André Santana

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Opinião

Proibidos no Brasil, balões são principal atração do São João português

A cidade do Porto, em Portugal, celebrou na noite ontem (23) o santo mais popular do mês de junho, São João, e a festa não deixou nada a desejar em relação a nenhum arrasta-pé do nordeste brasileiro.

Os festejos à beira do rio Douro e pelos sítios históricos da segunda maior cidade portuguesa tiveram todos os elementos conhecidos por nós, como muita animação, uma multidão nas ruas, música por todos os cantos e para todos os gostos, barracas de comidas servindo especialidades como a sardinha assada e as bifanas (carne de porco cozida no vinho), e ainda algo que não é possível mais ser visto nas festas juninas do Brasil: balões soltos no ar.

Com fabricação, comercialização e soltura proibidas no Brasil desde 1998, para evitar incêndios em vegetações e acidentes com pessoas e animais, os balões são a principal atração do São João de Porto e vendidos fartamente no comércio local.

Cada um pode acender seu balão ali no meio da multidão, que comemora a cada levantar voo dos coloridos papéis de seda impulsionados pelo fogo. O poder local estabeleceu o horário permitido, a partir das 21h45, e em poucos minutos o céu estava repleto de balões, iluminando a noite com o fogo tão presente nas noites nordestinas dedicadas aos santos juninos.

Multidão se reuniu à beira do rio Douro, em Porto, para assistir a soltura de balões
Multidão se reuniu à beira do rio Douro, em Porto, para assistir a soltura de balões Imagem: André Santana

Ao invés de fogueiras para assar o milho, acender os fogos e manter a temperatura do quentão, em Porto, além do fogo no céu, a alta temperatura também era utilizada em churrasqueiras utilizadas para assar porcos inteiros, que eram servidos no pão. O vinho, que fez a cidade se tornar reconhecida mundialmente, dividiu o interesse dos foliões com a cerveja e outras bebidas.

Para a noite ficar ainda mais colorida e iluminada, à meia noite, uma queima de fogos de artifício produziu um lindo espetáculo na Zona da Alfandega e na ponte metálica Dom Luís I, que liga Porto à vizinha Vila Nova de Gaia, onde os festejos seguem o mesmo ritmo.

Saudações com martelos de plástico e alho-poró

Coloridos também são os martelos de plásticos com apito que também se tornaram símbolo da festa. Os brinquedos são utilizados por crianças e adultos (estes principalmente) para fazer barulho e abusar quem passa. Ninguém fica imune a tomar uma 'martelada' na cabeça.

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Introduzidos nas últimas décadas, os brinquedos ganharam mais força que o tradicional alho-poró, colhido nesta época do ano e levado para as ruas na noite de São João para saudar os amigos e depois colocado na porta de casa para afastar o mau olhada e atrair prosperidade.

As precauções de higiene pós pandemia de Covid-19 reduziram ainda mais o alho-poró na festa, já que o principal alvo dos 'cumprimentos' entre os passantes é o nariz.

Herança da colonização ganhou elementos locais

Depois de Lisboa encher as ruas de festas na noite entre 12 e 13 de junho, para celebrar Santo Antônio, o padroeiro da cidade, foi a vez de Porto saudar São João Batista, na noite considerada a mais longa do ano, que marca também o início do verão do hemisfério norte (iniciado em 21 de junho).

O mês festivo será encerrado ainda com as celebrações a São Pedro e São Paulo, em 29 de junho, ponto alto das comemorações em algumas cidades nordestinas e também portuguesas.

O Brasil herdou da colonização católica portuguesa o culto aos santos juninos e os festejos aqui ganharam outros elementos, como a gastronomia indígena à base de milho, mandioca e amendoim, além do licor, bebida feita com frutas locais como o jenipapo e o tamarindo.

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Em cada cidade, uma característica do lugar é evidenciada na festa. Em Cachoeira e em Santo Amaro, no Recôncavo da Bahia, por exemplo, o São João combina com a maniçoba, prato típico da região. Já em Salvador, o ritmo musical preponderante é o samba junino, uma variação do samba de roda que anima os bairros da capital baiana neste período.

O importante é que o desejo de aproveitar uma motivação inicialmente religiosa para ocupar as ruas e celebrar a vida continua aqui e lá.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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