Andreza Matais

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Fotos exibem precariedade em aviões da Voepass; Latam mantém parceria

Quatro dias depois do acidente com avião da Voepass, que matou 62 pessoas, e apesar da situação precária das aeronaves vir à tona, a Latam continua vendendo voos da companhia com a qual tem um acordo comercial desde 2014.

Um consumidor que compra no site da Latam um voo Brasília-Fernando de Noronha, por exemplo, faz o primeiro trecho pela Latam e o segundo pela Voepass. Esse modelo é chamado de codeshare.

Fotos e vídeos aos quais a coluna teve acesso mostram aeronaves operadas pela Voepass com a escada de acesso sem corrimão, avarias e até porta de segurança sem trava.

Escada sem corrimão em avião da Voepass
Escada sem corrimão em avião da Voepass Imagem: Reprodução

Ex-funcionários da Voepass também relatam — em condição de anonimato — terem presenciado falta de peças para reposição, que a companhia resolvia tirando de uma aeronave para colocar em outra, além de falhas chamadas de "estol" — perda da velocidade de voo, e em muitos casos, perda temporária da sustentação e do controle da aeronave, segundo a Anac.

A coluna questionou a Latam sobre a possibilidade de reavaliar o acordo comercial, diante dos relatos acerca da Voepass.

A resposta: "A companhia esclarece que acordos comerciais de codeshare (código compartilhado) são frequentes na aviação brasileira e mundial. Atualmente, a LATAM mantém acordos de codeshare com empresas aéreas de todo o mundo, inclusive com a Voepass, a companhia aérea responsável pelo voo 2283 [que caiu na última sexta]".

O site da Latam informa no momento da compra que o voo será operado pelas duas empresas e também comunica ao consumidor sobre a operação casada por email.

Mesmo assim, muitos consumidores reclamam nos canais oficiais do governo e no site Reclame Aqui, alegando que só descobriram que um trecho seria operado pela Voepass no aeroporto.

Procurada sobre as denúncias de precariedade das aeronaves na segunda (12), a Voepass enviou nota à coluna quarta-feira (14).

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O acidente

O avião operado pela Voepass caiu em Vinhedo (SP) na última sexta-feira (9).

O ministro da Defesa, José Múcio, confirmou à coluna que a hipótese mais provável é a de gelo na asa do avião.

Pilotos disseram ao UOL que as investigações precisam esclarecer o motivo de o piloto não ter acionado o sistema que derrete o gelo e a razão pela qual ele não acionou os controladores de voo para informar a pane.

O ministro nega que tenha havido falha na comunicação, algo especulado em conversas privadas de grupos de WhatsApp de pilotos.

Como revelou a coluna, há 4.151 reclamações ativas sobre a Voepass registradas no site Reclame Aqui, maior plataforma de pesquisas de opinião sobre a qualidade dos serviços ofertados por empresas.

Dados disponíveis no site da Anac (Agência Nacional de Aviação) mostram que as reclamações são crescentes e que, entre 2022 e 2023, foram 218.944, sendo que 16.764 sobre a execução do voo.

Na noite do acidente, já fora do expediente, a Anac mudou para "acesso restrito" uma auditoria feita na Voepass. O órgão regulador disse que esta é uma situação "usual", sem esclarecer a razão de ter fechado o processo ao público na calada da noite do dia da tragédia.

Nesta terça (13), o Ministério Público junto ao TCU ingressou com uma medida cautelar para que a Anac torne os documentos públicos.

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Sobre as reclamações de clientes, a Voepass tem afirmado que "trabalha arduamente para atender as expectativas de seus clientes. A empresa é solidária a eventuais queixas, que são consideradas para aprimorar a prestação de nossos serviços, e concentra o atendimento a elas em seus canais oficiais".

Leia a íntegra da nota da Latam:

A LATAM Airlines Brasil reitera novamente o seu profundo pesar e respeito aos familiares e amigos dos passageiros e tripulantes do voo 2283 da Voepass.

A companhia também esclarece que acordos comerciais de codeshare (código compartilhado) são frequentes na aviação brasileira e mundial. Atualmente, a LATAM mantém acordos de codeshare com empresas aéreas de todo o mundo, inclusive com a Voepass, a companhia aérea responsável pelo voo 2283.

Em um codeshare, uma empresa vende passagens aéreas de um voo, enquanto a outra empresa é responsável por toda a operação do voo.

A empresa operadora do voo é quem responde por toda a gestão técnica e operacional, incluindo o atendimento aos passageiros nos aeroportos, o próprio voo e as suas eventuais contingências. Não se trata, portanto, de "transferência" ou "terceirização" de operações.

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Leia a íntegra da nota da Voepass:

"A VOEPASS informa que todas as nossas aeronaves em operação estão aeronavegáveis e aptas a realizar voos, com todos os sistemas requeridos em funcionamento, cumprindo o que estipulam as autoridades e a legislação setorial vigente. A VOEPASS possui IOSA, requisito de excelência operacional emitido para os membros da IATA desde 2006.

Os protocolos de segurança incluem as manutenções. Na caso da aeronave que aparece com a avaria na fuselagem, tratou-se de um evento de estouro de pneu após o pouso, o que demandou ação de manutenção no local a fim de cumprir todos os processos previsto e aprovados para esse evento.

Somente após ser efetuada toda a manutenção e restabelecido todos os aspectos técnicos previstos, a aeronave voltou a operação. Vale realçar que toda ocorrência do tipo com as aeronaves é registrada nos órgãos competentes e o traslado para o local de manutenção só é feito com a devida autorização e certificação, sempre sem passageiros."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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