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Claudia Leitte: alinhamento com armas é recompensado com Réveillon na Bahia
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A cantora Claudia Leitte chocou zero pessoas nesta semana quando publicou um story no Instagram com imagens bem simbólicas neste período de tensão pré-eleitoral, quando está em disputada a civilização ou a barbárie.
No vídeo, a exaltação de uma arma —ao exibir um abajur em formato de revólver—, da Bíblia e do casamento diz muito do alinhamento a um discurso de conservadorismo moral, alimentado pelo fanatismo religioso e armamentista.
Claudia Leitte já teve outras oportunidades para revelar suas opções ideológicas e políticas, especialmente em seu silêncio diante da tragédia que se abateu sobre o Brasil desde a eleição de Jair Bolsonaro, com sua caça a artistas e desrespeito à democracia, acirrada com o comportamento irresponsável diante da pandemia.
O não posicionamento de Claudia Leitte sugere um não incômodo com uma realidade desesperadora para a maioria da população. Em um programa de televisão, mesmo atiçada a falar sobre indignação, ela preferiu uma resposta evasiva, alheia às preocupações dos brasileiros.
Agora que abre sua intimidade com o vídeo fica mais evidente de onde vem a sua tranquilidade e sua "postura pacificadora" em meio ao caos social.
Mesmo que pareça absurdo para a maioria dos cristãos, tem muita gente que consegue associar a fé religiosa à defesa de uma sociedade civil armada. O próprio presidente chegou a dizer que Jesus Cristo (aquele que pregou o amor entre os humanos) 'não comprou pistola porque não tinha'
Uma convicção que tem gerado um país em conflito cotidiano.
Se já vivíamos o medo da criminalidade, agora a tensão se amplia com o aumento da circulação de armas e o estímulo ao ódio por escolhas políticas partidárias. As principais vítimas são os pobres, negros, as mulheres e a comunidade LGBTQIA+, grupo do qual a cantora torceu para que o filho não fizesse parte.
Mas, como esse tipo de comportamento tem gerado apelos políticos, a divulgação do posicionamento armamentista e religioso de Claudia Leitte foi muito bem recompensado.
A cantora foi anunciada na quinta (15) pela Prefeitura de Salvador, como a principal atração da festa de Réveillon da cidade. Claudia Leitte substituirá a cantora Ivette Sangalo, que nos últimos anos cumpriu a tarefa (muito bem remunerada) de animar a contagem regressiva na capital baiana. O cachê de Ivette em 2019 foi de R$ 700 mil para o show de 31 de dezembro, segundo o Diário Oficial do Município.
A festa da retomada, após dois anos suspensa pela pandemia, terá Claudia Leitte como estrela. É o privilégio que alguns poucos artistas gozam por não contrariarem governantes com preocupações sociais. O próprio prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil), alinhado ao bolsonarismo, fez questão de apresentar a novidade festiva organizada pela gestão municipal.
Como sempre estarão ausentes grupos e artistas que fazem ecoar reivindicações sociais e utilizam sua arte como indignação e cobrança. Os blocos afro, por exemplo, só passaram a fazer parte desta programação anual da prefeitura após muita pressão e cobranças e com cachês bem menores.
A escolha deve levar em consideração a capacidade de mimetismo racial da cantora, uma habilidade tão em evidência nas eleições deste ano. Claudia Leitte já se autoafirmou 'negalora' e já fez cosplay de Michael Jackson em pleno Pelourinho, colocando-se como a melhor representante desse grupo político que tem como líder ACM Neto, candidato ao governo do estado da Bahia. O herdeiro político de ACM não teve nenhum pudor ao se declarar pardo ao TSE, sendo beneficiado pela política de incentivo financeiro a candidaturas de pessoas negras.
É um pacote completo: quem assume o lado do bolsonarismo tem na cartilha, além da defesa de uma família armada, falsamente estruturada em valores cristãos e no heteronormatismo de fachada, a apropriação identitária, que deslegitima lutas por reparação e usurpa recursos públicos que deveriam promover a igualdade de direitos e oportunidades.
A esperança é que as urnas de outubro reprovem esses valores dos quais Claudia Leitte se mostra divulgadora, fazendo com que a festa de Réveillon seja na verdade o marco de um novo tempo, de reafirmação da democracia, da civilidade e de valores verdadeiramente humanos, varrendo a barbárie dos nosso dias.
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