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Ministro desiste de falar ao Congresso sobre dossiê contra antifascistas

André Mendonça, ministro da Justiça e Segurança Pública  -  José Cruz/ Agência Brasil
André Mendonça, ministro da Justiça e Segurança Pública Imagem: José Cruz/ Agência Brasil

Colunista do UOL

03/08/2020 18h54

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Se depender do ministro da Justiça, André Mendonça, vai continuar secreto o dossiê contra 579 policiais e professores "antifascistas, denunciado há nove dias pelo repórter Rubens Valente, do UOL.

Após ser convidado por um grupo de senadores da Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência, uma audiência de Mendonça chegou a ser agendada para esta terça-feira, mas hoje o Ministério da Justiça comunicou seu cancelamento, alegando se tratar de "assunto sigiloso".

Estava previsto que o encontro virtual seria aberto ao público.

Depois de dizer que não poderia confirmar nem negar a existência do relatório sobre o "movimento antifascismo", elaborado em junho pela Secretaria de Operações Integradas (Siopi) e que é alvo do Ministério Público, o ministro anunciou domingo, em entrevista à Globo News, que abriu uma sindicância para apurar a natureza do dossiê, com a participação da Controladoria Geral da União (CGU) e da Advocacia Geral da União (AGU).

As atividades da Siopi são tão secretas que nem o ministro sabe por que e para que foram investigados e fichados os integrantes do movimento.

Não seria mais fácil chamar o responsável pela secretaria que preparou o dossiê para lhe explicar do que se trata?

Bastante incomodado com o assunto, o ministro desconversou na entrevista:

"A questão não é ser antifascista ou não. Não é um rótulo que vai dizer o conteúdo de um eventual grupo que se manifesta pelo antifascismo. Não estou qualificando e nem desqualificando".

Apesar de todos os indícios de se tratar de uma polícia política para monitorar opositores ao governo, nos moldes do antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), agora montado no Ministério da Justiça, Mendonça se limitou a negar as suspeitas levantadas por parlamentares e juristas.

"Dentro da minha administração não admito qualquer perseguição a grupo de qualquer natureza. Isso não é aceitável num estado democrático de direito".

Nos velhos tempos do SNI da ditadura militar, investigavam células comunistas. Algo mudou. Agora os alvos são os antifascistas contrários ao governo, que defendem exatamente o estado democrático de direito, ameaçado por neofascistas das milícias digitais e reais que pedem intervenção militar e a volta do AI-5.

Da próxima vez, em lugar de convidar, a Comissão Mista deveria convocar André Mendonça para explicar trabalho do Siopi e o que foi apurado na sindicância do Ministério da Justiça.

É a única forma de passar esta estranha história a limpo.

Vida que segue.