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Balaio do Kotscho

Comparado ao debate dos EUA, encontro de candidatos na Band parece 1º mundo

A regra no Brasil costuma ser esculhambar o produto nacional, mas hoje é dia de elogios - Reprodução
A regra no Brasil costuma ser esculhambar o produto nacional, mas hoje é dia de elogios Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/10/2020 15h12

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Esse mundo está mesmo virado de pernas para o ar. Quem poderia prever uma coisa dessas?

Depois de assistir àquela baixaria de Trump X Biden esta semana, um bate-boca de botequim de beira de estrada, foi uma grata surpresa acompanhar o debate da Band em São Paulo, na noite desta quinta-feira, retransmitido aqui no UOL.

Com 11 candidatos no palco, foi um primor de organização, moderação e respeito ao público, uma verdadeira lição de civilidade e competência aos que se acham os donos do mundo.

Estão de parabéns o diretor de jornalismo da emissora, Fernando Mitre, o moderador Eduardo Oinegue e os candidatos, que superaram todas as restrições da pandemia e levaram ao ar um programa limpo, que respeitou os telespectadores, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos.

Sem entrar no mérito dos concorrentes ao cargo de prefeito de São Paulo, algo que meus colegas já fizeram em vários comentários no UOL, o que mais me chamou a atenção foi o contraste entre o debate brasileiro e o americano, como se o Primeiro Mundo fosse aqui.

Estamos tão acostumados a esculhambar com tudo o que acontece no Brasil que eu não poderia perder essa oportunidade de mostrar que, quando queremos, somos capazes de produzir coisas bem feitas.

Minha expectativa não era boa, confesso, diante do grande número de candidatos nanicos e a perspectiva de arranca-rabos entre joices e russomannos, os ex-aliados que viraram inimigos e concorrem na mesma faixa.

Não sei se deram algum calmante ao elenco de prefeitáveis antes do debate ou puseram alguma coisa no álcool gel nos púlpitos, mas todos se comportaram até o final como se estivessem no Parlamento britânico (de antigamente), com todos respeitando o tempo de cada um para fazer perguntas e dar respostas.

Ninguém xingou ninguém, nem levantou a voz para ganhar no grito como tentou Trump, quase não deram trabalho ao Eduardo Oinegue, o âncora do Jornal da Band.

Aqui tiro meu chapéu para o veteraníssimo Mitre, um pioneiro na organização desses debates eleitorais na Bandeirantes, desde a redemocratização do país.

Mas me deu uma certa nostalgia ao lembrar do primeiro grande debate que marcou a volta das eleições diretas para presidente da República, em 1989, também com um monte de candidatos no palco (se não me engano, eram 11 também).

Para vocês terem uma ideia, estavam lá, frente a frente, Leonel Brizola, Lula, Ulysses Guimarães, Mário Covas, Aureliano Chaves e, entre outros, um franco-atirador chamado Fernando Collor de Mello, o "caçador de marajás" das Alagoas, que acabou eleito no segundo turno.

Só não me lembro quem era o moderador e quem ganhou aquele debate.

É até covardia comparar os personagens daquele tempo com os de hoje, mas não adianta reclamar. Após a implosão do sistema político-partidário do país, é o que temos, foi o que sobrou.

O já então velho mestre Dr. Ulysses, o Senhor Diretas, que teve uma votação pífia, diria que nenhum país tem candidatos melhores do que os seus eleitores e vice-versa. Os Estados Unidos que o digam.

Uns e outros são retratos do seu tempo.

Se o caro eleitor e a cara eleitora ficaram decepcionados com as propostas dos candidatos a prefeito, que pelo menos escolham o menos pior, para não se queixar depois.

A Band cumpriu seu papel de colocar todos na vitrine, dando a eles as mesmas oportunidades de se apresentar, sem interrupções.

No segundo turno, a emissora promete fazer uma segunda rodada, mantendo a sua tradição. Não percam.

Vida que segue.