Andreza Matais

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Secretário demitido após leilão do arroz emplacou a esposa na Conab

Demitido do Ministério da Agricultura no rastro do escândalo do leilão do arroz, o ex-secretário de Política Agrícola e ex-deputado Neri Geller (PP-MT) emplacou a esposa como assessora da presidência da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), além de Thiago José dos Santos como diretor de Operações e Abastecimento da empresa pública.

O leilão realizado pela Conab por determinação do governo federal foi anulado por indícios de fraude, mas será refeito. O objetivo é comprar arroz para conter aumento de preços devido à tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul.

Em meio a investigações na Câmara dos Deputados sobre a compra do arroz importado, Santos saiu de licença remunerada autorizada pelo presidente da Conab, o petista José Edegar Pretto. Devido ao recesso, Santos não participou hoje de audiência sobre o tema na Comissão de Agricultura. A diretoria dele foi a responsável por realizar o leilão, que teve a participação de um amigo pessoal.

A empresa pública é responsável por toda política de armazenagem do governo, além de garantir informações técnicas para embasar tomadas de decisão quanto à elaboração de políticas voltadas à agricultura. Apesar de a Conab estar vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, as nomeações na companhia foram divididas com a pasta da Agricultura em um acordo político. Nessa divisão, Geller, até então muito próximo ao ministro Carlos Fávaro (Agricultura), ficou com duas das vagas.

Uma delas foi para Juliana Vieira Geller, nomeada em abril como assessora da presidência da Conab em regime de contrato especial, conforme registrado no site da companhia. A advogada tem salário de R$ 15.220,38 (valor bruto). Ela foi nomeada quatro meses antes de o marido assumir a secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura. Na época, Geller já atuava informalmente como secretário da pasta, mas aguardava uma decisão da Justiça para a contratação ser publicada.

Procurada, a Conab disse que Juliana foi contratada mediante análise de currículo. "A Conab recebeu vários currículos, incluindo o da assessora. Foi escolhida a partir do perfil para a função que executa na assessoria da presidência", informou. A coluna solicitou o anúncio da vaga de emprego, mas não recebeu resposta. O ministério não respondeu à reportagem.

Na Conab, o nome de Juliana Geller aparece em atas de reuniões da diretoria-executiva onde são discutidos temas como leilões e, frequentemente, em reuniões da presidência, inclusive nos dias em que a empresa estava discutindo o leilão do arroz.

A Conab nega que Juliana tenha participado de alguma reunião que tratou do leilão do arroz e diz que a função da advogada como assessora da presidência é "redigir atas".

"Foto de milhões"

O leilão de arroz importado foi anulado pelo governo Lula (PT) após a imprensa revelar que entre os vencedores do certame estavam uma companhia de locação de veículos, uma comerciante de queijos e uma processadora de polpas de frutas.

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Neri Geller foi demitido após a revelação pela imprensa de que é ligado ao empresário Robson França, seu ex-assessor parlamentar que intermediou a venda suspeita de 44% de arroz no leilão. Robson França também teria relações com os filhos de Geller.

Em abril de 2023, o diretor da Conab apadrinhado por Geller postou uma foto no Instagram dentro de um carro ao lado do mesmo empresário com a legenda "foto de milhões com os companheiros".

Em meio à crise, Santos foi autorizado pelo presidente da Conab a sair de licença remunerada. A decisão foi publicada em 13 de junho, um dia antes de iniciar o afastamento. O período pula os finais de semana e compreende o dia 14 de junho (sexta-feira) e os dias 17 a 21 deste mês. Ele é mantido no cargo a pedido do ministro Carlos Fávaro, segundo apurou a coluna.

A Conab diz que ele é um diretor e tem direito a licença remunerada sem explicar os motivos de o período ser gozado no momento em que sua área enfrenta uma crise.

A coluna procurou o ex-deputado Neri Geller e o ministro Carlos Fávaro, mas não houve resposta até o momento.

Leilão do arroz

O governo insistiu com a realização do leilão, mesmo a área técnica da Conab sendo contra. Alegou que a crise climática no Rio Grande do Sul impactaria no preço do grão e no abastecimento de outros estados. Os sacos de arroz terão a logomarca do governo, o que a oposição apontou como uso político da medida. Fávaro e o ministro Rui Costa (Casa Civil) convenceram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva da medida. O resultado do leilão acabou virando um problema político para o presidente - com a bancada ruralista contra e suspeitas de corrupção.

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Relatório da área técnica da Conab entre 3 e 7 de junho apontava, contudo, ser desnecessário importar o grão. O texto dizia que, apesar da crise climática no RS, 99,2% da área total já havia sido colhida no período. Apenas "uma pequena parcela não foi colhida devido aos alagamentos".

Os técnicos concluem: "Ainda assim as perdas totais não foram tão catastróficas, pois grande parte da área semeada já estava colhida à época das grandes chuvas".

Em audiência pública na Comissão de Agricultura, o líder da bancada ruralista, deputado Pedro Lupion (PP-PR), questionou o fato.

"Como pode o senhor Silvio Porto, diretor técnico da Conab, assinar uma nota técnica dizendo a necessidade da compra de arroz por causa de desabastecimento se a própria Conab emitia documentos reconhecendo que não havia desabastecimento?", disse.

Ele também ressaltou a ligação de Silvio Porto com o PT da Bahia e mencionou "a compra de milho realizada pelo governo daquele estado, assinada pelo diretor técnico da Conab, que envolveu uma empresa de locação de veículos, a SR Locações, que nunca tinha se envolvido na compra de cereais. Isso levanta suspeitas de irregularidades." O diretor é filiado ao PT, assim como o presidente da Conab.

"E o presidente da Conab que assinou o processo? E o diretor Sílvio Porto, que não é essa santidade coisa nenhuma. O povo da Conab não sabia disso? Isso cheira maracutaia, tem que ser investigado sem dó nem piedade", emendou o deputado Alceu Moreira (MDB-RS).

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