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André Santana

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Farsa do frango com farofa reflete como Bolsonaro governa o país

Colunista do UOL

31/01/2022 12h21

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Ontem (30), dia em que São Paulo registrou 19 mortes em consequência das fortes chuvas que atingem o estado, os brasileiros, mais uma vez, ficaram sem uma palavra de solidariedade do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em vez disso, a imagem que circulou foi de um presidente emporcalhado, comendo churrasco com farofa, em uma barraca de rua de Brasília.

No vídeo, compartilhado por assessores diretos como o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o presidente aparece comendo frango com as mãos. A farofa surge estrategicamente espalhada pelo próprio corpo e no chão ao redor.

Rapidamente, as redes sociais denunciaram a tentativa de marketing por trás daquela cena forçada: passar a impressão de um cidadão humilde, com gostos e modos simples, em busca de frear o declínio da sua aprovação junto ao eleitorado brasileiro. Em dezembro, a reprovação de Bolsonaro atingiu a marca de 53%, a pior entre os presidentes da República desde Collor de Mello, em 1992.

Depois das críticas, o vídeo foi apagado, mas o estrago já havia sido feito.

Além de supor que os cidadãos brasileiros mais pobres não possuem higiene nem habilidade para se alimentar adequadamente, sem fazer sujeira, a equipe de Bolsonaro zomba da inteligência da população.

Quem vai acreditar na escolha tão modesta do presidente que já gastou R$ 29,6 milhões com cartões corporativos até dezembro. Os cartões livremente utilizados por Bolsonaro, seus familiares e auxiliares mais próximos cobrem justamente despesas como refeições, entre outros gastos.

Se a preferência do presidente fosse o churrasquinho com farofa em uma barraca de rua, Bolsonaro não teria superado seus antecessores, Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB), nas despesas com cartão corporativo, conforme levantamento da imprensa.

A imagem do presidente porcalhão é mais uma das montagens falaciosas de um grupo político que conseguiu chegar ao poder, criando e compartilhando fake news, por meio de textos e vídeos de fácil circulação e grande potencial narrativo. A julgar pela ação deste domingo, parecem dispostos a repetir a mesma estratégia nas próximas eleições.

Com a farsa logo denunciada e anulada, a cena só reforça o comportamento desleixado e fanfarrão que caracteriza o modo de governar de Bolsonaro. É daquele jeito, sem postura e sem zelo pelo cargo que ocupa, que ele tem conduzido o país, mesmo diante de sérios problemas como a pandemia, o desemprego e a fome.

Para azar do bolsonarismo, "o brasileiro é pobre, mas é limpinho". Além de bons hábitos de higiene e de cuidado com o pouco alimento que chega à mesa, os cidadãos deste país estão cansados de conviver com farsas e desvios da política. O zelo pela boa imagem e pela conduta correta são qualidades valorizadas nos lares mais humildes.

Há poucos dias, o presidente já havia sido chamado de "farsa" por uma estudante de 19 anos que o abordou na entrada do Palácio do Alvorada. Bolsonaro se irritou após jovem usar uma citação bíblica.

A reação popular que se viu em comentários nas redes sociais e a desaprovação crescente deste governo demonstram que a tentativa de reeleição do presidente dependerá de mais esforço e inteligência, para além de se lambuzar em uma farofada.