Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Bruno Covas trabalhou até morrer porque era o que o mantinha vivo
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Ao ler os comentários nas redes sociais sobre a morte de Bruno Covas, o jovem prefeito de São Paulo, eu me lembrei de uma entrevista do cardiologista Adib Jatene, então ministro da Saúde, no programa Roda Viva, da TV Cultura.
Para provocá-lo, perguntei-lhe se não tinha medo de morrer do coração, tão pesada era sua carga de trabalho, pois, além dos compromissos de ministro, ele continuava atendendo em seu consultório e fazendo cirurgias em São Paulo.
"Não, meu filho, o trabalho não mata ninguém. O que mata é a raiva, é a tristeza. É ser obrigado a fazer o que você não gosta e não poder fazer o que você gosta", respondeu-me ele, com um sorriso de velho sábio.
Fiquei impressionado com a quantidade de pessoas que criticaram Bruno por ter-se candidatado à reeleição, mesmo sabendo da gravidade da doença que o acabaria matando.
Mal sabem elas que o que dá força para uma pessoa enfrentar o câncer é justamente continuar trabalhando, pois é isso que as mantem ligadas à vida, quando a gente faz o que gosta.
Foi o que procurei fazer nestes últimos dois meses em que também me submeti a um tratamento oncológico, com químio e radioterapia ao mesmo tempo.
Poucos foram os dias em que não consegui escrever esta coluna, depois de passar por duas cirurgias, e iniciar o tratamento no mesmo hospital de Bruno.
Entendi perfeitamente porque o prefeito continuou fazendo política até sua última semana de vida e ainda escreveu mensagens cheias de otimismo, mesmo nos piores dias.
Ele não queria desistir da vida e esse era o maior exemplo que poderia deixar para seu filho de 15 anos, que não saiu do seu lado no hospital.
O menino nunca vai esquecer do dia, no começo do ano, em que seu pai o levou para ver o Santos, a grande paixão dos dois, na final da Libertadores no Maracanã, outra decisão de Bruno criticada pelos comentaristas de internet que se julgam no direito de opinar sobre a vida dos outros, mesmo sem estar na pele deles.
Eu teria feito o mesmo agora com a minha neta Bebel, também de 15 anos, se o jogo fosse do São Paulo.
Se Bruno errou feio na escolha do seu vice, um desconhecido que nada tem a ver com ele, essa é outra historia, que deixo para os analistas políticos e os juízes da vida alheia.
Só entrevistei Bruno uma vez, quando trabalhava na Folha, na véspera da sua posse como prefeito, no lugar de João Doria, e saí da conversa com a melhor impressão do homem e do político, um sujeito franco e aberto, animado com o desafio que ele não esperava de governar tão cedo a maior cidade do país.
Topou na hora o convite que lhe fiz para fazer um passeio pelo centro da cidade, a pedido do fotógrafo, mas não consegui acompanhá-lo porque sou do tempo do avô dele, Mario Covas, que morreu da mesma doença, também em meio ao mandato, pouco depois de ser reeleito governador.
A gente nunca acha que vai morrer tão cedo... E nunca é tarde para viver.
Vida que segue.
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