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Isolado, Bolsonaro quer partir para o tudo ou nada no dia 7 de setembro
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Sem partido até agora, e rompido com seu vice, o magoado general Hamilton Mourão; em confronto aberto com os tribunais superiores, a grande mídia brasileira e a CPI da Pandemia, que investiga seus crimes no Senado; derretendo em todas as pesquisas e perdendo até o apoio do mercado financeiro de Paulo Guedes, que bancou sua candidatura em 2018, cada vez mais isolado no "cercadinho" do Palácio da Alvorada, capitão Bolsonaro resolveu partir para o tudo ou nada no dia 7 de Setembro.
Desde o último dia 3 de agosto, quando o "último aviso" seria dado numa concentração convocada para a avenida Paulista, no Dia da Independência, para defender o "voto impresso", que já foi derrotado pela Câmara do Centrão, o presidente deixou de vez de governar o país para mobilizar suas falanges do agronegócio, dos madeireiros, garimpeiros e caminhoneiros de Ricardo Salles e Sergio Reis, do submundo das milícias reais e virtuais, com a retaguarda de policiais militares fiéis e da rede bolsonarista de rádio e televisão comandada por ex-jornalistas em exercício, regiamente pagos.
"Repito: é o último recado, para que eles entendam o que está acontecendo e passem a ouvir o povo, e passem a entender que o Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados, e não um pedacinho do DF, eu estarei lá. Se o povo estiver comigo, nós vamos fazer com que a vontade popular seja cumprida", avisou aos devotos do "cercadinho".
A partir daí, os generais palacianos e as autoridades militares que só falam em off com os jornalistas (por que será?) apressaram-se em garantir que não haverá golpe, mas a essa altura ninguém mais acredita nem neles nem no capitão, que se fundiram numa só entidade.
O Ministério da Defesa cancelou os desfiles militares do Dia da Independência, mas o presidente trabalha para colocar multidões nas ruas neste 7 de Setembro para provar que o povo está com ele para o que der e vier, ninguém tasca.
Não há novidade nessa tentativa desesperada de se manter no poder. Líderes autocratas enlouquecidos já fizeram o mesmo na Europa dos anos 30 para atender à "vontade popular" e levaram o mundo à Segunda Grande Guerra.
A ousadia de Bolsonaro não chega a tanto. Contenta-se em declarar guerra ao próprio país para salvar seu mandato e os filhos, e garantir a reeleição, ainda que lhe faltem votos para tanto no momento.
Ninguém costuma anunciar um golpe de Estado _ no caso, um autogolpe _ com tanta antecedência, ainda mais marcado dia, hora e lugar.
Na quinta-feira, Bolsonaro já anunciou que pretende "usar a palavra" em Brasília e São Paulo para produzir "uma fotografia para o mundo sobre o que o povo quer".
"Não é uma palavra de ameaça para ninguém. Eu só posso fazer uma coisa se vocês assim o desejarem".
Clareza nos propósitos não é algo que se deva esperar do capitão, mas não é preciso ser um sábio para adivinhar o que ele quer. Em manifestações anteriores pró-Bolsonaro, o povo dele pediu intervenção militar e o fechamento do Congresso e do STF.
Como não conseguiu até agora mostrar nada de positivo em seu governo depois de 30 meses de mandato, só lhe resta mesmo reclamar que os outros poderes não o deixam trabalhar, algo que nunca fez na vida, e só as Forças Armadas podem garantir a ordem e o progresso. Nem que seja a bala de canhão.
Em sua coluna no jornal O Globo, o bem informado Lauro Jardim publicou neste domingo uma notícia alarmante:
"O Departamento de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo detectou sinais preocupantes em relação ao ânimo de parte dos manifestantes bolsonaristas que estão dispostos a comparecer ao ato marcado para 7 de setembro na avenida Paulista. Há uma movimentação entre alguns grupos para que seus integrantes compareçam à manifestação armados".
Como há uma disputa entre grupos pró e contra Bolsonaro, que já foi parar na Justiça, sobre quem pode ocupar a avenida Paulista neste dia, cria-se o clima propício que Bolsonaro vem procurando, há meses, para uma "convulsão social", que justifique a intervenção das Forças Armadas, tudo o que ele quer.
Se não houvesse a pandemia, e eu não fosse um cidadão desarmado do grupo de risco, acho que seria melhor viajar para bem longe nesse dia 7 de setembro.
Minha família, que já foi vítima, morre de medo das guerras.
Vida que segue.
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