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Com trio elétrico sem público, evento teste de Salvador não testa nada
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Teve trio elétrico, boa música, esquema de segurança para controle de acesso e orientações para distanciamento. O evento teste Retomada Salvador, realizado no último dia 27, na área externa do Centro de Convenções da cidade, só não teve o principal: o público.
A população de Salvador, tão apaixonada por festas e carente de eventos deste tipo desde o início da pandemia, não prestigiou a ação promovida por associações da área de entretenimento da cidade, com apoio da Prefeitura de Salvador.
As imagens de esvaziamento do evento geraram muitas críticas e piadas com a organização, que esperava 500 convidados, todos com comprovação de vacina e testados na véspera da festa.
A chuva, as atrações menos populares --à exceção do cantor Gerônimo-- e o temor no momento em que a cidade confirma casos da variante delta da covid-19 foram apontadas, nas discussões nas redes sociais, como justificativa para a ausência de público.
Artistas se apresentaram para plateia vazia
Nem a metade dos 500 convidados aguardados compareceu ao espaço, de onde grupos de até quatro pessoas, separadas por grades, poderiam conferir shows que se revezavam em um palco e em um trio elétrico.
Gerônimo iniciou o show sem plateia, já que as poucas pessoas presentes ao evento buscaram se abrigar dos ventos fortes e da chuva por volta das 19h30.
Além do autor de sucessos como "É D´Oxum", a noite contou com apresentação do afoxé Darajú de Odé, do bairro da Liberdade, do DJ Mauro Telefunksoul e da cantora Márcia Castro.
Boa parte dos presentes era formada pelas equipes de trabalho: guardas municipais, vigilância sanitária e profissionais da imprensa, além de políticos da cidade e funcionário da prefeitura. Não foram divulgados os critérios para escolha dos convidados.
Com o esvaziamento, foram flexibilizadas as separações entre os grupos e o acesso aos banheiros, planejado para somente ser permitido após confirmação via QRCode.
A título de comparação, o encontro do movimento negro da cidade com o ex-presidente Lula, realizado um dia antes, na Senzala do Barro Preto, sede do bloco afro Ilê Aiyê, reuniu mais de 200 pessoas dentro do espaço, além de outras dezenas do lado de fora.
Setor quer retomada dos eventos
"A chuva atrapalhou muito. Passou uma hora chovendo bem no momento da chegada. Quem entende de eventos sabe que é a única hora que não pode chover. Espantou um pouco, mas está tudo certo. Muito válida a iniciativa pra gente começar a retomada de Salvador", avaliou o empresário Marcelo Brito, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Eventos na Bahia (Abrape-BA), uma das promotoras da noite.
Para o empresário, a retomada de festas para até 500 pessoas é o mínimo que se pode esperar, por ser de extrema urgência para o setor que mais vem sofrendo impactos econômicos.
A técnica em segurança, Daniela dos Santos, 44, que integrou a equipe de brigadistas do evento teste, sabe bem as consequências da suspensão das festas na cidade.
Ela contou à coluna que, nos três primeiros meses da pandemia, entrou em depressão, pela falta da renda gerada pelos eventos em que trabalhava todos os finais de semana. "Fiquei desesperada. Vi colegas da área enlouquecerem e até gente que cometeu suicídio."
Daniela lamentou a ausência de público ao evento e sugeriu que poderiam ter atrações mais conhecidas da população, como bandas de pagode.
"Mas eu gostei muito das músicas, principalmente porque começou cantando para os orixás", falou animada, se referindo ao show do grupo de afoxé e mostrando orgulhosa as tatuagens que tem no braço esquerdo (uma imagem de São Jorge e outra de Oxossí).
"Tenho fé em Deus que tudo isso vai passar".
Prefeitura se prepara para abertura gradual
Presente, o prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), mostrou-se otimista com a retomada gradual de eventos na cidade, graças ao cenário atual de menor pressão sobre o sistema de saúde --UTIs de covid em 13% de ocupação-- e o avanço do processo de vacinação --95% da população adulta da cidade já tomou a primeira dose.
O gestor confirmou que nesta segunda-feira (30) inicia a vacinação da terceira dose para os idosos acima de 90 anos.
"Talvez a cidade que mais sofra no Brasil pela não realização de festas seja Salvador. Precisamos nos preparar, com segurança e responsabilidade. Sempre a prioridade será a proteção à vida".
O prefeito informou que, somente o Carnaval de Salvador injeta R$ 1,5 bilhão na economia da cidade o ano inteiro, por meio das festas, ensaios e todo o preparativo, gerando 50 mil empregos diretos e indiretos, além de projetar a imagem da cidade no Brasil e o mundo.
É inegável a importância das festas e atividades culturais para cidades como Salvador. Lamentável que um evento que poderia trazer informações importantes sobre o comportamento da população, diante de novos protocolos exigidos pela pandemia, tenha falhado justamente na participação do público.
Enquanto isso, a cidade acompanha aglomerações, sem o menor controle, em praias, bares e festas particulares, na periferia e nos bairros onde moram os ricos.
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