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Amaury Ribeiro Jr

Casa dos Anjos: festas tinham drogas e violência sexual, diz menina

Fachada do endereço da Loucos por Aventura, empresa de Rodrigo Fiuza, preso em ação contra "Casa dos Anjos", local onde a polícia suspeita que houvesse exploração sexual de menores - Reprodução/Google Street View
Fachada do endereço da Loucos por Aventura, empresa de Rodrigo Fiuza, preso em ação contra "Casa dos Anjos", local onde a polícia suspeita que houvesse exploração sexual de menores Imagem: Reprodução/Google Street View

18/12/2020 04h00

A Justiça de Minas Gerais deve liberar nos próximos dias o resultado do exame de DNA que poderá determinar a paternidade de um bebê de uma menina de 13 anos que teria sido drogada e violentada sexualmente em uma casa na Pampulha, em Belo Horizonte, que era local de um suposto esquema de exploração sexual de crianças. Segundo a família, a menina emagreceu dez quilos e teve que fazer o parto precocemente, com sete meses, pois os médicos alertaram que ela corria risco de morte se continuasse a gravidez.

Além das amostras de DNA do bebê, que nasceu há cerca de um mês, e da menina, foram colhidas amostras de dois suspeitos: do atleta e influenciador Rodrigo Fiúza, 47, e do seu amigo Risklinfo Saraiva, 42, conhecido como Risk Saraiva.

Foi na casa na Pampulha que Fiúza, segundo as investigações da Polícia Civil, organizou festas entre adolescentes, empresários e convidados durante a pandemia. O local ficou conhecido como "Casa dos Anjos".

A garota L. (inicial fictícia), a mãe do bebê, disse ao UOL ter sido drogada, numa dessas festas, com loló (uma versão tóxica e mais barata do lança-perfume) e violentada sexualmente por Risk. "Como eu estava totalmente drogada, só fiquei sabendo que tinha ido para o quarto com Risk por intermédio de duas amigas", contou.

O UOL tenta há quatro dias mas não consegue manter contato com os advogados de Fiúza e de Risk.

Por causa de seu vício na droga, a menina acabou voltando à casa onde, segundo ela, acabou novamente mantendo relações sexuais. Afirmou ainda que, ao descobrir que estava grávida, foi aconselhada por Fiúza a tomar um remédio para abortar. "Por sorte não tive sangramento. Só umas pontadas na barriga", lembrou.

A garota afirmou que teria sido aliciada por Fiúza em um momento difícil de sua vida —ela teve depressão depois que o pai, que era mecânico, foi assassinado por engano por traficantes.

Segunda a menina, Fiúza costumava cobrar R$ 50 por convidado pelo ingresso nas festas. As meninas não pagavam nada e recebiam drogas de graça, conta L.

Ela disse que, nas festas promovidas por Fiúza, além de bebidas destiladas, os convidados podiam comprar loló, maconha, cocaína e "balinhas", um preparado de drogas que era colocado na bebida.

Durante o período em que frequentou a "Casa dos Anjos", de março a junho, L. não demorou a suspeitar do comportamento estranho de Fiúza. "Além de desfilar com o celular de última geração e dinheiro colado nas roupas, ele dava um maior escândalo quando uma menina se recusava a ficar com ele. Dizia aos gritos que ele era famoso, tinha mais de 90 mil seguidores no Instagram."

'Minha filha se sentia ameaçada', diz diarista

A diarista A. (inicial fictícia), 40, disse ao UOL que nunca imaginava que a filha, que ficou grávida aos 13 anos, se drogava e se prostituía na chamada "Casa dos Anjos". ''Minha filha quando saía dizia que ia passar a noite na casa de amigas. Ela só contou toda a história ao revelar que estava grávida", disse.

Em meados deste ano, a diarista foi surpreendida com a visita em sua casa de Fiúza e Risk, que queriam falar sobre a gravidez da sua filha. "O Risk confessou ter tido relações quando minha filha estava drogada. Mas o Rodrigo [Fiúza] negou tudo", disse a mãe da vítima.

O suposto esquema de prostituição infantil na casa da Pampulha veio à tona no dia 18 de novembro, quando a Polícia Civil desencadeou a "Operação Anjo". De acordo com as investigações, depois de drogadas e violentadas sexualmente, as meninas eram fotografadas nuas e as imagens expostas na internet. Uma das fotos da vítima foi acessada pela mãe na internet, que procurou a polícia.

"Denunciei o fato porque minha filha se sentia ameaçada. Até hoje está traumatizada", disse ao UOL a mãe da menina.

Outros sete indiciados

Presos desde 18 de novembro em Belo Horizonte, Fiúza e Risk foram indiciados pela Delegacia Especializada de Proteção à Criança (Depca) por estupro de vulnerável (praticar sexo ou ato libidinoso com criança menor de 14 anos) e exploração sexual e fornecimento de drogas a crianças e adolescentes.

Outras sete pessoas foram indiciadas, entre elas o engenheiro mecânico Leonardo Guimarães Zambrana, 40, e Lorraine Stefany, 20 anos, suspeita de aliciar meninas para as festas na casa do bairro da Pampulha. Stefany e Zambrana também estão em prisão provisória. Os demais indiciados respondem ao processo em liberdade.

Num barracão onde funcionava uma empresa de informática de Leonardo Zambrana, um dos presos e indiciados, foram encontradas fotos pornográficas de crianças e adolescentes. Procurado pelo UOL, o advogado dele, Rodrigo Suzana, disse que as investigações correm sob segredo e que os familiares de seu cliente acreditam que a polícia esclarecerá os fatos e que a inocência de seu cliente ficará comprovada ao final do processo.

A defesa de Lorraine ainda não foi localizada.