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OPINIÃO

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Se Moro desistir, não fará diferença na eleição, mostra pesquisa XP/Ipespe

Colunista do UOL

27/01/2022 12h50

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Não vai ter chance de terceira via nestas eleições: esta é a única novidade da pesquisa Ipespe contratada pela financeira XP divulgada nesta quinta-feira, que só traz más notícias para o ex-juiz Sergio Moro, empacado em terceiro lugar com 8%, junto com Ciro Gomes.

Pela segunda rodada seguida, o instituto fez duas simulações, com e sem Moro na lista, que mostram os mesmos resultados. Ou seja, se Moro desistir da disputa, como já se comenta no mercado financeiro, não vai fazer a menor diferença, pois Lula mantém exatamente a mesma pontuação (44%, 20 pontos à frente de Bolsonaro).

Sem seu ex-ministro Moro na lista, Bolsonaro ganha apenas dois pontos, e Lula venceria de qualquer jeito já no primeiro turno, com os mesmos 44%, uma vez que os adversários somados ficariam com 43%. Todas as pesquisas de institutos respeitados divulgadas este ano apresentaram números e cenários semelhantes.

Ainda esta semana, a pedido do candidato, a XP mostrou a ele todas as últimas pesquisas do Ipespe nos mínimos detalhes (menos esta última). Soube que o imortal Merval Pereira, o grande arauto da terceira via, até deixou crescer a barba.

Esse cenário está tão consolidado, que já bateu o desespero nos colunistas da terceira via lavajatista. Agora, eles jogam suas últimas esperanças no crescimento de Simone Tebet, do PMDB, coitada, que aparece com 1% na pesquisa, abaixo de João Doria (PSDB), que se mantém na faixa de 2%.

Se houver segundo turno, Lula venceria todos os adversários por larga margem, e Bolsonaro perderia em todos os cenários.

Contra Bolsonaro, o que seria o mais provável, Lula alargou sua vantagem para 24 pontos (54% a 30%), uma diferença por ele jamais alcançada nas eleições anteriores.

Por isso mesmo, o ex-presidente continua buscando alianças mais ao centro, não para ganhar a eleição já no primeiro turno, mas para poder governar um país em escombros, que precisa ser reconstruído a partir do zero.

Como Elio Gaspari escreveu esta semana na Folha, mais do que uma aliança, Lula procura criar um movimento de reconstrução nacional, a exemplo do que fez Tancredo Neves, em 1985, primeiro presidente civil eleito no Colégio Eleitoral, nos estertores da ditadura militar.

Aos que não querem a volta de Lula de jeito nenhum, eu apenas pergunto: em que período você viveu melhor? Nos três anos de desgoverno Bolsonaro ou nos oito anos dos governos de Lula?

Ah, mas no tempo dele não teve pandemia, costumam responder. Sim, é verdade. Mas a pandemia no Brasil só virou essa grande tragédia sanitária, humanitária e econômica exatamente porque não temos governo, ou melhor, temos um desgoverno e um Ministério da Saúde que até hoje boicotam vacinas e receitam cloroquina, deixando no caminho 624.507 mortos e 24.583.950 contaminados _ e esses números voltaram a subir nas últimas semanas.

Por isso, o atual presidente se tornou o maior cabo eleitoral de Lula, ao colocar no Ministério da Saúde um médico ainda mais sabujo, incompetente e irresponsável do que o general Pazuello, de triste memória.

E não adianta tirar o doutor Queirodes, se deixar o chefe dele, o capitão cloroquina, que é quem manda de fato no ministério, qualquer que seja o ministro. Que médico que respeita sua profissão e sua biografia aceitaria hoje ser ministro da Saúde do governo Bolsonaro?

Em tempo: Não deixem de ler o artigo "Crimes contra a saúde pública", publicado hoje na Folha, em que o meu amigo médico Drauzio Varela, o grande cancerologista, faz uma verdadeira autopsia deste governo da morte no (não) combate à pandemia.

Sem meias palavras, Drauzio começa dizendo que "A Justiça precisa punir os criminosos que atentam contra a saúde pública. Se continuar de braços cruzados, tem que explicar para a sociedade por que razão não o faz". E conclui: "A Justiça não tem o direito de se omitir, precisa deixar claro para as próximas gerações que crimes contra a saúde pública devem ser punidos com rigor em nosso país".

Se a Justiça realmente funcionasse em nosso país, criminosos confessos como Bolsonaro, Pazuello e Queiroga já teriam sido presos, mas eles continuam impunemente ameaçando a vida dos brasileiros e rindo de nós, os "maricas".

Impossível analisar a campanha eleitoral sem olhar para esse pano de fundo da pandemia fora de controle, que voltou a superlotar as UTIs dos hospitais e a colocar em risco a vida das nossas crianças.

Qualquer candidato ligado ao bolsonarismo no passado, ainda que hoje seja dissidente, não terá a menor chance. São todos cartas fora do baralho. E quem dá as cartas são os eleitores massacrados pelo desemprego, pela fome, pela incúria desse desgoverno, que só pensa na cada vez mais improvável reeleição. Este ano, até agora, Bolsonaro até desistiu de fazer viagens de campanha eleitoral. Por que será?

Não está fácil para ninguém, e não precisava ser assim.

Que este ano acabe logo para que a vida possa recomeçar.

Vida que segue.