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OPINIÃO

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TSE deveria pedir atestado de antecedentes e sanidade mental aos candidatos

 O grande medo de Bolsonaro não é ser derrotado na urna eletrônica, mas o que pode vir depois de deixar o Planalto -  O Antagonista
O grande medo de Bolsonaro não é ser derrotado na urna eletrônica, mas o que pode vir depois de deixar o Planalto Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

21/07/2022 13h41

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Se as instituições estivessem funcionando, como se costuma dizer, Jair Bolsonaro já teria deixado de ser presidente da Republica faz muito tempo.

Na verdade, nem poderia ter sido candidato, diante da sua ficha corrida no Exército e no baixo clero da Câmara, onde cometeu crimes diversos que o inabilitariam a exercer cargos públicos, mas sempre ficaram impunes.

Para evitar que esse mal se repita nas próximas eleições, com ele ou outros candidatos do mesmo calibre e prontuário, só tem um jeito: o Tribunal Superior Eleitoral deveria pedir a todos, no ato de registro da candidatura, atestados de antecedentes criminais, de sanidade mental e idoneidade moral.

Depois que o estrago está feito, como estamos vendo agora, quando o presidente eleito esculachou o nosso país diante de uma plateia de diplomatas estrangeiros, no Palácio da Alvorada, de nada adianta fazer notas de repúdio, abaixo-assinados, programar atos de protesto contra os crimes de lesa-pátria, entrar com representações na Procuradoria-Geral da República do engavetador Augusto Aras ou pedidos de impeachment na Câmara do grande democrata Arthur Lira, que já arquivou mais de 150 impetrados contra Bolsonaro, sem dar maiores satisfações. .

Empresas privadas e órgãos públicos exigem uma série de exames, documentos escolares e atestados de ficha limpa, e até para tirar carteira de motorista é preciso passar pela "prova de vista" ou também fazer exame psicotécnico, conforme a categoria do motorista.

Nenhum jogador de futebol é contratado sem passar por uma bateria de exames com uma junta médica multidisciplinar, mas para ser candidato a presidente basta ter mais de 35 anos e ser brasileiro nato. Não se faz sequer uma prova para saber se o candidato sabe ler, escrever e interpretar textos.

Leva meses para a Petrobras aprovar a indicação de um novo conselheiro (dois acabaram de ser rejeitados), que precisa preencher um pacote de requisitos, mas a homologação de candidaturas pela Justiça Eleitoral é quase automática, mesmo quando há pendências na Justiça. A maioria dos eleitores acaba votando no escuro, sem maiores referências, como as que pedimos ao contratar um empregado, e depois ficam todos surpresos ao descobrir quem é de fato o seu novo presidente.

Prevenir, como sabemos, é sempre melhor do que remediar. Quando está em jogo o destino de uma nação, deveríamos fazer uma seleção mais rigorosa dos candidatos e tomar maiores cuidados ao escolher nossos representantes. Nós somos responsáveis, e muitas vezes vítimas, pelas escolhas que fazemos.

Por isso, são tão importantes os debates entre os candidatos para discutir programas de governo, mas a cada eleição eles têm sido cada vez em menor número, com os favoritos se abstendo de participar pelos mais variados motivos. Em último caso, apresentam um atestado médico para não ir, como vimos em 2018.

Será que alguém é capaz de lembrar qual foi o programa apresentado pelo candidato vencedor na última eleição, além de fazer "arminha" com os dedos e prometer uma "nova política", "liberal na economia" e "conservadora nos costumes"? O resultado é essa tragédia humanitária em que vivemos hoje e ainda corremos o risco de ver se repetir com o famigerado instituto da reeleição.

O melhor que poderia acontecer a Bolsonaro agora seria ter sua candidatura impugnada no TSE pelo conjunto da obra. Além de não ser derrotado na eleição, ainda poderia sair da história como "vítima" para manter mobilizados seus seguidores e tentar virar a mesa.

Será que não é exatamente isso que ele está procurando com essa campanha tabajara em que vive reclamando do trabalho de ser presidente?

O problema de Bolsonaro nunca foi a urna eletrônica, mas o medo do que pode acontecer depois que deixar o foro privilegiado no Palácio do Planalto, com os 101 processos a que responde na Justiça.

Com ele, tudo é possível acontecer, inclusive nada, retirando-se para um exílio dourado no Vivendas da Barra, e ir para a praia.

Vida que segue.

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