Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Política de governo: o que Bolsonaro já disse sobre povos indígenas e Funai
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A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país (Jair Bolsonaro em pronunciamento na Câmara dos Deputados, em abril de 1998).
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Parabéns aos que elegeram este governo assassino. A grande mídia também tem culpa pelo que estamos passando agora. Que todos se sintam cúmplices pela destruição da Amazônia, pelos ataques aos povos originários, pelo avanço de criminosos do narcotráfico, pela invasão de terras indígenas, pelas queimadas e pela morte de Bruno, de Dom e das duas crianças yanomamis, mortas pela draga do garimpo ilegal.
(Bianca Moreira, Brasília, DF, no Painel do Leitor da Folha, em 17.6.2022).
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Nenhum brasileiro alfabetizado tem o direito de se surpreender com os últimos acontecimentos da tragédia amazônica que chocou o mundo esta semana.
Agora não adianta chorar. Desde os seus tempos de deputado no baixíssimo clero da Câmara, o capitão Jair Bolsonaro sempre deixou bem claro o que faria com os povos indígenas e as áreas demarcadas na Amazônia se um dia chegasse ao poder.
Garimpeiro frustrado, preso e processado pelo Exército por planejar atos terroristas antes de ser reformado como capitão, o presidente da República deu ao longo dos últimos anos inúmeras declarações estúpidas, logo naturalizadas, ameaçando a sobrevivência dos povos indígenas, das suas terras, rios e matas, e dos defensores da floresta, como Dom Phillips e Bruno Pereira.
Nada aconteceu por acaso. Sejam quais forem os mandantes desses crimes bárbaros numa região hoje dominada por narcotraficantes e bandidos em geral, com a total ausência do Estado brasileiro e a omissão das Forças Armadas, o principal responsável pela grande tragédia brasileira é o autor das frases que reproduzo abaixo, numa linha do tempo que só podia dar no que deu. Acompanhem:
22/04/2015 _ "Os índios não falam nossa língua, não tem dinheiro, não têm cultura. São povos nativos. Como eles conseguem ter 13% do território nacional?" (...) Reservas indígenas sufocam o agronegócio. No Brasil não se consegue diminuir um metro quadrado de terra indígena (...) Não tem terra indígena onde não tem mineiras. Ouro, estanho e magnésio estão nessas terras, especialmente na Amazônia, a área mais rica do mundo. Não entro nessa balela de defender terra para índio (Campo Grande News).
21/01/2016 _ "Vamos desmarcar a Raposa Serra do Sol. Vamos dar fuzil e armas a todos os fazendeiros" (em discurso no Congresso Nacional).
10/06/2016 _ "Essa política unilateral de demarcar a terra indígena por parte do Executivo vai deixar de existir, a reserva que eu puder diminuir o tamanho dela eu farei isso aí. É uma briga muito grande que você vai brigar com a ONU (Correio do Estado).
02/04/2017 - "Eu já briguei com o Jarbas Passarinho (ex-ministro da Justiça) aqui dentro. Briguei em um crime de lesa-pátria que ele cometeu ao demarcar a terra yanomami. Criminoso" (entrevista ao repórter Marcelo Godoy).
03/04/ 2017 _ "Pode ter a certeza de que se eu chegar lá (Presidência da República) não vai ter dinheiro para ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena ou para quilombola (Estadão).
01/08/2018 _ "Se eleito, eu vou dar uma foiçada na Funai, mas uma foiçada no pescoço. Não tem outro caminho. Não serve mais" (site Indigenistas Associados, do Espírito Santo).
08/02/2018 _ "Se eu assumir a Presidência do Brasil não terá mais um centímetro para terra indígena" (discurso em Dourados, Mato Grosso do Sul).
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Em resumo, Jair Bolsonaro declarou guerra à Amazônia e ao Brasil muito antes de virar presidente. No cargo, cumpriu suas promessas. Armou a população, liberou as terras indígenas para garimpo e pesca ilegais, patrocinou o "estouro da boiada" de Ricardo Salles e seus madeireiros, briga ainda no Supremo Tribunal Federal para manter o marco temporal, desmontou a Funai e o Ibama, e transformou a Amazônia numa terra de ninguém, uma terra sem lei em que impera a impunidade.
Como fez na pandemia, para a compra de vacinas, atrasou até onde pôde o início das operações de busca, após o desaparecimento de Dom e Bruno no dia 5 de junho. Na hora de anunciar a prisão dos executores do crime, as autoridades policiais e militares não reservaram nenhum lugar na mesa para um representante dos indígenas, que foram decisivos nas investigações para localizar os criminosos e os restos mortais do indigenista brasileiro e do jornalista inglês.
Depois de culpar as vítimas pelo que aconteceu, por se meter numa "aventura não recomendada", levou mais de 24 horas para prestar solidariedade às famílias deles, sem sequer citar seus nomes, e agora resolveu ir a Manaus neste sábado, cidade onde teve a coragem de marcar mais uma motociata da sua campanha eleitoral, enquanto a população ainda chora seus mortos.
É esse o presidente que agora quer ser reeleito na lei ou na marra, com o apoio de militares e milicianos, para completar o serviço e escapar da Justiça, que não tardará.
Vida que segue.
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