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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mesmo com vacina, ainda não é hora de sair às ruas para fazer protestos

Isolado e pressionado pelo Congresso, Ernesto Araújo pede demissão: e de que adianta trocar só o chanceler? -
Isolado e pressionado pelo Congresso, Ernesto Araújo pede demissão: e de que adianta trocar só o chanceler?

Colunista do UOL

29/03/2021 12h47

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Durou pouco a alegria dos velhinhos sobreviventes da "Passeata dos Cem Mil" de 1968, que pretendiam voltar às ruas do Rio de Janeiro para protestar contra o governo Bolsonaro (ver coluna de domingo).

Como esta geração já está tomando a segunda dose da vacina, pensou-se que eles poderiam organizar uma nova manifestação para lembrar o protesto de 53 anos atrás pela morte do estudante Edson Luiz, assassinado pela polícia durante uma passeata de estudantes contra a ditadura militar.

A ideia lançada pela jovem economista Laura Carvalho, logo ganhou a adesão de José Trajano e outros jornalistas da época, que se mobilizaram nas redes sociais para organizar um ato no dia 26 de junho, dia da morte do estudante, só com quem já está imunizado.

Na noite de domingo, depois de consultar o pessoal da área de saúde, entre eles o cientista Miguel Nicolellis, Trajano achou melhor não tocar em frente a ideia de fazer o protesto, pelo menos por enquanto.

Mesmo após a aplicação da segunda dose, com o surgimento das novas variantes do vírus, todo cuidado ainda é pouco. Não é hora de baixar a guarda, advertiram os médicos.

Ficamos naquela situação de que se ficar o bicho (do governo) pega; se correr, o bicho (do vírus) come.

Imobilizados pela pandemia, os brasileiros estão condenados a sofrer calados os desmandos do governo no combate à pandemia, que continua fora de controle, batendo sucessivos recordes de mortos e contaminados.

A semana começou com falta de leitos de UTI, onde 80% dos internados não sobrevivem; onde há leitos, não há remédios: onde há remédios, falta oxigênio; onde ainda tem oxigênio, faltam médicos e enfermeiros.

Com o país à matroca, adernando como aquele navio encalhado no Canal de Suez, profissionais de saúde exaustos e impotentes fazem apelos dramáticos relatando a falta de condições mínimas de trabalho para atender os pacientes que não param de chegar aos hospitais.

Enquanto isso, o Brasil de Brasília fica discutindo o destino do inominável chanceler Ernesto Araújo, que continua atacando a China e os senadores, na tentativa de agradar os bolsonaristas para se segurar no cargo.

E os bolsonaristas infestam as redes sociais para incitar motins das Polícias Militares contra os governadores que defendem o distanciamento social e atacam o lockdown no momento mais grave da pandemia.

No Rio e em São Paulo, a polícia não dá conta de impedir as centenas de baladas e raves clandestinas ou no meio da rua, que agitaram o fim de semana, como se a pandemia já tivesse acabado.

"É triste não poder chamar o genocida de genocida ao lado de muita gente que está desejosa de partir logo para as ruas", lamenta José Trajano, na mensagem em que desmobilizou o protesto de 26 de junho. "Por enquanto, ficamos assim: em casa e ao lado da Ciência. Mas estejam preparados porque, quando for a hora, sai da frente, será inesquecível".

É tudo tão absurdo que, neste momento, o que ainda segura o governo Bolsonaro é a pandemia, que impede a mobilização popular e, por isso, o governo faz de tudo para boicotar a vacinação e as medidas dos governos estaduais para evitar a disseminação incontrolada do vírus.

Para a população encurralada, sem ter a quem recorrer, restam apenas as notas de repúdio, os abaixo assinados, as cartas abertas, os discursos no Congresso e as colunas de jornal, cada vez mais indignadas, até de quem contribuiu para chegarmos a esta situação limítrofe de sobrevivência como cidadãos e como país.

No domingo, até tentei mudar de assunto, mas logo vi que é impossível não usar todo nosso tempo e espaço para denunciar os crimes que estão sendo praticados contra o país por quem deveria defendê-lo diante do inimigo comum do coronavírus.

Nenhuma solução é possível com a permanência de Bolsonaro e sua trupe de aloprados e lunáticos no poder.

Não adianta tirar só o general Pazuello e o chanceler Araújo. O problema está no presidente e no conjunto da sua obra de desmonte do país desde que tomou posse.

Diante deste cenário catastrófico, o teólogo Leonardo Boff apelou para a ajuda de organismos internacionais durante uma live de que participei no sábado, em que se discutiram, sem encontrar, saídas para a crise brasileira.

As lives servem apenas como um respiro para os brasileiros que resistem ao arbítrio, mas ficam der pés amarrados em poder sair às ruas.

Estamos todos de acordo sobre o que não queremos mais. Mas ninguém sabe e o que é possível fazer para evitar este massacre cotidiano.

Se alguém tiver uma ideia, pode mandar aqui para a coluna que eu agradeço e publico. Obrigado.

Vida que segue.

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Veja também no Youtube:

https://www.youtube.com/watch?v=DqNdijdSDKI