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OPINIÃO

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Emendas do relator e orçamento secreto explicam avanço do Centrão na Câmara

O presidente do PP, Ciro Nogueira, o presidente Jair Bolsonaro e o dono do PL, Valdemar Costa Neto: todo o poder para o Centrão  -  Agência Brasil .
O presidente do PP, Ciro Nogueira, o presidente Jair Bolsonaro e o dono do PL, Valdemar Costa Neto: todo o poder para o Centrão Imagem: Agência Brasil .

Colunista do UOL

05/04/2022 15h52

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Como explicar o vertiginoso crescimento da bancada do Partido Liberal, o PL de Bolsonaro, na Câmara, passando de 43 para 75 deputados? Serão os belos olhos de Valdemar Costa Neto, o dono do latifúndio? Que argumento$ ele terá usado para atrair tantos parlamentares patrióticos no troca-troca partidário?

Ciro Nogueira, o ministro dos ônibus escolares do MEC, também não pode reclamar. O seu Partido Progressista, que já foi de Paulo Maluf e Jair Bolsonaro, pulou de 42 para 56 deputados.

O Republicanos, terceiro partido da trinca bolsonarista, reduto de Marcos Pereira, partido ligado à Igreja Universal do bispo Edir Macedo, também cresceu: foi de 31 para 40 deputados.

Somados, eles já têm 171 deputados, suficientes para impedir que avance qualquer pedido de impeachment do presidente.

Os nomes dos partidos não querem dizer nada. O Partido Liberal nada tem de liberal, o Progressistas é o partido mais conservador do Congresso e o Republicanos nada tem de laico.

Sim, eu sei, esses partidos do Centrão sempre participaram de todos os governos pós-redemocratização, mas funcionavam como linhas auxiliares de apoio nas votações no Congresso.

Com Bolsonaro, o antigo baixo clero tornou-se a principal força política no parlamento brasileiro e aumentou seu poder de barganha, graças ao orçamento secreto, com as chamadas emendas de relator, que proporcionou o acesso às verbas do governo federal para ser distribuído livremente nos currais eleitorais, sem dar satisfações a ninguém. São bilhões e bilhões de reais, já nem se sabe ao certo quantos, um buraco sem fundo. Afinal, tudo continua secreto, apesar da ordem do STF para que sejam abertas as caixas-pretas.

O negócio era tão bom que até cinco deputados da oposição vindos de partidos de esquerda foram para o PL do mago Valdemar, como se estivessem trocando apenas de camisa.

Ouvido pela Folha, Jefferson Campos, ex-PSB/SP, partido que apoia Lula para presidente, justificou assim a sua troca de partido:

"O partido ficou muito à esquerda, a reboque do PT. Eu sou um deputado evangélico de direita (...) Então, estando já à direita, por que não ir logo para um partido de direita, ao invés de ficar brigando com o partido? É mais de acordo com as minhas ideologias, com aquilo que eu defendo nos meus sete mandatos parlamentares, é mais o que pensa o meu eleitorado".

Se a questão é ideológica, só não se entende o que ele estava fazendo até agora no Partido Socialista Brasileiro.

Outro parlamentar, Marlon Santos, do PDT/RS, o partido de Ciro Gomes, foi mais objetivo ao dar suas explicações:

"O que me fez ir para o PL é a gratidão com a bancada do PL e com o Valdemar Costa Neto, eles fizeram meu mandato prevalecer, ter valor. Se dependesse do PDT, não teria valor nenhum".

Não se sabe qual foi o valor envolvido nesta troca, mas o certo é que agora Marlon terá mais facilidade nas suas demandas de verbas e cargos junto ao governo.

Rosana Valle, que também era do PSB paulista, agora cotada para ser vice de Tarcísio de Freitas, candidato de Bolsonaro ao governo de São Paulo, revelou que "há tempos meus eleitores me cobram a saída do PSB pelos posicionamentos ao longo destes três anos e meio de mandato", sem explicitar quais eram suas divergências com o partido.

Claro que as eleições de outubro podem mudar este novo mapa partidário desenhado agora na Câmara, mas certamente este avanço do Centrão joga a favor da manutenção da aliança parlamentar-evangélica-ruralista-policial-militar, que é a base do bolsonarismo, já pensando na futura divisão dos fundos partidário e eleitoral a partir de 2023.

Com as atenções voltadas para os seguidos escândalos no Ministério da Educação, o imbroglio na Petrobras, a inflação galopante, os constantes desafios do presidente aos ministros do STF e do TSE e a volta das ameaças golpistas, os caciques do Centrão puderam passar alegremente o rodo na boiada parlamentar, sem que o país se desse conta das profundas mudanças operadas no sistema político-partidário após a temporada do troca-troca.

A conta irá mais uma vez para Paulo Guedes, o ex-superministro da Economia ainda em atividade, mas que já desistiu de falar em teto de gastos e equilíbrio fiscal, para se engajar com tudo na campanha pela reeleição do chefe, o único projeto do governo. O resto que se dane.

Vida que segue.