Mercosul se reúne para avaliar potencial acordo com EUA pós tarifaço
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Os ministros dos países membros do Mercosul se reuniram na manhã desta sexta,11, em Buenos Aires, na esteira do tarifaço mundial de Donald Trump. O chanceler brasileiro Mauro Vieira chegou ontem, 10, e manteve encontros com o Guillermo Francos, chefe de gabinete de Milei, além do chanceler do Paraguai, Rubén Ramirez.
Em frente ao palácio San Martin, onde será a reunião, o chanceler argentino Gerardo Werthein disse aos jornalistas que está otimista com a reunião dos ministros e que o objetivo era apresentar e "conquistar um acordo que seja conveniente para a Argentina", sem dar detalhes. "Estou otimista. Os pessimistas nunca construíram nada", afirmou.
Segundo ele, a pauta do acordo do bloco com a União Europeia não seria contemplada.
A Argentina, que está na presidência temporária do bloco regional até julho, deve o investir na proposta de um "acordo de preferências comerciais", visando negociar com a gestão Trump.
A estratégia do governo de Javier Milei seria a de flexibilizar os acordos comerciais, sem precisar romper com o Mercosul, já que deixar o bloco traria um custo altíssimo para a Argentina, além de o presidente não ter, hoje, força política para deixar seus sócios comerciais — para retirar o país do Mercosul, precisaria do apoio do Congresso, onde o político não tem maioria.
Nesse cenário, o desafio de Milei está no campo diplomático. Ele precisa obter o consenso entre os demais países do bloco, por isso a reunião de ministros de hoje é cercada de expectativas.
"O desafio crucial do governo argentino será convencer os demais sócios a trabalharem num acordo de preferência comercial. Muito provavelmente, a proposta do governo seja a de flexibilizar os acordos comerciais enquanto bloco, já que Milei não tem tanto espaço para lançar uma carta unilateral, ainda que seja o desejo do presidente", afirma o cientista político Tomás Mujica, professor e pesquisador na Universidade Católica da Argentina e especialista em Mercosul.
Milei é o único que defende abertamente a flexibilização do Mercosul para poder negociar com os Estados Unidos, enquanto o Brasil, sob o governo Lula, defende a integração regional como estratégia de fortalecimento comercial e político para as nações do bloco.
O Uruguai, que com o presidente Lacalle Pou foi o porta-voz da flexibilização do Mercosul para negociar com a China, atualmente tem em seu novo presidente, Yamandú Orsi, um aliado político de Lula.
Se por um lado a Argentina precisa conquistar o grupo, por outro, os demais países estão se mostrando abertos a escutar a proposta dos argentinos.
Diplomatas brasileiros disseram à reportagem, sob reservas, que o Brasil escutou as demandas iniciais da Argentina na reunião informal entre coordenadores do Mercosul, que ocorreu no dia 11 de março, na capital portenha, e que o Brasil "não vê com maus olhos a proposta da Argentina de negociar com os EUA. Podemos negociar enquanto bloco", salientou uma fonte. Não está claro, no entanto, se Milei pretender propor a negociação do bloco com os EUA ou se os países teriam abertura para negociar individualmente com Trump.
Milei x Lula
As negociações ocorrem num contexto de tensão de Milei com o Brasil. O presidente argentino tem visão oposta à de Lula sobre integração e comércio. Milei, que mantém uma relação protocolar com o presidente brasileiro, disse, na abertura do ano legislativo do Congresso que o Mercosul só beneficia os empresários brasileiros.
Para Tomás Mujica, o modo como Milei atua enquanto político não deve afetar as negociações entre os governos.
"A relação Brasil e Argentina conseguiu sobreviver a tormentas políticas mais fortes, em anos anteriores. Esse é um governo que é muito crítico ao Mercosul. Se o bloco não existisse, Milei não o criaria, por seu entendimento sobre como deve ser a integração", analisou o pesquisador.
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