Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Manifesto já tem 500 mil assinaturas, mas ainda não se vê campanha nas ruas
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A dois meses da abertura das urnas, ainda não se vê sinais de campanha eleitoral nas ruas de São Paulo.
Não sei como está a campanha no resto do país porque não viajo mais, mas imagino que o cenário não seja muito diferente.
Ainda não vi nenhum carro com adesivo de candidatos, faixas e cavaletes de propaganda, bandeiras dos partidos, gente nas esquinas distribuindo panfletos e bonés.
Os únicos sinais visíveis nas ruas de que as eleições estão chegando são as toalhas de banho vendidas pelos camelôs, com a cara dos candidatos a presidente, uma novidade desta campanha, assim como as motociatas do presidente, agora em todas as cidades por onde passa.
No mais, a tal polarização se dá no silêncio das refregas de bolsonaristas e petistas nas telas das redes sociais, com vídeos e memes detonando os adversários.
A propaganda negativa ganha de goleada das mensagens com propostas dos candidatos sobre o que pretendem fazer do país nos próximos quatro anos.
O que estaria segurando as pessoas em casa? Desinteresse pela eleição até aqui, ou medo de vestir a camisa do seu candidato, empunhar uma bandeira e correr o risco de apanhar na rua ao cruzar com quem pensa diferente?
A crescente violência política registrada nesta campanha, simbolizada pela festa de aniversário com temática petista num clube em Foz do Iguaçu (PR), que foi abatida a bala por um fanático bolsonarista, já deixou as primeiras vítimas.
Com as restrições da legislação eleitoral, que ainda não permite comícios e pedidos explícitos de votos, as convenções partidárias foram todas feitas em ambientes fechados e controlados ou por vídeo conferência. A céu aberto, só me lembro de ter visto o comício do PT e aliados na Cinelândia, no Rio, onde um bolsonarista jogou uma bomba caseira com fezes, que não atingiu ninguém.
O principal fato político até agora não foi criado pelos partidos, candidatos ou marqueteiros, mas pela sociedade civil, que aderiu em massa à nova "Carta às Brasileiras e Brasileiros" em defesa da democracia e do sistema eleitoral, já com mais de 500 mil assinaturas até o momento em que escrevo.
Em outra frente, entidades empresariais como a Fiesp, a Febraban e a Fecomércio, centrais sindicais, artistas, juristas e movimentos sociais aderiram ao "Manifesto em Defesa da Democracia e do Estado de Direito".
Até o presidente, ao passar recebo em tom de deboche, acabou escrevendo a sua própria carta, de apenas 27 palavras no Twitter, para se declarar também um democrata.
"Ao difamar o processo eleitoral brasileiro para uma audiência composta de embaixadores estrangeiros, num claro ato de deslealdade institucional, Bolsonaro desencadeou a formação de um inesperado e amplo arco de forças na defesa do Estado democrático de Direito", destaca o professor Oscar Vilhena Vieira, em sua coluna de hoje na Folha, que vale a pena ser lida.
Com suas constantes ameaças golpistas, que podem ter ajudado a afastar o povo das ruas, por temor da violência, Bolsonaro acabou despertando e unindo a sociedade civil, que teve um papel fundamental na redemocratização do país, cinco décadas atrás _ agora, para impedir a volta de uma ditadura.
Havia um grito parado no ar, só esperando um chamado à mobilização para se manifestar, que partiu mais uma vez das arcadas da Faculdade de Direito da USP, no histórico Largo de São Francisco, que neste dia 11 de agosto, lembrando a fundação dos cursos jurídicos no país, vai promover uma grande manifestação em defesa das instituições democráticas. Assim o movimento pode sair do papel e das redes para as ruas.
"É um sentimento que a sociedade, de forma difusa, carregava no peito", diz o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Grupo Prerrogativas, que reúne diversas personalidades do mundo jurídico.
Vida que segue.
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