Gestão Milei muda nome do Centro Cultural Kirchner, maior da América Latina
O governo de Javier Milei vai mudar o nome do Centro Cultural Kirchner, considerado o maior centro cultural da América Latina e o terceiro do mundo. O prédio, em Buenos Aires, tem mais de 100 mil metros quadrados e uma arquitetura impactante. Fica a aproximadamente um quilômetro da Casa Rosada, sede do governo.
A nova denominação, no entanto, ainda não está definida. O porta-voz do presidente, Manuel Adorni, disse que desde ontem o centro cultural deve ser chamado de "ex- CCK" (ex- Centro Cultural Kirchner).
O imóvel abrigou os escritórios do ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) e da esposa dele, Eva Perón, conhecida como Evita e considerada a mãe dos pobres pelo peronismo. Até hoje, permanece preservada a Sala Eva Perón.
O prédio foi declarado monumento e patrimônio histórico nacional e também funcionou como sede do Correo Central do país nos anos 1980. Em maio de 2015, foi reaberto como centro cultural, levando o nome do ex-presidente Néstor Kirchner (1950-2010) — marido da então presidente Cristina Kirchner, que inaugurou o local.
'Deskircherizar'
Para analistas, esse é mais um sinal do processo de descaracterizar os símbolos de adversários políticos de Milei. O presidente é um notório crítico dos governos de Néstor e Cristina Kirchner e em seus discursos faz questão de dizer que a crise argentina é "herança do kircherismo'', acentuando ainda mais a polarização.
Durante as eleições, no ano passado, muitos argentinos disseram que votariam em Milei não por concordarem com suas ideias, mas por não quererem o kirchnerismo, corrente política que se constituiu dentro do movimento peronista.
O governo Milei já tinha mudado o nome da Casa Pátria Grande Néstor Kirchner, onde agora está o escritório do Ministério do Capital Humano, para Casa Pátria Liberdade, em referência ao seu slogan "Viva a Liberdade".
No mês passado, a atual vice-presidente Victoria Villarroel decidiu tirar o busto do mesmo ex-presidente que estava no Congresso. Na ocasião, ela disse: "Eu ordenei tirar o busto porque Néstor Kirchner não foi senador, não foi vice-presidente e eu não sou sua viúva". Na Argentina, todo vice-presidente, automaticamente, ocupa o cargo de presidente do Senado — lugar que esteve Cristina Kirchner na gestão passada, quando foi vice de Alberto Férnandez.
No início de março, na semana da luta pelos direitos das mulheres, o governo trocou o nome do Salão de Mulheres, na Casa Rosada, para Salão Dos Próceres Argentinos (pessoas ilustres). O nome havia sido dada pelo ex-presidente peronista Alberto Férnandez (2019-2023). A mudança foi por decisão da irmã do presidente, Karina Milei, que é secretária-geral da Presidência.
Sigla -- e não nome
Funcionários disseram à imprensa argentina que receberam uma ordem, semanas antes do anúncio da mudança, para usarem a sigla CCK para se referirem ao centro cultural em comunicações internas ou externas. O objetivo já era esconder o sobrenome Kirchner — e a homenagem a Néstor.
O antigo Centro Cultural Kirchner recebe exposições e conta com um grande acervo de memória da época da ditadura argentina, além de ter espaço dedicado a artes performáticas e visuais, cinema, educação, literatura, áreas para crianças, projetos especiais e um grande teatro, com 534 lugares.
Cristina Kirchner não comentou a mudança até o fechamento deste texto.
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