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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

E se Lula tivesse sido eleito em 2018, como estaria o Brasil hoje?

Colunista do UOL

23/04/2021 17h42Atualizada em 23/04/2021 19h35

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Na mesma quinta-feira em que Joe Biden e Kamala Harris deixaram a sala de conferências da Cúpula do Clima, bem no momento em que iria falar o capitão-presidente do Brasil, o Supremo Tribunal Federal devolveu os direitos políticos para Lula poder novamente disputar eleições. Não foi por acaso a coincidência.

Esse vexame planetário não precisava ter acontecido em 2021, se Lula tivesse sido eleito presidente pela terceira vez em 2018, como indicavam todas as pesquisas de intenção de voto da época, antes que uma perversa aliança entre a cúpula militar e lavajatistas dos tribunais e da mídia não o tivessem tirado da tomada e enviado para a cadeia em Curitiba, onde passaria 580 dias clamando por Justiça. Quem vai pagar por isso?

Ou alguém poderia imaginar que Biden e Kamala fizessem essa desfeita para o mundo inteiro ver, se o presidente do Brasil não fosse um tipo desqualificado como Jair Bolsonaro, com sua gravata verde, fingindo-se agora um ambientalista convertido de última hora?

Nesse meio tempo, o Brasil de Bolsonaro tornou-se o epicentro da pandemia e o grande vilão planetário do meio ambiente, transformou-se numa ameaça à saúde pública mundial, virou um pária entre as nações, caiu do 6º para o 12º lugar entre as maiores economias, perdeu o protagonismo e o respeito conquistados no começo do século 21.

Nada disso precisava ter acontecido, se a elite econômica brasileira apenas respeitasse a vontade popular, em lugar de correr atrás de um Paulo Guedes qualquer para domar o capitão selvagem, e o sistema judiciário não tivesse se tornado um braço armado de altos interesses estrangeiros, como denunciou o jornal Le Monde, em extensa e bem documentada reportagem.

Desmoralizado e humilhado no julgamento do STF, que por 7 votos a 2 o declarou suspeito e parcial para tratar dos processos contra Lula, Sergio Moro revelou-se em toda a sua mediocridade, passando de super-homem a capacho, ao se negar a falar sobre o julgamento até para a TV Globo, que durante anos o embalou como herói nacional. Para completar, foi chamado por Marcelo Lins, comentarista internacional da GloboNews, de "Sergio Morto", num programa em que todos caíram na gargalhada.

Quem poderia imaginar uma cena dessas apenas seis meses atrás?

Herói de quê? Da perseguição política a serviço de terceiros, de destruidor da indústria pesada nacional e de milhões de empregos, tudo para cavar uma vaga de ministro no governo que ajudou a eleger, para ganhar depois uma vaga no mesmo STF que o desmascarou e humilhou esta semana, devolvendo-o à irrelevância do seu pouco saber jurídico, agora como apenas mais um "consultor" de grandes empresas que ajudou a quebrar?

Em nome do combate à corrupção, Sergio Moro corrompeu o aparelho judicial brasileiro numa operação em que acumulava as funções de investigador, acusador e julgador, para cumprir apenas uma missão: prender Lula e impedir a sua volta ao poder pelo voto, abrindo caminho para um regime de extrema-direita, que já deixou um rastro de mais de 360 mil mortos e milhões de sequelados pelo coronavírus.

Bolsonaro, Moro, seus procuradores amestrados e generais de pijama, agora terão que prestar contas aos tribunais da História, aqui dentro e lá fora.

Não podem ficar impunes. Foram cúmplices de crimes em série contra a vida, a Justiça, o patrimônio público e a soberania nacional.

"Vossa Excelência perdeu, tripudiou Gilmar Mendes sobre Luís Roberto Barroso, o líder da bancada global, um dos parceiros de Moro no STF, ao lado de Fux e Fachin, os últimos que defenderam o ex-juiz até o fim, junto com os editorialistas do Estadão e o acadêmico Merval Pereira, patéticas figuras das causas perdidas.

"Agora eu lavei minha alma para valer", comemorou Lula ao assistir à derrocada do seu algoz, reduzido ao seu verdadeiro tamanho.

Não só Lula, mas uma grande parcela dos trabalhadores brasileiros, que não perderam a dignidade, sentiram-se de alma lavada na noite de quinta-feira, dia 22 de abril de 2021, um dia para ficar na história.

Agora é tudo só uma questão de tempo para o povo resgatar a esperança e o orgulho de ser brasileiro, com o enorme desafio colocado para a reconstrução deste grande país, colocado de joelhos, em frangalhos.

Passei os últimos sete anos apanhando como cachorro magro neste espaço, por defender o direito do meu amigo Lula de se defender das acusações de Sergio Moro, para um dia poder escrever este texto.

Esse dia chegou. Valeu a pena a espera. Sobrevivemos, apesar de tudo, sem mudar de lado.

Vencemos!

Vida que segue.