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OPINIÃO

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Na reta final, CPI cai na armadilha da trupe bolsonarista de Luciano Hang

Colunista do UOL

29/09/2021 17h17Atualizada em 29/09/2021 20h07

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Cercado pela tropa de choque governista e uma equipe de advogados, de verde e amarelo da cabeça aos pés, o empresário bolsonarista Luciano Hang já chegou ao Senado acenando para os fãs e batendo palmas para ele mesmo, posando de ídolo do rock, e não como um investigado na CPI da Pandemia.

Não era preciso ser nenhum cientista político para prever que aquilo não acabaria bem e nada de importante acrescentaria ao que já foi apurado em cinco meses de investigações. Até o sumido senador Flávio Bolsonaro, suplente da comissão, reapareceu para tumultuar a sessão com constantes interrupções ao relator Renan Calheiros.

Após a entrada triunfal, logo na abertura dos trabalhos o depoente exibiu um filme de propaganda das suas empresas, que irritou os senadores e deu início a um bate boca que não acabou mais, com todo mundo falando ao mesmo tempo, lembrando os piores momentos do programa do Ratinho e das mesas redondas de futebol. .

Depois de uma breve interrupção para acalmar os ânimos, com o presidente Omar Aziz, habitualmente muito bonachão, bastante irritado e falando muito, o assunto girou em torno da morte da mãe do empresário, que morreu de covid, no hospital da Prevent Senior.

Foi uma discussão deprimente, que durou quase horas e só serviu para mostrar que os senadores perderam o momento certo de encerrar a CPI e apresentar os resultados, com os nomes dos responsáveis, nos setores públicos e privados, pela crise sanitária que já deixou quase 600 mil mortos.

Luciano Hang, um personagem caricato e megalomaníaco, chegou a mandar abraços e beijinhos para os fãs das suas redes sociais, entre eles, a ex-secretária da Cultura Regina Duarte, e transformou a sessão da CPI num comício, com picadeiro cheio de guarda-costas, fazendo propaganda das suas lojas e do tratamento precoce com cloroquina, como já era de se esperar.

Os vídeos exibidos por Renan Calheiros, em que ele faz propaganda para Bolsonaro e ameaça demissões se a "esquerda dos comunistas" ganhasse as eleições, em 2018, colocaram o depoente no ridículo, entrando a toda hora em contradições. Mas isso não muda em nada no que já tinha sido apurado até agora. Hang nunca negou sua devoção a Bolsonaro e o apoio à política negacionista.

Também, como era óbvio, o empresário negou qualquer relação com a indústria de fake news, desde a campanha de 2018, que está sendo investigada pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Folclore à parte, os acervos da CPI vão guardar para os historiadores do futuro imagens e documentos de um país degradado, políticos sabujos, empresários picaretas, e tudo o que tem de pior na sociedade brasileira.

Aos poucos, Luciano Hang foi murchando, até sair da CPI como vítima de uma perseguição, apenas por suas opções políticas, e não pelos crimes que cometeu contra a saúde pública.

Foi tudo uma grande perda de tempo.

Vida que segue.