Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Homenagem a Jagunço: Para líder do MST, repúdio virá em forma de ocupação
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Uma arma feita com os dedos polegar e indicador se tornou o símbolo da campanha presidencial de Jair Bolsonaro, repetida pelo então candidato e seus seguidores.
A defesa do armamento ocupou o poder executivo no Brasil e hoje deu mais uma demonstração pública da importância desta pauta para o governo.
Em referência ao Dia do Agricultor (28 de julho), a Secretaria de Comunicação do Governo Federal resolveu homenagear os profissionais que atuam no cultivo da terra com uma imagem de um homem com uma espingarda. Para o Governo Bolsonaro, nas mãos do agricultor é necessário, ao invés de enxada, arma.
MST repudia e promete ocupação de latifúndios
O agricultor João Paulo Rodrigues, integrante da Coordenação Nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), utilizou o twitter para repudiar a postagem do governo:
"Inacreditável que esse #BolsonaroNazista homenageia os agricultores com uma imagem de um jagunço! Nossos agricultores produz (sic) alimentos e não violência! O repúdio do @MST-Oficial virá em forma de ocupação do latifúndio. Queremos terra e paz para produzir comida para nosso povo!", ameaçou Rodrigues, sendo repostado pelo perfil do MST.
Atuante no movimento pelo direito à terra, o deputado federal (PT-BA), Valmir Assunção também reagiu à postagem:
"A imagem da agricultura do Governo Bolsonaro é a de um jagunço. O governo dos ruralistas assume que é o responsável pela violência no campo! Afinal, agricultor de verdade produz alimento, não violência! #ForaBolsonaro"
Questionado pela coluna, o deputado confirmou as acusações feitas via rede social:
"O governo Bolsonaro é responsável pela violência por priorizar os interesses do latifúndio, o mesmo que tem invadido territórios indígenas e quilombolas inspirado na proteção dada por órgãos como Funai e Incra.
Ao negligenciar políticas de reforma agrária, a tendência é piorar os conflitos no campo. Isso é inadmissível, e celebra essa 'política de extermínio' em uma ação de gestão. Essa imagem utilizada pelo governo é uma demonstração de qual lado Bolsonaro está".
O deputado também afirmou à coluna que o governo federal vetou um projeto, aprovado no Congresso no ano passado, que tentava minimizar os prejuízos causados no campo pela pandemia, com a liberação de linhas de créditos para a agricultura familiar.
Sobre a ameaça feita pelo líder do MST, o parlamentar demonstrou total apoio:
"Há mais de um ano e meio o MST não realiza ocupações em respeito aos protocolos exigidos por esse momento de pandemia, mas não há outro caminho do que lutar, lutar e lutar contra a fome, a carestia e as provocações e violências deste governo".
Conflitos por terra cresceram no Governo Bolsonaro
O jagunço é um personagem muito popular em narrativas de filmes e telenovelas brasileiras, representado como um funcionário de fazendeiros, que resolvem todos os problemas dos patrões, incluindo a eliminação de desafetos.
Quem conhece de perto essa realidade dos conflitos por terra no Brasil sabe bem o terror e a violência provocadas pelos jagunços, tendo como principais vítimas pequenos agricultores, comunidades indígenas e quilombolas.
Levantamento anual feito pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) da Igreja Católica mostra que o número de conflitos no campo no Brasil, que cresceu no Governo Bolsonaro, bateu recorde em 2020. Ao todo, foram registradas 2.054 ocorrências envolvendo quase 1 milhão de pessoas.
O número de conflitos é o maior desde que o levantamento começou a ser realizado em 1985. Uma alta de 32% em relação a 2018.
Em maio, UOL publicou reportagem completa sobre o tema. Levantamento aponta recorde de conflitos no campo no Brasil em 2020.
Lázaro Barbosa: maníaco ou jagunço?
O Brasil acompanhou os mais de 20 dias de buscas por Lázaro Barbosa, foragido após cometer inúmeros crimes, como invasões, estupros e mortes no Centro-Oeste.
O criminoso foi localizado e morto, mas as investigações continuam. Há suspeitas de que Lázaro agia a serviço de fazendeiros, comerciantes e políticos da região.
Toda a crueldade cometida por Lázaro, que levou rapidamente a imprensa e autoridades policiais a nomearem o criminoso como um maníaco, pode ser parte das práticas violentas que frequentemente se repetem no Brasil a dentro, tendo como motivador a disputa por terras.
Aos invés de proteger a população da ação dos jagunços, o Governo Bolsonaro escolhe destacar essa figura como propaganda da política armamentista.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.