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OPINIÃO

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Liberdade para matar: a rotina da barbárie no país de Genivaldo e Bolsonaro

 Homem morre asfixiado em "câmara de gás" dentro de viatura da PRF, em Sergipe  -  O Antagonista
Homem morre asfixiado em "câmara de gás" dentro de viatura da PRF, em Sergipe Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

26/05/2022 13h42

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Torturado até a morte numa câmara de gás improvisada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no porta-malas de uma viatura, quarta-feira, em Umbaúba, no sul de Sergipe: esse foi o trágico fim de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, não por acaso um homem negro, mais uma vítima da barbárie instalada no país, em que o regime bolsonarista decretou liberdade para matar.

Um dia antes, agentes da PRF participaram da chacina em que 26 pessoas foram mortas no complexo da Penha, no Rio, durante uma operação para prender traficantes. Nenhum foi preso. Em 74 operações letais como essa, a polícia já matou 330 civis desde agosto do ano passado, como informa a Folha. Virou rotina.

Genivaldo não era traficante, era doente, nunca praticou crime algum. Há mais de 20 anos sofria de transtorno mental, como um sobrinho dele tentou explicar aos policiais enfurecidos, que o espancaram e amarraram, antes de matá-lo asfixiado com gás, trancado no compartimento de presos. Não é só o Haiti: Auschwitz agora também é aqui.

Ao ser abordado pela polícia, ele passeava de motocicleta pela BR-101 e foi logo colocando as mãos sobre a cabeça para ser revistado. Só encontraram cartelas de comprimidos para tratar a esquizofrenia. Sem entender por que estava sendo preso, Genivaldo reagiu e foi contido com spray de pimenta, jogado no chão e imobilizado. Testemunhas contam que um dos agentes chegou a colocar o joelho em seu pescoço.

Diante da repercussão do caso, que provocou protestos na estrada federal, a PRF soltou uma nota oficial, informando que foram "empregadas técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo para sua contenção". Só quem tem absoluta certeza da impunidade, com liberdade para matar, é capaz de tamanho cinismo. A nota só se esqueceu de informar que o homem já chegou morto ao hospital para onde foi levado. A "causa mortis", não declarada, é a mesma de sempre: violência policial.

Até o momento em que escrevo, o presidente Bolsonaro ainda não tinha cumprimentado os policiais pelo êxito da operação, como fez na véspera, após o massacre na Penha. Estava em campanha eleitoral viajando pelo interior de Minas Gerais.

Vida que segue.