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Balaio do Kotscho

Futebol brasileiro sobrevive em técnicos como Paulo Autuori

Colunista do UOL

23/08/2020 15h55

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Bayern e PSG fazem daqui a pouco o jogo do ano na grande final da Champions em Lisboa, mas acabei de ver agora um belo jogo aqui mesmo no Maracanã entre Flamengo e Botafogo.

O Flamengo já não é mais o fantástico time do técnico português Jorge Jesus, mas o que mais chamou a atenção foi o time de garotos do Botafogo, formado por Paulo Autuori, técnico campeão do mundo pelo São Paulo nos anos 80, que andava meio sumido da vitrine.

No papel, jogador por jogador, não dava nem para comparar os dois times, mas no campo eles jogaram de igual para igual, buscando o ataque e a vitória durante os 90 minutos, até que Pedro Raul, um dos garotos do Botafogo, fez um fantástico gol de meia bicicleta, já nos descontos.

Além da sua competência, Autuori sempre foi um técnico pé quente, e já estava comemorando a vitória, quando o VAR entrou em campo mais uma vez e deu um pênalti duvidoso para o Flamengo, como tem acontecido muito ultimamente.

Acabou 1 a 1, mas poderia ter sido 4 a 4, tantas foram as oportunidades de gol criadas pelos dois times, que se entregaram de corpo e alma em busca do resultado, até o final.

Com nossa autoestima lá em baixo, nestes tempos de pandemia e futebol com estádios sem torcida, grandes times paulistas como Corinthians, Palmeiras e o meu São Paulo, jogando só para não perder, tocando a bola de lado e fazendo chuveirinhos para a área, ver um jogo como esse faz bem para a alma de quem gosta de futebol. .

Foi isso que me fez deixar a política um pouco de lado para não estragar o domingo de ninguém e falar de uma coisa boa.

Ao acompanhar a Champions, a gente fica até com vergonha de ver o que fizeram com o nosso futebol, eu sei, mas precisamos saber lidar com o que temos.

O que ainda me faz ter esperança é ver um time sem estrelas como o Botafogo, que sabe das suas limitações técnicas, mas joga como time grande, que deu um nó tático no time do badalado Sampaoli e venceu o Atlético MIneiro, que por sua vez ganhou do Flamengo, apenas suando e honrando a camisa que veste.

É exatamente o que falta hoje no São Paulo, onde um bando de atletas burocráticos bem pagos, joga apenas para cumprir a tabela e receber no fim do mês, sem sentir a vergonha da sua torcida, principalmente dos jovens que se acostumaram aos times de Telê e Murici, que jogavam com a alma na ponta da chuteira, tinham orgulho e respeito pela camisa tricolor.

Essa é a diferença entre um Paulo Autuori, que não faz média com a mídia, como um Fernando Diniz, cheio de teorias sobre o futebol moderno, mas que nunca consegue fazer seu time ter controle de bola e jogar e fazer gols para ganhar, ao mesmo tempo.

Futebol não é só resultado, mas se for só por beleza prefiro ver um balé ou um desfile de escola de samba.

Não consigo mais ver a tristeza da minha neta Bebel, fanática pelo São Paulo, que bota camisa até para acompanhar o jogo pelo rádio, sem ninguém ver, e depois ouvir o técnico e os dirigentes dizendo que o time está melhorando, tem que ter paciência. Acabou a paciência.

Vamos parar com essas bobagens. Ninguém jogou mais bonito do que a seleção brasileira tri-campeã do mundo. Uma coisa não elimina a outra.

O time do Flamengo é o mesmo de Jorge Jesus, mas agora é um outro Flamengo, que depende do VAR para não perder.

Técnico faz, sim, a diferença. Paulo Autuori está aí para provar.

Mas não adianta trocar de técnico, se uma diretoria jurássica e incompetente vende seus jovens craques para contratar jogadores em fim de carreira, como tem acontecido no São Paulo.

Casemiro, Kaká, David Neres, e agora Antony, não me deixam mentir. Quanto dinheiro foi jogado fora com Pato, Daniel Alves e tantos outros aposentados ainda em atividade?

Falido dentro e fora do campo, meu time hoje é um retrato do Brasil bolsonariano, que não é bonito, para não dizer que não falei de política.

Bebel não merece isso. Nós hoje vamos ver a final da Champions na hora do jogo do São Paulo contra o Sport para fugir do rebaixamento. Coisas da vida.

Eu vou torcer pelo Bayern, pelas minhas raízes alemãs, e ela, pelo PSG, do seu ídolo Neymar. Essa é a graça do futebol que ninguém vai tirar de nós. .

Vida que segue.