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Pastor Milton Ribeiro comanda um projeto para destruir a educação pública
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"Eu dirijo a nação para o lado que os senhores desejarem".
(Presidente Jair Bolsonaro, em discurso para líderes religiosos, no Palácio da Alvorada, no dia 8 de março de 2022).
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Os senhores, no caso, eram 24 pastores, de diversas igrejas e denominações evangélicas, que durante duas horas fizeram orações e discursos em apoio à reeleição do presidente. Bolsonaro até chorou.
Por isso, ninguém deve se espantar com o escândalo que estourou esta semana no Ministério da Educação, onde pastores sem vínculo com o governo indicados por Milton Ribeiro a mando de Bolsonaro distribuem verbas públicas a igrejas para os mais diversos fins.
Engana-se, porém, quem pensa que o ministro, também pastor, faz e fala tantas barbaridades por meros equívocos ou falta de qualificação para o cargo.
Quarto ministro da Educação indicado por Bolsonaro em três anos, Ribeiro comanda um projeto implantado desde o primeiro dia de governo para detonar a educação pública.
De nada adianta trocar mais uma vez o ministro, como querem os partidos de oposição, porque esse projeto é do capitão e seus generais, que só veem nas universidades um antro de "comunistas" que ameaçam a paz da família cristã e a segurança nacional.
Escolheram a pessoa certa para substituir o inesquecível Abraham Weintraub, aquele que queria prender os ministros do Supremo Tribunal Federal e falou que as universidades só servem para "fabricar drogas e cultivar maconha" numa verdadeira "balbúrdia".
Ao completar um ano no cargo, o teólogo Milton Ribeiro já tinha dito que "há crianças com deficiência de impossível convivência nas escolas" e que as universidades deveriam mesmo "ser para poucos".
Em seu discurso de posse, em, julho de 2020, ele prometeu respeitar o "Estado laico" e manter "grande diálogo com acadêmicos e educadores". De lá para cá, o que ele mais fez foi colocar o MEC a serviço dos interesses de bispos e pastores alinhados com o governo e desrespeitar acadêmicos e educadores.
"Ele arrumou um jeito de aparecer na imprensa falando absurdos", constata Gabriel Corrêa, gerente de políticas educacionais do movimento "Todos pela Educação", do qual sou um dos fundadores, em entrevista a Luiza Tenente, do G1.
"É um ministério cuja gestão está perdida em pautas menores, em vez de utilizar seu corpo técnico de qualidade em prol do apoio aos estados e municípios na pandemia. Ribeiro está reacendendo pautas ideológicas para ganhar apoio da militância bolsonarista e garantir que ficará no cargo".
"A universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade", afirmou o ministro em entrevista à TV Brasil. No mesmo dia, em 9 de agosto do ano passado, teve a coragem de dizer que quando "um aluno com deficiência é incluído em salas de aula comuns, ele não aprende e ainda atrapalha a aprendizagem dos colegas".
Ao Estadão, ele declarou que a "população trans, atuante na rede de ensino, não pode incentivar os alunos a andarem por esse caminho. Tenho certas reservas".
As mesmas "reservas" ele não teve ao criticar edições anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em entrevista à CNN Brasil", quando expressou a vontade de ter acesso prévio ao conteúdo das provas para evitar o que chama de "questões de cunho ideológico. Não queremos isso. Queremos provas técnicas".
Depois, diante das críticas, voltou atrás e desmentiu a si mesmo, garantindo que "de maneira alguma eu terei acesso às questões do Enem". Na véspera dos os exames deste ano, houve uma debandada de técnicos e professores do MEC, exatamente porque estava havendo intervenção superior no conteúdo das provas.
Para provar sua afinidade com o bolsonarismo, assegurou que se tratou com o "kit-Covid" do governo, com remédios comprovadamente ineficazes, quando contraiu a doença logo após a sua posse.
No Ministério da Educação, o pastor é uma réplica civil do general Eduardo Pazzuelo, aquele que levou uma tropa de militares para o Ministério da Saúde para combater a Covid-19 com cloroquina. Milton Ribeiro preferiu se cercar de pastores para cuidar da distribuição de verbas só para os amigos, seguindo a máxima do general: "Um manda e o outro obedece".
Ao entregar a estes bizarros personagens a Educação e a Saúde dos brasileiros, dois dos ministérios mais importantes dos governos em qualquer país civilizado, o capitão presidente deixou bem claro qual era o seu projeto: destruir o serviço público de qualidade para beneficiar as empresas privadas.
É com esta bandeira que agora ele quer ser reeleito. Pobre país.
Em tempo: alguém poderia avisar o procurador-geral da República, Augusto Aras, que no MEC está acontecendo uma privatização teológica do dinheiro público. Ele alega que ninguém o "acionou".
Vida que segue.
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