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OPINIÃO

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Crime continuado: Bolsonaro faz inauguração fake e volta a atacar vacinas

Com chapéu de couro,Jair Bolsonaro toca sanfona em Sertânia, Pernambuco, durante viagem anterior, em fevereiro: a campanha não para - Alan Santos/Presidência da República
Com chapéu de couro,Jair Bolsonaro toca sanfona em Sertânia, Pernambuco, durante viagem anterior, em fevereiro: a campanha não para Imagem: Alan Santos/Presidência da República

Colunista do UOL

21/10/2021 15h16

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No dia seguinte à divulgação do relatório final da CPI da Covid, em que é acusado de praticar crimes em série contra a população durante a pandemia, Bolsonaro continua o mesmo: produz fake news para suas redes sociais, voltando a atacar as vacinas e a defender a cloroquina: "Não tomei a vacina e quem quiser seguir o meu exemplo, que siga", disse em mais um giro pelo Nordeste.

Pela segunda vez este ano, o presidente levou sua comitiva da campanha eleitoral para a pequena Sertânia, no agreste pernambucano, desta vez para "inaugurar" um sistema de abastecimento de água que um dia, não se sabe quando, deve beneficiar 2 milhões de pessoas em 68 cidades da região.

A douta assessoria palaciana só esqueceu de avisar o capitão de um pequeno detalhe: a rede ainda não tem água para oferecer porque, para entrar em funcionamento, depende da conclusão das obras da Adutora do Agreste, que não foram entregues a tempo.

Em abril, o próprio Bolsonaro tinha vetado o envio de R$ 161 milhões para a conclusão das obras, segundo o governador de Pernambuco, Paulo Câmara.

Seria mais ou menos como inaugurar uma usina hidrelétrica sem água no reservatório para mover as turbinas.

Antes da inauguração da inauguração fake em Pernambuco, o presidente sub-judice foi até São José de Piranhas, na Paraíba, onde entregou outra obra hídrica do projeto Jornada das Águas, e subiu no palanque para repetir o mesmo discurso de sempre: atacar o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros, e os governadores, por preferirem oferecer vacinas em lugar da cloroquina, que ele continua recomendando.

"Eu também fui acometido pela covid, tomei hidroxicloroquina. No dia seguinte, estava bom. Ainda continua em interrogação o tratamento", disse o presidente, que ainda não se vacinou. Temos governadores e prefeitos exigindo passaporte vacinal. O nosso ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mesmo vacinado com a segunda dose, contraiu a covid. É uma grande interrogação a covid-19".

Sobre as acusações que lhe foram feitas na véspera pela CPI da Covid, o capitão se limitou a falar do relator Renan Calheiros.

"Não chamem o Renan de vagabundo, não. Vagabundo é elogio para ele. Não há maracutaia lá por Brasília que não tenha o nome do Renan envolvido".

Tudo agora é uma interrogação para Bolsonaro, que continua em sua campanha contra a ciência, plantando dúvidas e incertezas sobre a vacina na população, um dos nove crimes de que é acusado, além de disseminar fake news.

Trata-se de um caso típico do que os juristas classificam de "crime continuado", quando o investigado segue praticando os mesmos delitos de que é acusado.

Na semana em que Brasília e o mercado estão de pernas para o ar com o anúncio do novo Bolsa Família, que bem poderia ser chamado de Bolsa Voto, Bolsonaro continua subindo e descendo de aviões e helicópteros, em viagens pelo país, para recuperar a popularidade perdida.

Enquanto o mago Paulo Guedes pede "licença para gastar" e quer dar um chapéu no venerado teto de gastos, o presidente segue em sua campanha antecipada pela reeleição, oferecendo um auxílio de R$ 400 a famílias carentes até a eleição, sem querer saber de onde virá o dinheiro. Se a Bolsa cai e o dólar sobe, fazendo disparar a inflação, não é problema dele.

É a chamada tempestade perfeita: a pandemia ainda não acabou, porque o governo demorou a comprar vacinas, e a economia virou um pandemônio, mas nada faz Bolsonaro mudar de ideia.

Vida que segue.