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Está explicado o vexame do Alvorada: generais montaram o teatro do capitão
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Foi um vexame tão monumental o teatro diplomático montado no Alvorada nesta segunda-feira, que isso não poderia ter saído só da cabeça vazia de Bolsonaro, em sua cruzada desesperada contra as urnas eletrônicas para melar as eleições.
Esse roteiro Frankenstein preparado para desmoralizar a Justiça Eleitoral, que acabou desmoralizando de vez a imagem do Brasil no mundo inteiro, foi uma operação militar, meticulosamente planejada pelos generais bolsonaristas do Planalto, sob a supervisão do almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos, o chanceler de fato.
Embora fosse uma reunião do presidente da República com embaixadores, o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e o outrora respeitado Itamaraty ficaram completamente à margem da operação.
Por isso, tudo foi montado sob absoluto sigilo e, até agora, não se sabe nem quantos e quais diplomatas foram ao Alvorada ouvir as sandices assacadas pelo presidente contra a "conspiração pró-Lula" que estaria sendo armada pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral.
O Itamaraty não foi chamado nem para enviar os convites, que ficaram a cargo do cerimonial da Presidência da República. Por isso, não sabemos nem quais foram os critérios adotados para escolher os embaixadores convocados ou não para a reunião.
O grand-finale do grotesco espetáculo de viralatismo foi aquela cena do presidente parado por alguns segundos, sozinho no centro do tablado, olhando para o vazio, depois dos agradecimentos, sem saber o que deveria fazer diante da falta de aplausos. Seguiu-se um silêncio ensurdecedor.
Nenhum diplomata nacional ou estrangeiro foi ao seu encontro, como costuma acontecer nestes eventos. Nem mesmo um assessor qualquer se dignou a resgatar o presidente, que não sabia para onde se dirigir.
Sem a participação do Itamaraty, foi como entregar a organização de um baile de debutantes ao chefe do batalhão da guarda presidencial, que foi mais ou menos o que aconteceu.
Tudo ficou a cargo da guarda pretoriana formada pelos generais Braga Netto, pré-candidato a vice de Bolsonaro; Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência; Paulo Sergio Nogueira, ministro da Defesa, além do chefe da Ajudância-de-Ordens do presidente, tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, segundo informações apuradas pela CNN Brasil, que tinha uma equipe no Alvorada.
Para quem foi defenestrado do Exército por planejar atentados terroristas, o tenente reformado como capitão, aos 33 anos, não podia se queixar da vida. Afinal, como não se cansou de repetir aos embaixadores, ele é agora o comandante supremo das Forças Armadas, convocadas pelo presidente para a missão de fustigar a Justiça Eleitoral e levantar suspeitas sem fim sobre as urnas eletrônicas.
Pela fisionomia desenxabida do máximo mandatário ao deixar o palco, algo não deu certo nessa operação militar, pois ele se limitou a reprisar antigas acusações de fraudes nas urnas, lançadas sem provas numa live presidencial de julho do ano passado, que o Youtube já mandou tirar do ar, por conter informações falsas sobre o sistema eletrônico de votação, além de repetir aos diplomatas os habituais desaforos dirigidos todos os dias aos ministros do TSE.
Me deu a ligeira impressão de que Bolsonaro não pretende respeitar o resultado das urnas se o TSE não obedecer às ordens dos seus generais de pijama, transformados em tutores do processo eleitoral e mentores diplomáticos. Nem na época da ditadura os militares tiveram tanto poder.
Nem o capitão parece acreditar nos efeitos dos bilhões da PEC Eleitoral para mudar o cenário das pesquisas, a 10 semanas da abertura das urnas.
Vida que segue.
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