Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bolsonaro conseguiu: saúde entra em colapso e o país mergulha no caos
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Tanto fez ou deixou de fazer que Bolsonaro conseguiu o queria: por ação ou omissão, a necropolítica genocida na gestão da pandemia mergulhou o país no caos, com recordes diários de mortos e doentes de covid (um novo caso é registrado a cada 3 segundos), e o desemprego vitimando 13,4 milhões de brasileiros (maior índice desde 2012).
É a tempestade perfeita: de um lado, a pandemia completamente fora de controle; de outro, o pandemônio tomando conta do governo e das instituições.
Na mesma quinta-feira em que o Brasil registrou mais 1.582 mortos (o equivalente a 6 tragédias de Brumadinho ou a queda de 6 Boeings), em sua live semanal o presidente voltou a fazer campanha contra o uso de máscaras de proteção, a única forma eficaz de combater a disseminação do vírus.
Irresponsável e inconsequente como se estivesse num papo de boteco, citou pesquisa de "uma universidade alemã", sem dizer qual nem aonde, que teria comprovado o perigo do uso de máscaras por crianças.
Em defesa da saúde pública, esta live deveria ter sido imediatamente tirada do ar e apagada, para evitar que os casos e as mortes se multipliquem ainda mais.
Perigoso é deixar Bolsonaro solto por aí e cometendo crimes de responsabilidade em série cada vez que abre a boca, para falar sobre o que não entende, apegado apenas às suas crenças e delírios.
No pior momento desde o primeiro caso do novo coronavírus, há exatamente um ano, em vez de se preocupar com o caos na saúde pública, que está levando ao colapso os hospitais de 17 Estados brasileiros, a Câmara dos Deputados, sob o comando do Centrão de Arthur Lira, quer aprovar a toque de caixa a lei da impunidade geral para os crimes praticados por parlamentares.
Para acalmar os "mercados" de Paulo Guedes, depois da abrupta intervenção na Petrobras num dos seus chiliques, Bolsonaro foi duas vezes esta semana ao Congresso para entregar projetos de privatização da Eletrobras e dos Correios, e em nenhuma delas discutiu providências para combater a pandemia galopante, em meio à miséria e ao desemprego que assolam a população.
Governo e Congresso vivem em outro mundo, enquanto governadores, médicos e cientistas alertam para a gravidade da situação que agora está deixando preocupado até o general Pazuello, o ministro da doença e da morte.
"A população precisa acordar para a dimensão da nossa tragédia que vai levar a um colapso nacional da saúde pública", adverte o neurocientista Miguel Nicolellis, um dos mais respeitados pesquisadores brasileiros.
Diante da balbúrdia na vacinação, que foi suspensa esta semana em várias capitais por falta de imunizantes, o governador da Bahia, Rui Costa, foi um busca dos laboratórios para fazer a compra direta, e prevê: "O Brasil vai mergulhar no caos em duas semanas".
Na verdade, o caos já foi instalado há tempos pelo governo federal e a situação só pode se agravar cada vez mais, com o presidente preocupado apenas em se reeleger e em aprovar mais leis para liberar armas e munições, como se o vírus pudesse ser enfrentado a bala.
Filas de pacientes à espera de um leito de UTI se formam nos hospitais públicos e privados, sem que o Ministério da Saúde, lotado de militares e "especialistas em logística", consiga sair da sua inércia e apresentar um cronograma de imunizações em todo o país.
Em São Paulo, o hospital Albert Einstein já registrou hoje a ocupação de 104% dos leitos e, o Sírio-Libanês, tem 19 pacientes na fila da UTI.
Sem vagas nos hospitais, já advertia o infectologista David Uip no início da pandemia, não adianta ter o melhor plano de saúde do mundo.
Com os médicos e o pessoal de enfermagem à beira da exaustão, tendo que decidir quais pacientes poderão ser salvos ou não pois não há respiradores nem oxigênio para todos, o Brasil entra no segundo ano da pandemia sem a menor noção de quando quando esse pesadelo terá fim.
Se era isso que Bolsonaro procurava, achou. Qual será agora o próximo passo?
Vida que segue.
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