Topo

Balaio do Kotscho

Bolsonaro leva disputa política às ruas

Protesto "Ele Não" no Distrito Federal durante a campanha presidencial - Andre Borges/AGIF
Protesto 'Ele Não' no Distrito Federal durante a campanha presidencial Imagem: Andre Borges/AGIF

Colunista do UOL

07/03/2020 16h28

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Começa amanhã, Dia Internacional da Mulher, a temporada de protestos a favor e contra o governo marcados para o mês de março.

O que podemos esperar dessa volta do povo às ruas, após um longo período de hibernação, em que a disputa política se limitou ao Fla-Flu das redes sociais?

Num país em que até o passado é imprevisível, na perfeita definição de Pedro Malan, é temerário prever o que pode acontecer nas quatro manifestações programadas para os próximos dias. Vai depender muito de como se comportarão as PMs.

A se medir pelas manifestações nas redes sociais, a mobilização é maior do lado do governo, para o ato pró-Bolsonaro do dia 15, que ganhou um impulso com as declarações do general Augusto Heleno contra o Congresso em que sugeriu ao presidente chamar o povo às ruas para poder governar.

Como todo protesto, por princípio, tem que ter um inimigo a combater, o principal alvo dos bolsonaristas é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia — ironicamente, o principal responsável pela única conquista do governo até agora, a aprovação da Reforma da Previdência.

Do lado da oposição, o que não falta são bandeiras e inimigos declarados, mas até agora não se vislumbra uma palavra de ordem unificada nos três protestos programados capaz de fazer as pessoas saírem de casa. Não tem nada previsto de "Fora, Bolsonaro", nem "Impeachment Já". São demandas genéricas em favor da democracia.

O fato novo desta temporada é a ausência de lideranças partidárias na convocação dos atos, organizados por diversos movimentos sociais de direita e de esquerda, sem um comando centralizado.

Os partidos de oposição estão indo a reboque desses movimentos, tanto na manifestação das mulheres no domingo, como no dia 14, para lembrar dois anos da morte de Marielle Franco, e no dia 18, em defesa da educação e do serviço público.

Como nem partido tem, Bolsonaro foi ele mesmo às redes sociais postar um vídeo para convocar seus seguidores. Com isso, acabou mobilizando também seus adversários, que vinham discretamente organizando esses atos desde o início do ano.

Até aqui, fora da blogosfera, o clima é de absoluta calmaria, ao contrário do que acontecia em outros tempos, com cartazes e faixas chamando para as manifestações, panfletagens, divulgação boca a boca, assembleias estudantis e sindicais e acaloradas discussões nos botecos.

A impressão que tenho, do lado de fora, é de uma disputa entre profissionais e amadores. Enquanto os bolsonaristas ocuparam as redes hoje com a hashtag #rodrigomaianacadeia, entidades ligadas à esquerda ainda estão discutindo o que devem ou não escrever nas faixas que levarão para as manifestações das mulheres.

O presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, meu amigo Antonio Funari Filho, sobrevivente de outras batalhas, está ele mesmo mandando convites por Whatsapp para a sua lista:

"Todo apoio à marcha das mulheres na Paulista, dia 8, para que seja o renascimento do profético movimento "Ele Não!".

Como quase não há cobertura das manifestações na imprensa, a exemplo do que aconteceu no início da campanha das "Diretas Já", em 1984, com a honrosa e solitária exceção da Folha, a maioria da população nem ficará sabendo de nada.

Por coincidência ou não, o ato do dia 15 pró-Bolsonaro marcará também a estreia da CNN no Brasil, que certamente dará uma ampla cobertura para as manifestações programadas em todo o país.

Costumo dizer que nada acontece por acaso. Junto com as manifestações, haverá a tradicional guerra dos números para contar quantos foram às ruas em cada manifestação, a favor ou contra o governo. Geralmente, prevalece a contagem feita pelas PMs em cada cidade.

Me mandaram agora, quando estava terminando de escrever esta coluna, o belo vídeo "Golfas - Volando Vengo", assim mesmo, em espanhol, sobre a luta das mulheres no mundo.

Vale a pena ver. Como pai de duas meninas — na verdade, jovens senhoras — e três netas, estou com elas.

Vida que segue.