Amanda Cotrim

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Após derrota de Milei, Congresso argentino vota nova versão da 'lei ônibus'

Nesta segunda-feira (29), a Câmara dos Deputados da Argentina deve votar a nova versão da Lei de Bases, conhecida como "lei ônibus". É o primeiro projeto do presidente argentino Javier Milei, eleito com a promessa de privatizar empresas públicas, estabelecer uma reforma trabalhista e fornecer alguns poderes ao Executivo.

Deputados de esquerda e organizações sociais convocaram um protesto em frente ao Palácio Legislativo. Há muita expectativa para a votação, já que a primeira tentativa de aprovação da "lei ônibus", em fevereiro, foi marcada por confrontos entre a polícia e manifestantes, ao longo de mais de três dias de discussões na Câmara.

Diante da derrota de Milei na primeira versão da "lei ônibus", o presidente argentino precisou rever a rota e abriu diálogo com a oposição. Item por item do pacote de leis foi rediscutido. Milei afirmou inúmeras vezes que aprovar a "lei ônibus" é a sua maior prioridade nesses primeiros quatro meses de governo.

A nova versão da lei continua extensa, com 232 artigos, mas menor que primeiro texto, redigido em dezembro do ano passado, que tinha 666 pontos.

A expectativa é de que a discussão do projeto se prolongue pelos próximos dois dias. A previsão dos congressistas consultados pela reportagem é de que o projeto seja votado antes do Dia do Trabalhador, também comemorado em 1º de maio na Argentina.

Privatizações e superpoderes

O novo projeto de lei dá superpoderes ao presidente Milei para que ele possa governar sem o Congresso por um ano, em caráter emergencial, nas áreas administrativa, econômica, financeira e energética.

O Poder Executivo estaria autorizado a rescindir ou mudar os contratos de obras públicas já iniciadas no país, como a construção de novas universidades. Isso afetaria, segundo dados da Câmara Argentina da Construção, ao menos três mil obras e pelo menos 500 mil trabalhadores do setor.

No campo das privatizações, a "lei ônibus" teve modificações. Inicialmente, 40 empresas poderiam ser privatizadas. Agora, 18.

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O novo texto retirou o Banco Nação da lista de empresas públicas que poderão ser privatizadas, mas liberou outras, como a Aerolíneas Argentinas. Empresas de água e saneamento, de cargas e ferroviárias e correios também podem ser privatizados.

As empresas Nucleoeletrictrica Argentina e Yacimientos Carboníferos de Río Turbio também podem ser privatizadas, desde que o Estado mantenha ações majoritárias.

Reforma trabalhista

A nova versão do pacote de leis prevê que funcionários públicos que se ausentarem do trabalho para participar de protestos terão descontos no salário.

Já o artigo que dizia que um trabalhador que protestasse, bloqueasse ou ocupasse uma empresa seria demitido por justa causa foi eliminado da nova lei.

O novo texto prevê também que os sindicatos ligados ao serviço público não poderão descontar parte do salário dos trabalhadores que não são filiados.

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No setor privado, empresários ficarão isentos de qualquer ação legal e dívidas relacionadas com infrações, multas e sanções. Por exemplo, a empresa pode ficar isenta de pagar multa por manter um trabalhador sem registro.

O período de experiência do funcionário, que atualmente é de três meses, poderá ser estendido para seis meses em empresas com mais de 100 trabalhadores e para nove meses para empresas menores.

Tramitação

O projeto original da Lei de Bases teve sua aprovação geral em fevereiro. Mas, diante de uma provável derrota na votação dos artigos específicos, a bancada do partido de Milei, Liberdade Avança, retirou o projeto da sessão.

Dois meses depois, Milei preparou nova versão do pacote de leis, depois de inúmeras conversas, reuniões e tentativas de negociação do governo com a oposição.

O novo texto foi discutido em uma comissão na Câmara, na semana passada, e aprovado para ser encaminhado ao plenário.

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A votação da nova versão da lei de bases está prevista para começar às 11h do horário de Brasil. Será feita em duas etapas: primeiro, o texto geral; depois, os artigos separadamente. Se aprovado pela Câmara, o projeto seguirá para o Senado.

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