Imigração alegou que a filha de Aigul não estava com sua residência regularizada no país. Motivos, de acordo com Panasiuk, "menores e facilmente resolvíveis e insuficientes para acusar a mulher de 'falsa turista'".
Ainda alegaram no documento de expulsão que ela tinha 300 pesos, embora ela tenha mostrado que tinha 3 mil dólares em dinheiro.
Chrtistian Rubilar Panasiuk, advogado
Aigul não fala espanhol nem inglês — apenas russo. "Usei o Google tradutor para explicar, mas o funcionário não deu atenção, foi rude comigo", disse ela. "Foi um pesadelo."
Assim que soube que a mãe havia sido barrada, a filha Abduella achou que o problema seria rapidamente resolvido. Aigul foi transferida para a zona de trânsito do aeroporto e informada que seria enviada num voo de volta a Istambul no dia seguinte.
O advogado tentou pedir para que a mulher fosse devolvida ao Brasil, de onde tinha partido pela última vez, sem sucesso.
Depois de idas e vindas e quase duas semanas vivendo a experiência de não poder sair do aeroporto, o documento de "falso turista" foi anulado pela permissão de '"embarque provisório" concedido pelo setor de Imigração após determinação da Justiça.
Para o advogado Panasiuk, a justificativa de falso turista "é um absurdo". Segundo ele, não havia nenhum motivo para impedir a entrada da cliente. "O falso turista não existe em nenhuma lei. É uma resolução do setor de imigração argentino."
De acordo com ele, a passagem de volta de sua cliente precisou ser remarcada para 30 dias depois e que todos esses erros, bem como a filha não ter dado entrada a residência, não poderiam justificar a expulsão.
Ao realizar a entrada da residência, todo estrangeiro recebe um documento chamado de "precária" que funciona de maneira provisória até que a residência seja efetivada. Com a apresentação do documento provisório da filha e a mudança na passagem, Aigul conseguiu entrar na Argentina.
Eu fiquei extremamente agradecida. Não acreditei quando consegui entrar na Argentina e conhecer o meu neto. A primeira coisa que fiz junto a minha família foi ver o mar. Já tínhamos alugado uma casa em Mar del Plata e perdemos dez dias de reserva. Mas agora, só quero esquecer isso.
Aigul Riskaliyeva
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