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Bolsonaro continua campanha contra a vacinação e agora anunciará plano

Aglomerados por Bolsonaro: lá vamos nós outra vez na contramão da história - FEPESIL/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
Aglomerados por Bolsonaro: lá vamos nós outra vez na contramão da história Imagem: FEPESIL/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

15/12/2020 17h57

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Vários países do mundo civilizado já iniciaram na semana passada a imunização em massa das suas populações contra a covid-19, neste final de 2020, mas no Brasil o presidente da República continua em sua campanha contra as vacinas, recusando-se a aceitar a gravidade da pandemia.

Aqui ainda não temos vacinas, nem seringas, e a cada dia o capitão procura criar novos obstáculos para a implantação de um Programa Nacional de Imunização, que já deveria estar pronto há muito tempo, e só agora será anunciado, solenemente, por Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, nesta quarta-feira.

Na segunda-feira, dando risadas, como se estivesse num botequim, no cercadinho montado para receber seus devotos no Alvorada, Bolsonaro comunicou que vai assinar uma medida provisória destinando R$ 20 bilhões para a compra de imunizantes, mas a vacinação não será obrigatória e quem tomar terá que assinar um termo de responsabilidade.

Para que este termo? Para eximir o governo de responsabilidade caso as vacinas da Pfizer, que ainda nem foram compradas, apresentem reações adversas.

Isto não existe em lugar nenhum do mundo, onde são feitas campanhas em todas as mídias, para que a maior parte da população seja vacinada, única forma de conter o coronavírus.

Ao insistir na não obrigatoriedade da vacinação e nos perigos que ela pode acarretar à saúde, Bolsonaro dá corda aos seus seguidores mais fanáticos que inundam as redes sociais com fake news, fazendo com que 22% da população tenha medo de se vacinar, segundo o Datafolha.

Medo, insegurança e desinformação é o que o presidente nos oferece neste momento.

Propaganda "antivachina"

A campanha que Bolsonaro desencadeou contra a Coronavac levou 50% dos entrevistados na pesquisa a declarar que não aceitarão a "vacina chinesa do Doria", que já começou a ser produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo.

Agora, o Ministério da Saúde, comandado por um nanogeneral sem poder nem noção, já admite incorporar a Coronavac no pacote de vacinas, contra a vontade de Bolsonaro, que mandou cancelar há dois meses um convenio firmado com o mesmo Butantan para a compra de 46 milhões de doses.

Mas se os devotos do presidente se recusarem a receber esta vacina, ampolas irão encalhar nos depósitos do Ministério da Saúde, junto com os testes que há meses aguardam uma destinação antes de vencer o seu prazo de validade.

Em vez de distribuir logo os testes, o governo simplesmente ampliou o prazo de validade, como se estivesse lidando com refrigerantes.

O brasileiro que se responsabilize

Especialistas em saúde, ministros do STF e até aliados do presidente ouvidos pelo portal G1 reagiram à maluquice do "termo de responsabilidade", que deve ser vetado no Congresso ou no Supremo, mas vai ser incorporado no texto do relator da medida provisória, deputado Geninho Zuliani (DEM-SP), a pedido do presidente.

Estamos agora nas mãos do Geninho, Alguém conhece? Vejam o que ele disse, após se reunir com Bolsonaro:

"O presidente da República quer repassar isso, de forma segura, de forma clara, de forma transparente, a todos que receberão a vacina".

Que maravilha!, assim ficamos todos mais tranquilos.

"Parece mais uma medida para gerar polêmica e fugir da sua responsabilidade como dirigente do país", disse reservadamente um ministro do STF ao G1.

Reinaugurando relógios, voltando no tempo

Epidemiologistas criticam a exigência do termo de responsabilidade e afirmaram: "Parece que o presidente não quer que a vacina aconteça".

Só parece, não. É exatamente isso: por palavras e obras, ação ou omissão, Bolsonaro não está preocupado em salvar vidas, mas garantir a sua reeleição.

Enquanto o atarantado general Pazuello distribuía convites a todos os governadores, parlamentares e demais autoridades militares, civis e eclesiásticas, como se dizia antigamente, para a pajelança de amanhã no Planalto, o capitão foi a São Paulo para "reinaugurar um relógio" (?) no Ceagesp, a maior central de abastecimento do país, onde reuniu uma multidão, digna de final de campanha eleitoral.

Na véspera, o presidente havia encerado uma cerimônia de formatura de novos agentes da Polícia Federal com o seu brado de guerra "Acabou, porra", ovacionado aos gritos de "Mito".

É em meio a essa fuzarca federal, que o Brasil, a cada dia que passa, volta a registrar novos recordes de óbitos e contaminações, e os hospitais superlotados de todo o país pedem socorro.

Cenas do presente

Estava na cara que tudo isso poderia iria um dia acontecer, desde quando Bolsonaro ainda era um tenente do Exército, que planejava jogar bombas nos quartéis e na estação de tratamento de águas do Rio de Janeiro, para pedir aumento de soldos (o processo está no Superior Tribunal Militar e no livro do jornalista Luiz Maklouf).

Sem se importar com a vida, o ex-tenente, reformado como capitão ao ser saído do Exército, sempre cortejou a morte, nos quase 30 anos que passou no baixo clero da Câmara, defendendo ditadores e torturadores, enquanto a família engordava o patrimônio com as "rachadinhas" de funcionários fantasmas. .

Deu medo de ver hoje Bolsonaro gritando com os olhos virados e os braços erguidos, contra os "corruptos" que administravam o Ceagesp, antes de nomear um coronel da Rota da PM, que convocou todos os funcionários e concessionários para receber o presidente com camisas amarelas no evento do relógio.

Estas cenas, no futuro, farão lembrar a escalada ao poder da Alemanha dos anos 30 do século passado, que a gente já viu nos filmes em branco e preto. Agora é tudo colorido.

"A história se repete, a primeira vez como tragédia e, a segunda, como farsa", já ensinava aquele velho alemão barbudo.

Estamos vivendo uma farsa e, ao mesmo tempo, uma grande tragédia. As vítimas, lamento informar, somos todos nós.

Não temos para onde fugir. Está tudo dominado.

Vida que segue.