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OPINIÃO

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Guinada à esquerda deixa Bolsonaro cada vez mais isolado na América Latina

Gustavo Petro foi eleito presidente da Colômbia com 50,50% dos votos no segundo turno - EPA/CARLOS ORTEGA
Gustavo Petro foi eleito presidente da Colômbia com 50,50% dos votos no segundo turno Imagem: EPA/CARLOS ORTEGA

Colunista do UOL

20/06/2022 13h40

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Bolsonaro perdeu em todas as eleições disputadas nos últimos anos na América Latina.

A onda conservadora que o levou ao poder evaporou-se no ar e deu lugar a uma constante guinada à esquerda, que atingiu até a Colômbia, país que neste domingo elegeu Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda da sua história.

O próprio presidente brasileiro passou recibo na sua única manifestação até agora sobre as eleições colombianas.

Como informou Mônica Bergamo nesta segunda-feira, Bolsonaro enviou a um restrito grupo a reportagem da BBC News Brasil com o título "Ex-guerrilheiro vence eleição na Colômbia e será primeiro presidente de esquerda no país".

Abaixo da foto, ele escreveu: "Cuba... Venezuela... Argentina... Chile... Brasil ???"

Sim, o Brasil deve ser o próximo, segundo todas as pesquisas sobre as eleições presidenciais de 2022.

E Bolsonaro esqueceu de incluir na sua lista México, Bolívia, Peru, Honduras, países que hoje também são governados por partidos de esquerda.

Ou seja, o capitão ficou cada vez mais isolado na América Latina, agora também sem a proteção do seu ídolo Donald Trump, que corre o risco de ser processado nos Estados Unidos por ter conspirado contra a eleição de Joe Biden, promovendo a invasão do Capitólio.

Se Bolsonaro pensa em fazer o mesmo no Brasil caso perca as eleições, como já anda ameaçando, é bom tomar cuidado. A maré não está a seu favor, o vento virou.

Cercado por todos os lados, da Amazônia à Petrobras, com sua popularidade corroída pela inflação, a fome e o desemprego, Bolsonaro entra na fase decisiva da campanha eleitoral num cenário econômico que nunca lhe foi tão desfavorável, sem ter nenhuma marca positiva do seu governo para oferecer.

Restam-lhe apenas 100 dias para tentar impedir que o ex-presidente Lula decida as eleições já no primeiro turno.

Não há marqueteiro no mundo capaz de melhorar a sua imagem e torná-lo um candidato competitivo, depois dos trágicos acontecimentos na Amazônia, resultado de uma política de governo suicida e assassina, que está devastando a floresta entregue à sanha de predadores, provocando a morte de indígenas e indigenistas que a defendem, e ameaçando o equilíbrio ecológico do planeta.

A esta altura, cabe a pergunta: por que e para que, afinal, o capitão quer tanto ser reeleito, se foi incapaz até agora de apresentar um único projeto nacional para tirar o país do buraco?

Já não basta a destruição que promoveu em todas as áreas da vida nacional nestes três anos e meio de governo, que devolveram o país ao Mapa da Fome, transformando-o num pária na comunidade internacional?

Só pode ser para defender a própria pele, a de familiares e agregados, alvos de um sem número de processos na Justiça.

Para se safar, ele está disposto até a quebrar a Petrobras e rifá-la na bacia das almas, como se fosse possível baixar o preço do combustível no grito.

De 2018 para cá, o mundo mudou, a América Latina está mudando, só o capitão ainda não percebeu que fazer "arminha" com os dedos, acenar de novo com o "kit gay", o "perigo vermelho" e o "combate à corrupção", com o Centrão a tiracolo, já não assustam mais ninguém. Seu discurso e suas bandeiras estão com o prazo de validade vencido, envelheceram. O antipetismo deu lugar ao antibolsonarismo.

O tempo agora é outro, como mostraram as vitórias de Gabriel Boric, no Chile, e Gustavo Petro, na Colômbia, dois líderes da nova esquerda latino-americana mais preocupados com a justiça social e a defesa do meio ambiente, o combate à fome e à miséria, que também são as prioridades de Lula no Brasil, como foram no seu governo.

"Hoje é um dia de festa para o povo. Que tantos sofrimentos se apaziguem na alegria que hoje inunda o coração da pátria. Quanta gente que não pode nos acompanhar hoje, quanta gente que desapareceu nos caminhos da Colômbia", foram as primeiras palavras de Petro ao ser anunciado o resultado. Francia Márquez, a primeira mulher negra eleita vice-presidente, que foi empregada doméstica e se tornou uma líder ambientalista, agradeceu a "nossos ancestrais e todos os colombianos que deram a vida por este momento".

O mundo dá muitas voltas, ainda bem. Nada como um dia após o outro, com uma noite no meio.

Vida que segue.