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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com medo de ser preso, Bolsonaro se faz de vítima do STF e de governadores

Colunista do UOL

30/08/2021 20h20

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Bolsonaro agora tem uma nova obsessão: o medo de ser preso ao deixar o governo (ou, quem sabe, antes).

Em entrevista na manhã desta segunda-feira à Rádio Fonte da Comunicação, de Goiás, o presidente revelou mais uma vez o que mais o atormenta neste momento, a uma semana das grandes manifestações de caráter golpista que armou para mostrar apoio ao seu governo no 7 de setembro, quando se comemora o Dia da Independência.

Referindo-se aos ministros do STF, perguntou:

"O que eles querem? Aguardar o momento de me aplicar uma sanção restritiva, quem sabe quando deixar o governo lá na frente?".

No sábado, em encontro com evangélicos, o valente capitão já tinha dito que se vê no futuro "morto, preso ou vitorioso", mas, logo em seguida, acrescentou que preso não será porque não há homem na face da terra capaz de executar esta ordem.

Soou como mais um desafio os ministros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral onde é investigado por participação em atos antidemocráticos, abuso do poder econômico na campanha de 2018 e pela divulgação de fake news, entre outras acusações.

Mas, hoje, diante do receio de esticar demais a corda e ser obrigado a prestar contas à Justiça, Bolsonaro resolveu fazer papel de vítima do STF e dos governadores _ estes, acusados de provocar a inflação da gasolina e da conta de luz. Segundo ele, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado pelos estados é muito alto, o que não é verdade, porque as alíquotas são as mesmas há anos.

A responsabilidade por nada do que acontece nunca é dele, a culpa é sempre dos outros. Agora, em vez de permanecer sempre no ataque, quer se fazer passar por mártir da "ditadura" do STF.

"A nossa liberdade está sendo ameaçada novamente por parte de um ou dois aqui de Brasília. Isso não é uma ditadura? Agora, a grande pauta vai ser a liberdade de expressão".

Está tudo do avesso do avesso do avesso, como diria Caetano. A liberdade de expressão era uma bandeira das oposições no tempo em que a ditadura militar instaurou a censura prévia na imprensa e prendia jornalistas contrários ao regime.

É como se um filme em preto e branco estivesse passando ao contrário, invertendo os papéis dos personagens.

Perdido em seu labirinto de conspirações, no ataque ou na defesa, o fato é que Bolsonaro mais uma vez paralisou o país.

Tudo agora foi adiado para "depois do dia 7" porque ninguém sabe o que pode acontecer. Esse é o método na loucura: criar sempre o medo, a confusão, a insegurança.

Até o covarde manifesto dos grandes empresários e banqueiros em defesa da democracia e da harmonia entre os poderes, sem sequer citar o nome do presidente, foi adiado após um apelo de Arthur Lira, o aliado presidente da Câmara, ao ainda presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o criador dos patos amarelos nos tempos de Dilma.

Esta semana, além do manifesto, deveria ser apresentado o Orçamento para 2022; o Senado deveria fazer a sabatina de André Mendonça, o evangélico indicado para o STF; o Senado deveria concluir o julgamento do marco temporal das terras indígenas e o Ministério de Minas e Energia anunciar o seu plano do racionamento, mas nada disso deve acontecer.

Para tornar o cenário mais nebuloso e incerto, no final da tarde o juiz Randolfe Ferraz de Campos, da 14ª Vara de Fazenda Pública, concedeu aos organizadores da Campanha Fora Bolsonaro em São Paulo fazer a sua manifestação no mesmo dia, no Vale do Anhangabaú, separado por apenas 3 quilômetros da avenida Paulista, o palco do ato pró-Bolsonaro.

"Ninguém tem poder para vetar reuniões", decidiu o juiz, desautorizando a ordem do governador paulista João Doria, que havia proibido qualquer manifestação contra Bolsonaro em todo o estado de São Paulo no dia 7 de setembro. E mandou o governo do estado garantir segurança a todos os manifestantes dos dois lados nesse dia.

Convidado para conversar com os alunos do primeiro ano de jornalismo da Unesp de Bauru, no dia 22, sobre "Gêneros Jornalísticos", respondi que, em princípio, tudo bem, gosto desses papos, mas como tudo é imprevisível neste país em que vivemos, pedi para confirmar dias antes.

Vida que segue.