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Balaio do Kotscho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Se não dá para interditá-lo, é preciso proibir Bolsonaro de sair do país

Policial que agrediu jornalistas em Roma: no final da reunião do G20, tumulto em frente à embaixada brasileira - Reprodução
Policial que agrediu jornalistas em Roma: no final da reunião do G20, tumulto em frente à embaixada brasileira Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

02/11/2021 18h56

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"Se um jornalista leva um soco no estômago porque fez uma pergunta óbvia, imagina o que os seguranças do presidente fariam com uma pessoa que o esfaqueasse! Ainda bem que nunca passamos por isso."

(Maria Cristina Galvão, no Twitter).

***

Chega de passar vergonha!

Se as instituições em funcionamento não são capazes de encontrar uma forma constitucional de interditar o presidente Jair Bolsonaro, por mil e um motivos, e impedir o prosseguimento desta tragédia sem fim, que pelo menos o impeçam de sair do país até o final do seu mandato.

Já não basta a humilhação a que somos submetidos todos os dias. Agora passamos também vergonha nos fóruns internacionais, onde o capitão parece um penetra inconveniente, sem o menor respeito pelo país que representa, andando perdido pelos cantos dos salões, conversando com garçons e promovendo arruaças contra jornalistas em serviço.

Nestes cinco dias de sua turnê turística pela Itália, que terminou hoje, com um saldo de vexames, ausências e grosserias, sem saber o que estava fazendo entre as principais lideranças mundiais, o capitão deu apenas mais uma demonstração de sua rotunda ignorância, em qualquer assunto discutido na reunião do G20, em Roma, e na Cúpula do Clima da COP26, em Glasgow, o motivo oficial da sua viagem. O que ele teria a dizer e mostrar ao mundo?

Depois de pisar no pé da chanceler alemã Angela Merkel, e achar muita graça disso, o presidente trapalhão confundiu John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para as mudanças climáticas, com o ator Jim Carrey, astro de filmes de sucesso como "Debi e Loide". Freud explica a confusão mental.

Por onde passou, Bolsonaro causou tumulto, mal-estar e vergonha alheia, o que levou o Itamaraty a soltar uma nota hoje para se eximir de qualquer responsabilidade pelas covardes agressões contra jornalistas brasileiros, em frente à nossa embaixada, no domingo, ao final da reunião do G20, quando o presidente se desgarrou do grupo de líderes que foram posar para uma foto conjunta na Fontana di Trevi, para fazer mais um passeio pelo comércio, acompanhado de seus devotos enrolados em bandeiras nacionais e cantando o nosso hino.

"A Embaixada do Brasil na Itália condena quaisquer atos de violência praticados contra profissionais da imprensa no exercício de suas funções e esclarece que não contrata seguranças para atuação externa às suas instalações", diz a nota.

Então, só podem ter sido os seguranças da própria comitiva presidencial, comandados pelo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno. Havia também policiais italianos na escolta do presidente, mas só se saberá quem foram os autores do soco no estômago de um produtor da Globo e do arremesso à distância do celular arrancado das mãos do jornalista Jamil Chade, do UOL, quando terminarem as investigações sobre o boletim de ocorrência lavrado numa delegacia de Roma.

Este é o mais visível resultado concreto da excursão sentimental de Bolsonaro, que provocou confusões também na pacata cidadezinha de Anguillara Veneta, no norte do país, terra dos seus antepassados; na vizinha Pádua, onde o prefeito e o bispo se recusaram a receber o presidente brasileiro, e em Pistoia, cidade em que foi erguido o monumento aos pracinhas que lutaram na Segunda Guerra Mundial.

Lá, o capitão foi recebido com honras pelo senador Matteo Salvini, símbolo da ultradireita italiana. Do lado de fora, manifestantes contra e a favor de Bolsonaro promoveram mais um confronto, com a polícia no meio.

Na ultima hora, tiveram que trocar o celebrante da missa porque o pároco local se recusou a rezar na presença do presidente brasileiro. Quem também não gostou da presença de Sua Excelência foi Mario Pereira, filho de um pracinha morto, que por décadas é o guardião do monumento.

"O soldado desconhecido que fica ali no monumento vai se revoltar; meu pai, um pracinha que está no cemitério ali ao lado, vai se revoltar muito, se revirar na tumba. Infelizmente, temos a ideologia contrária vindo homenagear quem combateu e derrotou o nazifascismo", explicou Pereira à BBC News Brasil.

Com essas lembranças, Bolsonaro está voando neste momento de volta para o Brasil, onde deverá chegar às 22h45 desta terça-feira. Vamos ver o que ele terá a dizer sobre a viagem aos devotos do "cercadinho" do Alvorada, antes de retomar suas funções no Palácio do Planalto.

O Brasil ganharia muito se o capitão fosse proibido de viajar para fora do país, ainda mais com os amáveis seguranças do general Augusto Heleno.

Aos colegas jornalistas brasileiros, minha solidariedade.

Vida que segue.