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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Chegou a hora de encerrar a CPI, entregar o relatório e abrir processos

Colunista do UOL

22/09/2021 20h05

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Logo na abertura da sessão de hoje, o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, informou que seu relatório final já está pronto para se apresentado.

Então, o que ainda estão esperando? Vão ficar colhendo novos depoimentos até quando? O mais importante deixaram de ser os intermináveis interrogatórios de testemunhas ou investigados, mas são as robustas provas documentais já encontradas.

Sempre restará uma ponta solta, um novo escândalo a ser desvendado, com o surgimento de novos personagens. O que já foi apurado, no entanto, sobre os desmandos e desmazelos da gestão no combate à pandemia, já é mais do que suficiente para fechar o relatório.

CPI tem hora certa para começar e hora certa acabar. Caso contrário, acaba perdendo o timing para gerar resultados concretos, ou seja, a abertura de processos cíveis e criminais contra os investigados que, por ação ou omissão, em diferentes níveis de governo e na iniciativa privada, foram responsáveis por esta grande tragédia brasileira, que já deixou quase 600 mil vítimas pelo caminho.

De que adianta ouvir pela terceira vez o ministro Marcelo Queiroga, um Pazuello sem farda, que está se desmoralizando como médico, ao cumprir as ordens do chefe e mandar todo mundo praquele lugar?

O que ele vai poder acrescentar a tudo que já foi dito ou não dito? Vai confessar os crimes dos quais ele também é cúmplice, ao mandar suspender a vacinação de adolescentes, sem nenhuma razão científica, e deixar de cumprir o Plano Nacional de Imunização, com a recorrente falta de doses nos postos?

Ainda mais agora, que está com covid e terá de ficar de quarentena durante 14 dias num hospital de luxo em Nova York, vejam que chique, está na hora de dispensar seu depoimento.

Nas últimas semanas, com os habeas corpus concedidos pelo STF, as sessões têm-se arrastado numa sucessão de negativas _ "invoco meu direito de ficar em silêncio, não me lembro, isso não é comigo" _ como se qualquer pergunta pudesse incriminá-los, o que não deixa de ser uma confissão de culpa.

Esse vazio de fatos novos que possam alterar o resultado final vem abrindo espaço para longos discursos dos senadores, alguns deles pré-candidatos a alguma coisa, que ficam de olho na transmissão ao vivo da TV Senado, e repetem todo dia as mesmas ladainhas, como se estivessem na Escolinha do Professor Raimundo, cada um cumprindo seu papel, a favor ou contra o governo.

Fico impressionado com a paciência do presidente da CPI, Omar Aziz, um sujeito bonachão, e do aplicado relator Calheiros, que garantem a palavra para todos, mesmo os que não têm nada a dizer, mas a toda hora interrompem as falas dos outros.

Tem os que até já inventaram um bordão _ "vai vendo, Brasil!" _ como certo senador de Rondônia chamado Marcos Roberto, com a sua impostação de voz de locutor de quermesse, ou aquele gaúcho de nome Heinze, um tipo folclórico que até hoje só vai lá para defender a cloroquina, citando estudos científicos e um desconhecido "cientista indicado ao Premio Nobel".

No começo, esses personagens tinham lá a sua graça, mas acabaram cansando a beleza da plateia desta peça político-jurídica, que já está há cinco meses em cartaz.

A CPI já fez um belo trabalho, mostrou o modus operandi dos gestores que deveriam zelar pela nossa saúde, mas preferiram lotar cemitérios em nome da imunidade de rebanho, revelou o que queriam esconder sobre a compra de vacinas e montou um generoso acervo das indignidades e falcatruas cometidas ao longo da pandemia, que ainda não acabou.

Para o bem da própria CPI, defendo que é preciso dar por findos os trabalhos de investigação e entregar todo o material para o Ministério Público Federal, a Procuradoria-Geral da República e o Congresso Nacional, a quem cabe tomar as devidas providências.

Vida que segue.